segunda-feira, outubro 30, 2017

Como URSS destruía a cultura belarusa

foto @BELSAT.TV
80 anos atrás, na noite de 29 de outubro de 1937 na cadeia de NKVD em Minsk foram fuzilados mais de 100 representantes da elite intelectual da Belarus aqueles que criavam a cultura e, de facto, cunharam a identidade belarusa e o futuro do país – escritores, poetas, comissários de educação e justiça, reitor da universidade e muitos outros.
Dia da Memória das Vítimas das Repressões Políticas, Moscovo, 1991
Inscrição num dos cartazes: "Transformaremos grilhões em arados"
No dia 30 de outubro em Belarus é recordado solenemente o Dia da Memória das Vítimas da repressão política. No total, na década 1930 cerca de 90% da intelligentsia belarusa foi destruída em repressões comunistas. As repressões atingiram 90% dos escritores, 100% dos sacerdotes, 35% dos professores. Qual seria Belarus sem passar pelo estalinismo...?

Porque foram fuzilados os escritores e poetas?

Praticamente todos os fuzilados em 29 de outubro de 1937 foram acusados pela máquina repressiva soviética de pertencerem à União da Libertação da Belarus — poetas, escritores e cientistas presos, sob tortura, “confessavam” a sua alegada participação numa organização contra-revolucionária. Na verdade, o NKVD e as autoridades comunistas precisavam de um mero pretexto formal para se livrar da elite intelectual belarusa, como dizem hoje – de líderes de opinião. Como é sabido, as pessoas mudas, inconscientes e facilmente subordinadas, são mais fáceis de manipular e o papel dos símbolos culturais”, na decisão comunista, podia perfeitamente caber aos outros escritores, mais leais ao poder soviético, que com prazer contariam ao “povo” as histórias da dita “amizade dos povos.

Outro momento muito importante é o ambiente de intolerância extrema à qualquer opinião dissonante que foi criado na sociedade antes de começarem as prisões e os fuzilamentos. Têm razão os que dizem que não foi Estaline quem escreveu pessoalmente milhões de denúncias – muitas anónimas, eram várias vezes escritas por conhecidos, amigos e colegas do trabalho que queriam ocupar essa ou aquela posição à custa da morte ou da prisão de algum “inimigo do povo” (leia-se concorrente) mais talentoso, e por ventura, mais inconformista.


Em 1988, ainda sob o regime soviético, foi reconhecido publicamente que nunca existiu em Belarus nenhuma “União da Libertação da Belarus”, era uma organização virtual, completamente inventada pelo NKVD, destinada a justificar o massacre de dissidentes ou simplesmente dos “desviados do curso geral do partido” comunista.

Alguns nomes e fotos dos fuzilados:
Ales Dudar: poeta, crítico literário, tradutor, fuzilado em 1937
Valery Marakou: poeta, fuzilado em 1937
Mikhas Charot, escritor, fuzilado em 29/10/1937
Izi Kharik: poeta belaruso judaico
Platon Halavach, jornalista e poeta, fuzilado em 1937
Posfácio
Nas fotos: prisioneiros do GULAG soviético, década 1920
O estalinismo e o culto da personalidade do grande cientista” (que foi formalmente desmantelado em 1956), estão vivos ainda hoje. Os estalinistas atuais vivem fisicamente no século XXI, usando os computadores, usufruindo das fronteiras abertas e, por vezes, viajando pelo mundo. Mas mentalmente eles continuam a vestir a mesma farda da polícia política estalinista, permanecem com revólver em punho, nos escuros e húmidos porões de prisões de NKVD em Minsk, Kyiv e várias outras cidades da União Soviética, conhecida como a “cadeia dos povos”.
Faça click para ver o filme
Ler mais: The chekist: a maquina implacavel dos crimes comunistas

Foto @GettyImages | BELSAT.TV | Texto @Maxim Mirovich e @Ucrânia em África 

Sem comentários: