No
dia 30 de novembro de 1939, 78 anos atrás começou a guerra
soviético-finlandesa, também conhecida como Talvisota
ou Guerra de Inverno. Durante todo o outono de 1939 a União Soviética negociava
com Finlândia a cedência de uma parte do seu território, após receber uma
recusa firme criou uma organização terrorista “república popular da Finlândia”
e atacou o país militarmente.
Em
1917, após a desintegração do império russo, Finlândia se tornou um país
independente. A propaganda da União Soviética chamava as autoridades
finlandesas de “finlandeses brancos” e encarava o país como o seu território
perdido. O termo “finlandeses brancos”, assim como “polacos brancos” usava-se pela
propaganda soviética em alusão aos exércitos monárquicos russos, como
antagonistas das forças “vermelhas”, bolcheviques soviéticos. Na realidade as forças
monárquicas russas defendiam o império “uno e indivisível”, não reconhecendo as
independências da Polónia e Finlândia. Como tal, o termo claramente fazia parte
do esforço propagandista comunista de manipular a opinião pública soviética.
Na
década de 1930 a URSS importunava as autoridades da Finlândia com pedidos de “empurrar
a fronteira”, cedendo o território finlandês e permitir a criação das bases
militares soviéticas no país. União Soviética exigia a entrega da Linha de Mannerheim,
alegando o perigo (Sic!) desta linha puramente defensiva. A última ronda de
negociações decorreu em 3 de novembro de 1939 em Moscovo e acabou em nada,
Finlândia negou, categoricamente, comprometer a sua soberania.
Então,
já no dia 26 de novembro de 1939, na URSS começa a campanha propagandista
anti-finlandesa de grande envergadura. O jornal “Pravda” publica o artigo
“Palhaço no posto do primeiro-ministro”, os finlandeses são chamados apenas de
“finlandeses brancos”, “monárquicos não liquidados anteriormente”, inimigos da
União Soviética e da “humanidade progressista”.
No
dia 26 de novembro de 1939 ocorreu o Incidente de Mainila,
Exército Vermelho (RKKA) alvejou a aldeia soviética de Mainila (casus belli),
acusando as forças armadas finlandeses. A proposta da Finlândia em efetuar uma
investigação neutra foi rejeitada pela URSS que 4 dias depois atacou o país
militarmente. Na foto — os blindados soviéticos junto à Linha de Mannerheim:
02.
A propaganda soviética não evocava muito o Incidente de Mainila,
alias, quase não usava a palavra “guerra” — aos cidadãos soviéticos contaram
que URSS começou uma “grande marcha libertadora” à Finlândia, para ajudar aos
operários e camponeses finlandeses se libertar do jugo capitalista. Um dos exemplos
desta propaganda desenfreada foi a canção “Receba-nos, Suomi-bonitona” com as
seguintes frases-chave:
“Nós
viemos ajudá-los em represálias (Sic!),
Retribuir
à dobrar pela vergonha (Sic!)
***
Muitas
mentiras criadas nestes anos,
Para
confundir o povo finlandês.
Agora
abra-nos de forma crédula (Sic!)
Partes
largas dos [vossos] portões!”
Canção
menciona “o sol não alto de outono”, provavelmente a União Soviética planeava
atacar nos meados de outono e não no último dia de novembro. O exército finlandês
tinha apenas metade de efetivos da força de invasão soviética, mas era melhor
treinado, equipado e principalmente muito mais motivado:
03.
No dia 1 de dezembro de 1939 o jornal “Pravda” informa que na Finlândia foi
criada “república popular da Finlândia”, encabeçada pelo “governo do povo
finlandês”. Já no dia 2 de dezembro este mesmo “governo” foi convidado visitar Moscovo,
onde imediatamente assinou todos os acordos propostos por Moscovo, incluindo
“acordo de ajuda mútua e amizade” e concordou em entregar à URSS todos os
territórios exigidos.
