Outono.
Tarde. A unidade de morteiros ucranianos em missão de combate. Zona de Operação
Antiterrorista (OAT). O exercício da prosa poética.
Quando
ficar completamente escuro, quando a lua cheia de socapa rolar pelos telhados
de casas baixinhas, escondendo-se atrás das nuvens frágeis, quando o ferro
esfriar e os sinos pararem de tocar nos ouvidos, vamos novamente aprender ouvir
o silêncio. À noite, este é particularmente bonito. O morteiro ainda fica
embrulhado em fios de fumaça, e os pássaros que vivem perto de rios, conversam animados,
uns com outros, não imaginando que os ouvimos agora... como ouvimo-nos agora.
Quando
será dada a ordem para disparar, então tudo estará pronto. Uma varinha de fósforo
– na bússola, de modo que na escuridão total a mira poderá contemplar a direção
principal do alvo. A pólvora seca é colocada nas minas. Na mira foram marcados
todos os níveis.
Na
mesa, formada por dois pneus e tábua de madeira que até o último centímetro de
seu espaço é preenchida com as latas de carne enlatada, está sentado “Mosca”,
concentrado em escrever algo no seu bloco de notas. Números, números, números, ele
multiplica, adiciona, remove, soma, verifica pela tabela de cálculos, olha ao
mapa, ao caderno, novamente à para a tabela. Apaga, sublinha, passa novamente à
limpo. Tudo está pronto.
Mosca:
Xamã, atenção, os parâmetros para o primeiro alvo. Pronto para apontar?
Xamã:
Pronto.
Mosca:
Goniómetro à bússola! – seguem os quatro números. Xamã em voz alta e de forma
clara repete-os ... não, os grita, tão feliz, mas ao mesmo tempo muito sério...
com orgulho.
Mosca:
Xamã, então, foi?
Xamã:
foi!
Mosca:
Há espaço suficiente para virar à esquerda, se for preciso?
Xamã:
Câmbio!
Mosca:
muito bem.
Depois
seguem os dados técnicos de aumentos e excessos que ninguém e nunca pronuncia
em ucraniano.
Mosca:
Xamã, atenção, dou as alterações.
Xamã:
Câmbio, alterações!
Mosca:
E agora, Vácuo, os “pepinos” estão prontos?
Vácuo:
Sim, estão prontos.
Mosca:
Carregar.
Mosca:
Vácuo, o que se passa?
Vácuo:
Agora, é uma curta.
Demora
um minuto. Talvez um pouco mais.
Vácuo: Foi.
Mosca:
Xamã, coloque a tranca de segurança.
Xamã:
Já coloquei!
Em
redor rangem, coaxam, enlouquecem os sapos imparáveis. Poderiam se calar, pelo
menos momentaneamente. Mas nada! Está fresquinho. Muito bom. Quando será dada a
ordem para disparar, então tudo estará pronto.
Snovyda
olha para o céu e diz: “Essa nuvem me parece o cavaleiro cansado”
Vácuo:
Sério? À mim, nada ocorre...
Não,
não parece.
Snovyda:
E aquela ai, que se sobrepõe ligeiramente à Lua, tal-e-qual um machado.
Vácuo:
Você tem cá uma fantasia. São nuvens normais!
Mosca
diz ao Xamã para verificar novamente a tranca de segurança e vir aqui, até a
mesa. Há que matar o tempo. Passar essa noite. Não pensar que em breve se
tornará bastante frio. E perigoso.
Vamos
jogar “às cidades”?!
Oh,
realmente!
Vácuo:
Kyiv.
Mosca:
Vaticano.
Xamã:
Netaylove.
Sbovyda:
Eupatória.
Eu:
Yakutsk.
Vácuo
pensa. Não consegue se lembrar de alguma. “Mas é fácil”, – alguém fica admirado. Vamos!
Vácuo:
Krasnoarmiysk.
Mosca:
Kremenets.
Xamã:
Zurique.
Snovyda:
Kharkiv.
Eu:
Vorkuta.
Vácuo:
Avdiivka.
Mosca:
Amvrosiivka.
Xamã:
Alchevsk.
Snovyda:
Kominternove.
Eu:
Enerhodar.
Vácuo:
Rivne.
Mosca:
Ecaterimburgo.
Xamã:
Genichensk.
Snovyda:
Kramatorsk.
Eu:
Kurakove.
Vácuo:
Kurakove, Kurakove... não sei, vamos em “v”! Volnovakha.
Mosca:
Artemivsk...
Xamã:
Parem ai, vocês ao menos repararam que a maioria das cidades ditas, é aqui na
OAT? Engraçado, não é? Eu, por exemplo, dois anos atrás nem conhecia essa tal
de “Netaylove”...
Vácuo:
Eu mesmo agora nem a conheceria.
Mosca:
Não, é bom. A guerra ao menos ajudará melhorar os nossos conhecimentos de
geografia.
Então,
vamos continuar. Em que paramos?
Em
“k”.
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