quarta-feira, dezembro 07, 2016

Arte do fake terrorista: o falso Daesh/EI de Donetsk

Os propagandistas terroristas da dita “dnr”, produziram a travestida “prova” da participação dos militantes do Daesh/EI nas atividades do regimento “Azov”. A farsa, filmada no Centro de arte “Izolyatsia”, localizado em Donetsk ocupada, foi desmistificada e exposta ao público pelo serviço russo da britânica BBC.

A ex-fábrica soviética “Izolyatsia” viveu várias transformações ao longo da sua existência: em 2010 o local foi transformado num centro de arte “Izolyatsia”, um dos maiores e mais importantes da região de Donbas, em 2014 as instalações foram ocupadas pela organização terrorista “dnr” que montou naquele espaço um míni campo de concentração, gerido pelo seu “ministério de segurança estatal – mgb”.   
As cadeiras usadas no vídeo falso e as que eram usadas no Centro (foto de arquivo)
Em dezembro de 2016, junto ao terricão (colina artificial), da já fechada mina de carvão “Evdokievskaya” em Donetsk (desde 2014 sob controlo dos terroristas), apareceu um blindado com a bandeira ucraniana, da onde saíram quatro homens que trajavam os fardamentos pós-modernistas: um o camuflado verde-preto britânico com a boina e míni bandeira do Daesh; dois lenços palestinianos; as insígnias do regimento “Azov” e uma espécie de equipamento ninja – a máscara com a inscrição em árabe “Não há Deus senão Alá, e Maomé é o seu profeta” e o fardamento tático chinês 91G09.
As cadeiras usadas no vídeo falso e as usadas no centro (foto de arquivo)
Eles retiraram da viatura as armas, na sua maioria do fabrico ocidental, alimentos, equipamentos e um narguilé (!), cujo uso é estritamente proibido entre os fundamentalistas islâmicos reais.
O falso Daesh com um narguilé (entre o "ninja chinês" e seu AK)
O grupo dos travestidos organizou a “posição militar”, expondo, como se fosse numa feira as armas, as bandeiras do Daesh/EI e do “Azov” e começaram tirar as selfies (!), cobrindo as faces com os lenços. Gritando “Allahu Akbar” os figurinos andavam pelas instalações, disparando na direção das casas particulares próximas.

O conto de fadas

As fotos e o vídeo foram publicados em 3 de janeiro de 2016 numa das páginas afiliadas aos hackers russos “Ciberbercut” na rede social “VK”, alegando que foram filmados pelo smartphone, pertencente ao militar do “Azov”.
“Ciberbercut” nada disse sobre os pormenores técnicos da sua operação, nem revelou o local das filmagens, que os jornalistas da BBC localizaram, usando as geolocações, fornecidas pelo serviço Wikimapia.
Um pormenor das instalações da fábrica "Izolyatsia" do vídeo do Daesh fake (à esquerda) e no terreno 
Embora a cidade de Donetsk e os seus arredores possuem mais de 150 terricões, resultado do funcionamento das minas de carvão, a colina junto à mina de “Evdokievskaya” tem a sua particularidade – o monumento da rena no seu topo. O edifício, onde foi filmada a maior parte das travestidas, corresponde, até ao pormenores mais pequenos, ao edifício situado ao lado do terricão. 

Os mecanismos da criação e uso dos fakes
As diversas páginas online russas, nomeadamente “Vesti.Ru”, “Ridus”, “Islão hoje”, divulgaram o fake entre as suas notícias. As televisões “Zvezda” e TVC mostraram os vídeos fakes, a agência Sputnik, por várias vezes usou as fotos falsas, para ilustrar os seus artigos sobre Daesh/EI. O próprio “Ciberbercut” se remeteu ao silêncio, não respondendo as perguntas da BBC.

Um mês antes da publicação do fake, numa das páginas pró-terroristas foi lançada a informação sobre a alegada participação dos fundamentalistas nas fileiras ucranianas em Shyrokino e Novoazovsk. Autor anónimo escreveu que os terroristas estavam escutar na rádio “as conversas em árabe, em checheno e em língua russa com sotaque árabe”.

Fábrica – Centro
Pormenor do centro antes da chegada dos terroristas em 2014
O centro de arte Izolyatsia foi fundado pela Lyubov Mikhaylova, a filha do último diretor soviético da fábrica de materiais de isolação, localizada no mesmo espaço. A fundação que geria o centro era financiada pelos empresários locais. Com o centro colaboravam as estrelas mundiais da arte contemporânea: o conceptualista francês Daniel Buren, pintor ucraniano Boris Mikhaylov, artista eletrónico mexicano-canadense Rafael Lozano-Hemmer, o artista plástico chinês Cai Guo-Qiang, entre outros.

