No
cinema soviético das décadas de 1950-1980 os cidadãos moravam nos espaçosos
apartamentos, onde cada membro da família possuía o seu próprio quarto,
mobilado com os móveis modernos e bonitos. Os espaços comuns dos prédios também
eram espaçosos, limpos e luminosos, com as janelas grandes e muitas flores. A realidade
era ligeiramente diferente...
Os
bons apartamentos em prédios novos eram acessíveis à pequena classe dominante da
nomenclatura soviética, a maioria dos cidadãos comuns vivia nos “apartamentos
comunais” e nas barracas de madeira, situação que começou a mudar apenas na
década de 1960, quando Nikita Khrushov lançou o programa estatal de construção
dos apartamentos individuais sob o slogan “à cada família – apartamento individual
com as comodidades”. De qualidade medíocre e comodidades básicas, sem
elevadores, com alturas dos quartos de 2,5 metros, mesmo assim, as chamadas khrushchyovkas representavam
uma verdadeira revolução no parque imobiliário soviético.
As
barracas soviéticas, juntamente com os apartamentos comunais eram a base do
parque imobiliário da URSS até a década de 1960, nelas viviam praticamente
todos os segmentos da população da “pátria socialista”.
02.
Já em 1921, após o desastre completo do “comunismo de guerra”, a URSS permitiu
a economia privada, lançando a Nova Política
Económica (NEP). O estado soviético construía os apartamentos apenas para a
elite partidária e estatal, não impedindo os cidadãos de obter os apartamentos
através das cooperativas de construção civil.
Com
o fim do NEP em 1928, após a subida do Estaline ao poder e liquidação da
iniciativa privada na economia, foram construídas as primeiras barracas de
madeira.
03.
No início da década de 1930 a URSS estalinista começa a industrialização
forçada (pensada, principalmente, no complexo militar-industrial), situação que
atirava milhares de camponeses do campo para as cidades, que à custa disso cresceram,
por vezes, até o dobro. Ao mesmo tempo, os primeiros planos quinquenais não previam
a construção de moradias, as pessoas eram colocadas nas barracas, que muitas
vezes eram construídas junto às fábricas, minimizando os gastos de transporte. Ninguém
se importava com as cinzas e outras emissões nocivas à saúde dos operários que
invadiam as casas dos trabalhadores.
04.
A correlação da quantidade dos apartamentos melhorados, comunais e as barracas
dependia das capacidades de financiamento em cada cidade concreta, da existência
do parque habitacional construído no período pré-comunista, etc. Por exemplo,
na cidade de Leninegrado praticamente não existiam as barracas, o novo poder
transformou em “apartamentos comunais” os apartamentos de classe alta, com de 200-300
m², onde eram colocadas à morar até 15 famílias. Já nas localidades novas, onde
eram construídas as fábricas, quase todo o parque habitacional da classe
operária era constituído pelas barracas.
05.
Em Moscovo também construíam as barracas — estes praticamente cercavam a
fábrica de carnes “Mikoyan”, foram desmontadas apenas nos meados da década de
1960, muitos anos após a morte do Estaline. Até aí, na capital do “1º país socialista
do mundo” as pessoas cozinhavam, usando a lenha e faziam as necessidades nas
latrinas melhoradas na rua.
06.
A típica barraca soviética geralmente possuía uma única entrada no meio da edificação.
Mais raramente, se a barraca era cumprida, havia mais entradas, separadas em
distâncias iguais. A altura dos quartos variava entre 2,5 até 3,5 m., na
maioria dos casos era de 2,7-3 m.
07.
Na sua maioria as barracas eram de apenas dois pisos – fazer apenas o rés-do-chão
era demasiadamente dispendioso, construir mais que dois pisos não era viável
por causa de fragilidade da estrutura de madeira. À esquerda e à direita da entrada
havia corredores longos, cada piso possuía uma ou duas cozinhas com fogão e fogões
para a preparação dos alimentos (usava-se a lenha, carvão ou a turfa) e uma
série de lavatórios com água fria para lavar a loiça e para usar na higiene
diária. A habitação não tinha nenhuma outra fonte de água.
08.
Os corredores davam acessos “apartamentos” T0 com 12-15 m², habitados por uma
única família. Os quartos continham um forno para aquecimento, alimentado à partir
do quarto ou à partir do corredor, para maior segurança. Um grupo de barracas
podia possuir uma caldeira, onde
as pessoas se abasteciam de água quente.
09.
Não havia as casas de banho nos quartos — as latrinas melhoradas eram comuns,
pensadas em servir uma barraca ou um bloco de barracas. Não havia as banheiras,
era pressuposto tomar banho nos banhos públicos, uma vez por semana. Estes banhos
eram construídos nas proximidades das barracas.
No
fim da década de 1980, antes da derrocada da URSS, os moradores começaram
construir as suas próprias banheiras, sem receber o tão desejável apartamento
estatal.
10.
As paredes externas das barracas eram, geralmente, de madeira. Em alguns casos as
paredes exteriores eram rebocadas, socorrendo-se da mesma tecnologia usada no
acabamento dos interiores – na parede de madeira eram colocadas as “telhas”, de
forma cruzada, que por sua vez levavam o reboco.
11. Nas regiões industriais as barracas podiam ser feitas de tijolos ou blocos de concreto (fabricados nos fornos de fábrica), tinham aspeto um pouco melhor do que as da madeira, na foto abaixo – um exemplo desta construção. Mesmo assim, por dentro eram as barracas “normais”: quartos T0, kitchenete, água fria, sem banheira e com a casa de banho na rua.
12.
Várias barracas, construídas mais de 70 anos atrás, antes da II G.M.,
sobreviveram, na Rússia, até os nossos dias.
13.
As pessoas continuam à viver em habitações deploráveis que foram projetadas por
um período máximo de 20-30 anos e já ultrapassaram estes limites em três, quatro
vezes. No seu interior, tudo está se desmoronar e cair de podre.
15.
Os quartos habitacionais. As pessoas tentam criar algum conforto, mas nem
sempre isso é possível. De que conforto se pode falar se as casas de banho
estão na rua, e o banheiro não existe de todo.
16.
Na capital da Belarus, em Minsk, ainda existem as barracas – os seus moradores gradualmente
são reassentados e as barracas são demolidas. As que ainda existem aguardam o reassentamento
e a demolição, é proibido fazer o registo de novos moradores nelas. Em algumas
cidades russas as barracas continuam a existir com sucesso – as pessoas
continuam à viver nelas e até compram lá os quartos (@maxim-nm).
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