Ou
seja, URSS criou uma “república” virtual com qual assinava todos os acordos no seu
próprio interesse. Ao mesmo tempo, URSS começou criar “exército popular finlandês”
que deveria “içar a bandeira vermelha em Helsínquia”. As autoridades soviéticas
difundiam os rumores que Finlândia irá capitular muito em breve, que o seu
governo “capitalista” irá fugir, se que ainda não fugiu [situação demasiadamente parecida com a criação das duas “repúblicas
populares”, ditas “dnr” e “lnr” e as suas promessas de “tomar Londres e Lviv,
Kyiv e Berlim”.]
Os
finlandeses, no entanto, estavam defender a sua pátria com bastante sucesso; na
foto — os operadores finlandeses de metralhadora na Linha de Mannerheim.
04.
As unidades finlandesas de infantaria de montanha eram as forças especiais
reais da época, destinadas às operações de reconhecimento e ataques pontuais.
05.
Diversos voluntários, finlandeses e estrangeiros [entre eles o ator britânico Christopher Lee], se
inscreviam no exército finlandês para defender Finlândia, muitos deles eram
bons atiradores, além de conhecer todas as trilhas da linha da frente. Na foto –
um autocarro/ônibus civil traz voluntários para a linha de frente, as pessoas
vestem camuflados e entram em esquis:
06.
Um veículo civil, adaptado pelos voluntários às necessidades militares. Para garantir
um movimento mais discreto nas condições da floresta de inverno, a viatura foi
pintada com tinta branca. Este tipo de viaturas transportavam os combatentes, alimentos
e roupas quentes.
07.
Dado que Finlândia e os finlandeses se defendiam de uma forma brava e eficiente,
a URSS decide “esquecer” por si criada “república popular”, desde 25 de janeiro
de 1940, a imprensa e governo soviético não mencionam mais a dita “rpf” e
reconhecem o governo finlandês de Helsínquia como o governo legítimo da
Finlândia.
Na
foto — militares finlandeses nas posições defensivas na floresta:
08.
Logística militar – os cidadãos finlandeses locais trazem provisões e roupas
quentes para apoiar o seu exército.
09.
As carroças usadas na logística militar:
10.
As “unidades-fantasma” finlandesas, que apareciam “do nada”:
11.
Em 30 de novembro de 1939, os aviões soviéticos sobrevoaram Helsínquia, espalhando
os folhetos de propaganda com o seguinte texto: “Vocês sabem que temos pão –
vocês não vão morrer de fome. A Rússia soviética não prejudicará o povo da
Finlândia. O governo está levando vocês à uma catástrofe”. No mesmo dia, os
aviões soviéticos voltaram, desta vez usando as bombas explosivas e
incendiárias.
12.
O centro de Helsínquia ardeu,
incendiado pelas bombas soviéticas incendiárias. Cerca de 50 bombas caíram na
rua Frederiksgatan, onde o enorme edifício do Instituto Tecnológico e vários prédios
de quatro e cinco andares foram completamente destruídos, os carros estavam ardendo.
13.
Os prédios ardidos da rua Frederiksgatan, os bombeiros desmantelam as ruínas
fumegantes:
14.
As pessoas se escondiam dos bombardeamentos soviéticos nas matas:
15.
Uma mãe finlandesa com o seu filho na floresta num dos subúrbios de Helsínquia. [No
decorrer da Guerra de Inverno, entre 30 de novembro de 1939 à 13 de março de
1940 a aviação soviética efetuou cerca de 2.075 bombardeamentos contra 516 cidades
e localidades finlandesas. Em resultado, morreram pelo menos 957 cidadãos
civis. A cidade de Viipuri, foi quase demolida, alvo de cerca de 12.000 bombas
soviéticas (fonte).
No total, a aviação soviética lançou 26.000 bombas e perdeu 348 aviões, destes,
296 fora do combate. Outros 87 aviões foram para a reparação (fonte)].
16.