Analisando as 18 fotos e dois vídeos disponíveis, os colaboradores do centro também afirmam categoricamente que as filmagens do “Daesh/EI” foram efetuadas no espaço do Centro de arte Izolyatsia.

Como explica o secretário de imprensa do Centro (que atualmente funciona em Kyiv), Oleksandr Vynogradov, as fotos e os vídeos foram feitos na oficina que outrora pertencia à empresa “Prima”. A empresa se dedicava à produção de placas de poliestireno, os restos dos quais até são visíveis no fundo das fotos encenadas.

A “dnr” terrorista

A arte definitivamente acabou em 9 de junho de 2014, quando um bando armado ocupou o Centro, afirmando que usará o espaço para armazenar a ajuda humanitária russa.
"Make Up!!
Num dos vídeos, gravados no momento da ocupação, o “ministro” da “segurança estatal” da dita “dnr”, Leonid Baranov, afirmava que o centro difunde a “pornografia que corrompe os eslavos e os impede de se procriar”. Num outro vídeo, os terroristas explodiram a chaminé industrial que o artista belga de origem camaronesa, Pascale Martine Tayou, transformou em um batom gigante.


O centro conseguiu salvar apenas algumas obras mais pequenas, como quadros e fotos, o resto foi roubado pelos terroristas. Por exemplo, um cortador de laser digital foi rastreado, pelo seu fabricante, na Crimeia ocupada.

Campo de concentração
Dmytro Potekhin
O ex-centro de arte foi transformado pelos terroristas no centro de detenção, “praticamente o campo de concentração”, – conta Dmytro Potekhin, que passou 47 dias naquelas masmorras terroristas. Vindo à Donetsk no intuito de fazer a reportagem para um revista canadense, ele fotografou o hotel “Liverpool”, onde estava situado uma das bases da dita “dnr”. Depois de interrogações, Potekhin ficou detido nas caves da “Izolyatsia”, ele conta que viu lá pelo menos 40 presos, mas o local seguramente abrigava mais reféns dos terroristas.  

Os prisioneiros carregavam as munições, limpavam o território da fábrica, puxavam até lá os caríssimos jipes “Toyota”, com volantes e rodas bloqueadas, tudo indica que as viaturas eram roubadas dos stands.

Crucificação dos “milicianos”
Em nome do “Ciberbercut” são divulgados outros vídeos encenados. Assim, em abril de 2015 a mesma página que divulgou os materiais do fake Daesh/EI, já tinha divulgado um vídeo em que os alegados “carrascos ucranianos” crucificam e queimam o “miliciano” separatista. Na altura “Ciberbercut” alegava que o vídeo era divulgado pelos próprios ucranianos para amedrontar os terroristas.

Fancy “bercut”: quem são?

O grupo é conhecido desde março de 2014, quando atacava as páginas da NATO. O grupo regularmente afirma possuir a correspondência confidencial entre os políticos ucranianos e ocidentais, mas em vez de publicar os arquivos, publica apenas alguns documentos separados, cuja autenticidade é impossível de verificar.

Ruslan Leviev, fundador do grupo OSINT “Conflict Intelligence Team”, considera que “Cuberbercut” é apenas a “guarda-chuva” dos serviços secretos russos e os hackers russos afiliados (que já usou os nomes com “hacker Hell”, “Fancy Bear”, etc.). Em fevereiro de 2016 “Ciberbercut” conseguiu penetrar numa das caixas do correio do Leviev (protegida pela senha longa e complicada), obtendo o acesso ao seu blogue na plataforma LiveJournal e o seu perfile do contribuinte na página Bellingcat. Havia outras tentativas de obter as senhas de outros colaboradores de Bellingcat.

Analisando estes pormenores a empresa ThreatConnect chegou a conclusão que “Ciberbercut” usou as ferramentas de um outro grupo hacker – Fancy Bear. A responsável pelo roubo da informação confidencial do Partido Democrata e da Agência Mundial Antidoping (WADA) em 2016.

A julgar apenas pela qualidade técnica (não confundir com a fidedignidade), extremamente diversa dos materiais publicados sob o nome do “Ciberbercut”, o grupo realmente pode ser uma espécie de congregador que uma rede de fabricantes dos matérias fakes, hackers ou grupos de hackers [favorecendo, ou tentando favorecer, neste processo o estado russo].

1 comentário:

Anónimo disse...

Uum rockeiro muito famoso no Brasil nos anos 80 fez uma musica sobre Chernobyl:

https://www.youtube.com/watch?v=h7sfhfeovpI