100
anos atrás na Rússia triunfou o golpe do estado bolchevique. Em 74 anos da sua vigência
e após várias guerras, genocídios, deportações e extermínio de povos e
indivíduos, nos meados da década de 1980, a economia soviética entrou num
colapso absoluto. Os cidadãos da URSS finalmente sentiram que não é possível se
alimentar da propaganda. E assim, no fim de 1991 o “império do mal”, ruiu, de
forma momentânea e até bastante pacífica.
02.
Os balcões frigoríficos numa mercearia soviética em 1990. Num cantinho estão amontoados
os saquinhos, muito parecidos com ananás fatiado no molho próprio. Nos derradeiros
anos da URSS essa delícia estrangeira, e pouco apreciada, apareceu nas lojas soviéticas
em quantidade considerável.
03.
Janeiro de 1991: uma mercearia na cidade de Moscovo com balcões vazios. No fundo podemos ver as prateleiras vazias. Até o fim da URSS faltava quase um ano.
04.
Novembro de 1991, o departamento de “manteiga e queijos” absolutamente vazio numa
das mercearias.
05.
Novembro de 1991, foto tirada de dentro para fora da loja. Dentro vemos os frascos
de 3 litros de “sumo” de bétula (água açucarada com ácido cítrico), fora está
uma fila para comprar algum produto raro, o “deficit”. Na época os produtos muito
procurados, como bananas, eram vendidos ao preço à dobrar “fora da caixa”,
simplesmente em forma de uma “fila viva”, na entrada da loja. Depois, o mesmo
produto era registado na caixa ao seu preço oficial, os lucros eram divididos
entre os vendedores e diretor da loja. A operação era bastante segura, os
problemas poderiam surgir, caso a venda fosse flagrada pelo Departamento da luta
contra os roubos da propriedade socialista (OBKhSS), uma espécie da polícia
financeira soviética, existente entre 1937 e 1992.
06.
1989: os balcões vazios, mas loja já possui a balança eletrónica, nos anos
finais da URSS estas foram aparecendo nas lojas soviéticas para diminuir os
roubos, praticados pelos vendedores que constantemente viciavam as balanças
tradicionais. A economia do mercado praticamente eliminou este problema, que na
União Soviética, graças ao seu sistema de “proteção mútua”, era omnipresente.
07.
Janeiro de 1992, frascos de 3 litros com um “sumo” qualquer e “departamento da
carne” absolutamente vazio. O livre mercado bastante imperfeito conseguiu preencher
as prateleiras, mas precisou para isso, dependendo da região, 1-2 anos de trabalho
livre do regime planificado.
08.
1990, fila numa mercearia, nos cestos podemos ver leite em embalagem tipo tetra
pack e algo parecido com os legumes congelados fabricados na Polónia.
09.
Além das lojas estatais, na URSS existiam as lojas cooperativas (menos de 1% do
total) e os mercados. Nos mercados, era possível comprar legumes frescos e a carne
de uma qualidade razoável. Um mercado em 1987, possivelmente após o fecho da
maior parte das bancas.
10.
1991: o homem do talho corta a carne sobre um tronco de madeira. A carne da 2ª,
com gordura, era considerada na URSS uma delícia, no fundo da foto podemos ver
a fila dos compradores. A boa produção das melhores fábricas (talhos industriais),
da Belarus ou Ucrânia, só começou aparecer em venda livre após 1992, já na
época das reformas timidamente liberais. Antes disso, possivelmente essa
produção era consumida pela elite comunista ou vendida nos outros mercados.
11.
1991: os vendedores de fruta seca e abóbora. Nos mercados, a propósito, florescia
a falta gritante de saneamento (facilmente detetável nas duas últimas fotos),
mas naquela época isso não incomodava ninguém – a principal preocupação era conseguir
comprar pelo menos alguma comida.
12.
1990: o comércio de rua, uma fila nada pequena para comprar a batata.
13.
No fim da URSS escassearam não apenas os alimentos, mas também os produtos manufaturados.
Uma sapataria em 1990. Na época as sapatarias vendiam 3-4 tipos de sapatos femininos
feios fora de moda e sapatos desportivos (tênis) plimsoll com a sola fedorenta
de borracha vulcanizada.
14.
Sapataria – um homem contempla a aquisição bem-sucedida – sapatos femininos elegantes,
um verdadeiro deficit.
15.
O comércio de produtos manufaturados nos anos finais da URSS geralmente decorria
assim: pela cidade se espalhava o boato de que em um certo lugar, determinados bens
de consumo, o deficit, seria “deitado/jogado fora” (eufemismo soviético que
significava “vendidos livremente”), junto daquela loja, instantaneamente se
formava uma enorme fila, as pessoas permaneciam nela de pé à noite (!),
substituindo uns aos outros e passando, uns aos outros, um pedaço de papel com
o seu número nessa fila – o cenário distópico em que na cidade de Minsk em 1990
se compravam os sapatos de couro masculinos. Sapatos, que por algum motivo
desconhecido, eram vendidos à porta traseira da loja “Bens domésticos”.
A
foto semelhante de 1989 (em cima) mostra a fila para comprar alguns produtos
manufaturados polacos/poloneses.
16.
A fila numa loja soviética de “luxo”, cidade de Moscovo em 1989. Possivelmente a
loja vendia os bens ocidentais, possivelmente os bens produzidos nas cooperativas
soviéticas (oficialmente permitidas desde 5 de fevereiro de 1987),
possivelmente ambos os casos.
17.
Compradoras do calçado de “luxo”, principalmente “luxuosas” parecem as botas
azuis às pintinhas.
18. Sapataria soviética: vendedora (de vermelho) e caixas vazias de botas.
19.
Salão de cabeleireiro soviético, 1989.
20.
Cantina soviética, fevereiro de 1989.
Como
podemos ver, são fotos de uma vida bastante pobre, com o deficit permanente de alimentos
e produtos manufaturados da primeira necessidade, de um país que financiava as
revoluções anticapitalistas em redor do mundo e dominava o desporto, balé e corrida
espacial.
Fotos
@GettyImages | Texto Maxim Mirovich
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