A
historiadora russa Elena Osokina
descreve no seu livro “Ouro
para a Industrialização. TORGSIN” (sem a tradução portuguesa), a maneira
como o Estado soviético da época estalinista usava o sistema da prostituição estatal, para ganhar as divisas.
O
camarada italiano Kohli, o marinheiro-comunista, escrevia em janeiro de 1933: “A
prostituição – em cada porto soviético. A casa oficial de prostitutas é Torgsin. O marinheiro
estrangeiro não paga em dinheiro, mas em géneros. Por um quilograma de açúcar,
que custa poucos copeques de ouro (de 8 a 20 copeque de ouro ou 0,16-0,40
dólares), o marinheiro passa uma noite com uma mulher. Outro dia eu fui ao Torgsin.
Havia prostitutas bêbadas, que dançavam sobre as mesas. A nossa administração
portuária fascista usa esses fatos para atacar o sistema soviético”.
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Supermercado do Torgsin em Moscovo, 1931 foto @Wikipédia |
Uma
descrição da casa de tolerância soviética na cidade de Kherson (sul da Ucrânia)
deixada pelos marinheiros gregos: “Primeiro você entra na loja, e depois – a porta
ao corredor. No corredor há portas aos quartos: de primeira classe – para as
oficiais, secundárias – para as tripulações. Pagamento de uma prostituta é
feito em açúcar. Por noite a prostituta ganha 15-20 rublos soviéticos” [cerca
de 2,54-3,38 dólares].
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Publicidade trilíngue (russo, inglês e alemão) de Torgsin, 1933 imagem @Wikipédia |
A
organização que mais alto protestou contra a prostituição estatal soviética foi
a União Internacional dos Marinheiros e Trabalhadores Portuários (1930-1937),
de inspiração trotskista. Por exemplo, o marinheiro-trotskista americano Jones
escrevia indignado: “Camaradas, eu acho que isso é ultrajante! Talvez o plano quinquenal
até mesmo necessita das divizas. Mas Torgsin não possui nenhum cartão postal
socialista!”
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Publicidade de Torgsin num jornal parisiense de língua russa "Ao vokante", ecrito em gramática "czarista", pré-1917 (!), 1933 imagem @Wikipédia |
A
prostituição estatal no bordéis portuários foi fechada no início de 1936 –
simultaneamente com o fim de Torgsin. No entanto, por mais 3 anos, persistiram
as práticas da prostituição estatal soviética através do serviço dos ship chandlers soviéticos
(toda atividade decorria dento dos navios). Com o início da II Guerra Mundial,
no final de 1939, a prostituição estatal soviética foi oficialmente abolida.
Ler
o livro em russo (PDF, 312 páginas).
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