quinta-feira, dezembro 22, 2016

O jogo “às cidades”. O exercício da prosa poética.

Outono. Tarde. A unidade de morteiros ucranianos em missão de combate. Zona de Operação Antiterrorista (OAT). O exercício da prosa poética.

Quando ficar completamente escuro, quando a lua cheia de socapa rolar pelos telhados de casas baixinhas, escondendo-se atrás das nuvens frágeis, quando o ferro esfriar e os sinos pararem de tocar nos ouvidos, vamos novamente aprender ouvir o silêncio. À noite, este é particularmente bonito. O morteiro ainda fica embrulhado em fios de fumaça, e os pássaros que vivem perto de rios, conversam animados, uns com outros, não imaginando que os ouvimos agora... como ouvimo-nos agora.
Quando será dada a ordem para disparar, então tudo estará pronto. Uma varinha de fósforo – na bússola, de modo que na escuridão total a mira poderá contemplar a direção principal do alvo. A pólvora seca é colocada nas minas. Na mira foram marcados todos os níveis.

Na mesa, formada por dois pneus e tábua de madeira que até o último centímetro de seu espaço é preenchida com as latas de carne enlatada, está sentado “Mosca”, concentrado em escrever algo no seu bloco de notas. Números, números, números, ele multiplica, adiciona, remove, soma, verifica pela tabela de cálculos, olha ao mapa, ao caderno, novamente à para a tabela. Apaga, sublinha, passa novamente à limpo. Tudo está pronto.
Mosca: Xamã, atenção, os parâmetros para o primeiro alvo. Pronto para apontar?
Xamã: Pronto.
Mosca: Goniómetro à bússola! – seguem os quatro números. Xamã em voz alta e de forma clara repete-os ... não, os grita, tão feliz, mas ao mesmo tempo muito sério... com orgulho.
Mosca: Xamã, então, foi?
Xamã: foi!
Mosca: Há espaço suficiente para virar à esquerda, se for preciso?
Xamã: Câmbio!
Mosca: muito bem.

Depois seguem os dados técnicos de aumentos e excessos que ninguém e nunca pronuncia em ucraniano.
Mosca: Xamã, atenção, dou as alterações.
Xamã: Câmbio, alterações!
Mosca: E agora, Vácuo, os “pepinos” estão prontos?
Vácuo: Sim, estão prontos.
Mosca: Carregar.
Mosca: Vácuo, o que se passa?
Vácuo: Agora, é uma curta.
Demora um minuto. Talvez um pouco mais.
Vácuo: Foi.
Mosca: Xamã, coloque a tranca de segurança.
Xamã: Já coloquei!

Em redor rangem, coaxam, enlouquecem os sapos imparáveis. Poderiam se calar, pelo menos momentaneamente. Mas nada! Está fresquinho. Muito bom. Quando será dada a ordem para disparar, então tudo estará pronto.
Snovyda olha para o céu e diz: “Essa nuvem me parece o cavaleiro cansado”
Vácuo: Sério? À mim, nada ocorre...
Não, não parece.
Snovyda: E aquela ai, que se sobrepõe ligeiramente à Lua, tal-e-qual um machado.
Vácuo: Você tem cá uma fantasia. São nuvens normais!

Mosca diz ao Xamã para verificar novamente a tranca de segurança e vir aqui, até a mesa. Há que matar o tempo. Passar essa noite. Não pensar que em breve se tornará bastante frio. E perigoso.
Vamos jogar “às cidades”?!
Oh, realmente!

Vácuo: Kyiv.
Mosca: Vaticano.
Xamã: Netaylove.
Sbovyda: Eupatória.
Eu: Yakutsk.
Vácuo pensa. Não consegue se lembrar de alguma. “Mas é fácil”, – alguém fica admirado. Vamos!
Vácuo: Krasnoarmiysk.
Mosca: Kremenets.
Xamã: Zurique.
Snovyda: Kharkiv.
Eu: Vorkuta.
Vácuo: Avdiivka.
Mosca: Amvrosiivka.
Xamã: Alchevsk.
Snovyda: Kominternove.
Eu: Enerhodar.
Vácuo: Rivne.
Mosca: Ecaterimburgo.
Xamã: Genichensk.
Snovyda: Kramatorsk.
Eu: Kurakove.
Vácuo: Kurakove, Kurakove... não sei, vamos em “v”! Volnovakha.
Mosca: Artemivsk...
Xamã: Parem ai, vocês ao menos repararam que a maioria das cidades ditas, é aqui na OAT? Engraçado, não é? Eu, por exemplo, dois anos atrás nem conhecia essa tal de “Netaylove”...
Vácuo: Eu mesmo agora nem a conheceria.
Mosca: Não, é bom. A guerra ao menos ajudará melhorar os nossos conhecimentos de geografia.

Então, vamos continuar. Em que paramos?
Em “k”. 

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