As ruínas de Helsínquia. Falando com a imprensa internacional, o ministro soviético
dos negócios estrangeiros, Molotov, dizia que aviação soviética não atirava
bombas, mas apenas os folhetos, “cestos de pão” e outra ajuda humanitária.
17.
Até o fim de dezembro de 1939 foi claro, Blitzkrieg soviético falhou, RKKA não
consegue avançar mais e passa à guerra posicional. Finlandeses usam a tática de
guerrilha — atacam os soviéticos em pequenos grupos de esqiadores, depois
disso, desaparecem na floresta. O RKKA também estava péssimo em logística
miliar.
18.
Voluntário finlandês numa bicicleta:
19.
As fortificações finlandesas na Linha de Mannerheim, restos das fortificações
da “primeira geração” (construídos no início da década de 1920).
20.
O comissário político soviético despeja a propaganda comunista aos militares
soviéticos. Os capacetes soviéticos — são todos SSh-36, “halkingolka”. Este tipo de
capacetes era usado pelo RKKA na Finlândia e mesmo na II G.M., mas praticamente
nunca eram mostrados no cinema soviético, possivelmente pela semelhança como os
capacetes do Wehrmacht.
21.
Os militares finlandeses nas suas posições defensivas:
22.
Os soldados soviéticos mortos. Muitos deles, por sinal, não caíram na batalha,
mas morreram de hipotermia.
23.
Os prisioneiros soviéticos dos finlandeses, a estatística exata sobre o número dos soviéticos
que decidiram ficar na Finlândia é desconhecida até hoje.
24.
General Gustaf
Mannerheim (mais alto), responsável pela defesa da Finlândia.
Como
resultado do tratado de paz que pôs fim a esta guerra desnecessária, a URSS levou escassos territórios, tendo perdido 126,875–167,976 militares mortos
ou desaparecidos (15.921 morreram nos hospitais e 14.043 desapareceram); 188.671
feridos e congelados; 5.572 capturados; no total as suas baixas humanas são
avaliadas em 321,000-363,000 vítimas. Além disso, a URSS perdeu 1,200-3,543 blindados
e 261–515 aviões [fonte]
Foto @GettyImages | Texto: Maxim
Mirovich e [Ucrânia em África]
Blogueiro:
os elementos pró-soviéticos costumam argumentar que “finlandeses podiam evitar
as suas 70.000 baixas”, bastava, para isso, entregar os territórios
exigidos pela URSS. Os mesmos omitem o que a União Soviética fez aos
países Bálticos que efetivamente cederam ao ultimato soviético, permitindo a
criação das bases soviéticas no seu território, podem conferir aqui: Estónia
| Estónia;
Estados
Bálticos; museus
da ocupação soviética; Lituânia.
A casa do filósofo alemão Immanuel Kant na atual cidade russa de Kaliningrado (ex-Königsberg) Assim ficaria Finlândia se perdesse a Talvisota... |
3 comentários:
Khrushchev disse que a URSS perdeu mais de 1 milhão de soldados contra a Finlândia. Uma verdadeira humilhação. Talvez a maior da história! Um povo defendendo seu país com bicicletas enquanto o invasor tinha aviões e carros motorizados! A Finlândia é o maior exemplo de resistência da história. Pena que tinha uma população que oscilava entre 6 milhões de pessoas. Se tivesse uma população 10 vezes maior, a URSS teria perdido boa parte do território da Karelia e Murmansk.
A Rússia já sofreu variadas humilhações desde Afeganistão, Japão, Polônia até Finlândia.
A URSS somente assinou o armistício com a Finlândia, tendo em vista a posição britânica e francesa de intervir em favor de Helsinque. Aí a URSS teria que se alinhar descaradamente com a Alemanha Nazista, que tanto foi condenada durante a guerra civil espanhola.
E tudo mudou para todos os envolvidos, a partir de 22 de junho de 1941 ...
Enviar um comentário