No
dia 19 de dezembro de 2016, o
turco Mevlüt Mert Altıntaş (22) abateu o embaixador russo na Turquia – A. Karlov; em
21 de outubro de 1933, o ucraniano Mykola Lemyk (18) abateu o
cônsul da URSS na Polónia – A. Maylov, era o primeiro atentado da Organização
dos Nacionalistas Ucranianos (OUN) contra a União Soviética.
por:
Yiriy Butusov
No
verão de 1933, após a fuga para Polónia dos ucranianos que tentavam se salvar do
Holodomor,
os ucranianos da Polónia criaram o Comité de ajuda, recolheram um comboio de
alimentos e tentaram o enviar à Ucrânia continental. As autoridades soviéticas
recusaram essa ajuda – a propaganda comunista dizia que na Ucrânia não há fome.
Milhões de pessoas morriam atrás da cortina de ferro, o mundo ignorava, sem ajuda,
sem sanções, ninguém quis apoiar um território sem exército, nem estado...
Em
29 de outubro de 1933 os ucranianos de Galiza decidiram organizar o Dia de luto
e protesto nacional em Lviv. O mundo mais uma vez não quis reparar, a URSS adquiria
a diversa maquinaria pesada na Europa Ocidental e nos EUA, vendendo em troca as
suas matérias primas baratas (incluindo o trigo ucraniano). Polónia também não desejava
azedar as relações com o vizinho soviético.
Então,
para que o mundo saiba da tragédia ucraniana, estudante ucraniano e membro da
OUN, Mykola Lemyk, se voluntariou para liquidar o cônsul soviético em Lviv. Ele foi preparado pelo Roman Shukhevych
e Stepan Bandera. O ativista ucraniano, jovem inteligente
e modesto que nunca tinha disparado uma arma, recebeu a missão – liquidar o
cônsul da URSS e não se deixar matar pela segurança do consulado, para não permitir
à propaganda soviética retratar o caso como o crime comum. Lemyk devia se
render à polícia polaca, e em tribunal aberto declarar os motivos de sua ação, falando
sobre a tragédia do Holodomor na Ucrânia. De acordo com a lei polaca ele
arriscava a pena de morte. Mykola Lemyk de forma consciente decidiu morrer pelos
milhões de ucranianos desconhecidas, que morriam lá, além da Linha Curzon, onde ele nunca
esteve...
Nas
vésperas, quando os companheiros da OUN o perguntaram sobre algum desejo,
Mykola Lemyk pediu as botas movas, ele não queria que no caso da morte os
inimigos vejam os seus sapatos velhos e gastos, não queria dar o pretexto de
rirem dos ucranianos.
No
dia 21 de outubro de 1933 Mykola Lemyk entrou no consulado da URSS em Lviv e com
as palavras: “Isso lhe da Organização dos Nacionalistas Ucranianos – pelas tormentos
e a morte de nossos irmãos e irmãs, pala fome na Ucrânia, por todas as
intimidações”, matou à tiro o secretário do consulado da URSS A. Maylov.
Mykola Lemyk se entregou à polícia polaca, passou pelo julgamento, onde falou
sobre os seus motivos e sobre Holodomor, escapou a pena capital, condenado à
prisão perpétua.
No
decorrer do julgamento se estabeleceu que Maylov era residente dos serviços externos
da NKVD. O atentado transformou instantaneamente a OUN no inimigo mortal da
URSS. A OUN começou a guerra organizada contra a União Soviética. Hoje em dia
se sabe que Maylov era amigo próximo do terrorista soviético, coronel Pavel Sudoplatov,
responsável pelo assassinato do líder da OUN Yevhen Konovalets, que se deu em 23 de maio de 1938 em Roterdão
na Holanda.
Após
o início da II G.M., e com o fim momentâneo do estado polaco, Mykola Lemyk saiu
em liberdade, se voluntariando para uma nova tarefa perigosa – a criação da
rede de OUN no leste da Ucrânia – na cidade de Myrhorod. Em outubro de 1941 ele
foi detido pela Gestapo e morreu às mãos de nazis.
No
dia 19 de outubro de 2016, o polícia turco Mevlut Mert Altintas com as
palavras: “Não
esqueçam de Aleppo! Não esqueçam da Síria! Vocês não ficarão seguros até que
nossas cidades tenham segurança. Somente a morte pode me levar daqui. Morremos em
Aleppo, você vai morrer aqui”,
abateu à tiro o embaixador russo na Turquia, Andrey Karlov.
Foto @Burhan Ozbilici / AP |
O
assassino não esperou pelo tribunal – ele matou o embaixador em frente de múltiplas
câmaras e os seus motivos imediatamente se tornaram conhecidos no mundo inteiro.
Depois veio a polícia turca e matou à tiros o seu colega, que de repente
decidiu se tornar um terrorista e vingar os massacres de civis em Aleppo,
perpetuados pela força aérea e pelo exército russo...
Sim,
o terrorismo é mau. Sempre deve ser condenado. Mas, ainda mais devemos condenar
aqueles que matam milhares com as ordens de seus gabinetes, que obrigam as
pessoas comuns pegar em armas e embarcar em um caminho de terror, porque as
suas almas estão queimadas pela dor de seu povo, deixado lá apenas o desejo de vingança...
A
propaganda russa chama os assassinatos em massa em Aleppo de “encenações” e “falsidades”,
tal como a URSS negava Holodomor na Ucrânia, alegando inexistência de quaisquer
problemas e de perdas de vidas em 1932-1933.
Foto @Burhan Ozbilici / AP |
O presidente russo, Vladimir Putin, que manifestou o
desejo de “descobrir quem enviou a mão do assassino”, pode facilmente descobrir
“quem dirige as mãos de assassinos” – basta olhar no espelho. O sangue e terror
estão sendo planeados no Kremlin.
2 comentários:
Que o mundo saiba a carnificina que o porco do Putin está fazendo... Criminoso, esse atirador? Talvez... Mártir e herói?? Com certeza!! Q Deus traga a justiça todos esses assassinos covardes
Sábias palavras
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