O
chefe da comissão independente da WADA,
Prof. Richard McLaren apresentou a parte final do seu relatório sobre uso
do doping estatal no desporto russo. O
novo relatório confirma os dados anteriores e apresenta as novas provas: no programa
estatal de doping participaram mais de 1.000 atletas russos, entre eles os medalhistas
de ouro de JO de Sochi. A televisão russa tvrain leu o relatório
e sublinhou o mais importante.
— O
novo relatório é baseado não apenas nos depoimentos, mas nas provas materiais — os dados medicinais e laboratoriais. Estes resultados são corroborados pelos depoimentos das testemunhas e pela correspondência eletrónica. McLarem também divulgou a base de dados
que
contêm 1.166 documentos, entre fotos, relatórios forenses, análise de testes,
horários, e-mails e documentos de trabalho.
— Mais
de 1.000 atletas russos fizeram a parte do esquema de doping estatal (no
período entre 2011 e 2015), destes, 84% representavam os
desportos de verão e 16% —
de inverno. O sistema de doping estatal funcionou nos JO-2012 de Londres; nos Jogos
Universitários de Kazan (2012); no Campeonato do Mundo de Atletismo de Moscovo
(2013) e nos JO e JPO de Sochi (2014). WADA acredita que os burocratas desportivos russos optaram pelo sistema de doping estatal após a má exibição dos atletas russos nos JO de Vancouver.
— 12 desportistas
russos que ganharam as medalhas em Sochi-2014 usavam o esquema de doping
estatal: 4 deles eram medalhistas de ouro. Foram
efetuadas 44 análises
dos atletas russos que participaram nos JO de Sochi, na equipa feminina russa de hóquei de gelo as provas de duas atletas eram falsificadas, a urina continha
ADN masculino. Para falsificar as provas, era usado o sal, água e café instantâneo — uma série de análises mostravam as concentrações
químicas fisiologicamente impossíveis. A falsificação de análises foi detectada
em 6 das 21
provas de atletas paralímpicos russos em Sochi. No total, a comissão da WADA detectou 96 análises falsificadas (com invólucros violados) de JO de Sochi e 21 dos JPO de Sochi.
— O relatório confirma que o esquema de doping estatal em Sochi usava o método de «análises desaparecidoa», que permitia aos atletas russos usar o
doping mesmo no decorrer das competições. O
esquema foi lançado, pela primeira vez, nos jogos universitários de Kazan
(2013). Ao esquema aderiram os atletas russos dos escalões mais altos da elite
desportiva do país.
— Nos JO-2012 de Londres o doping foi detectado nas análises dos 15 medalhistas
russos dos 78 verificados, 10 deles já perderam as medalhas. No campeonato do Mundo de atletismo de Moscovo de 2013 foram falsificadas as análises
dos 4 desportistas russos.
— O Ministro do Desporto russo, Vitali Mutko, não podia não saber do sistema estatal de doping que estava sob controlo dos responsáveis do Ministério do Deporto, da Agência Russa Antidoping (RUSADA), FSB e do Laboratório Antidoping de
Moscovo. Mutko, juntamente como o seu vice, Yuri Nagornikh geria o sistema de
troca de análises: «Segundo
as ordens de Mutko e do
Nagornikh, os
testes de doping previamente recolhidos
fora das competições, deveriam ser recolhidos “debaixo da mesa” e em recipientes informais. Após a testagem destas amostras tomava-se a decisão se o atleta poderia ser “limpo” na competição, e se não for, ele ou ela ficavam em casa”.
— O
relatório da WADA não revela os novos nomes dos atletas apanhados em doping,
justificando a sua decisão com o “respeito pela privacidade”. Os nomes da
corredora russa Anastasiya
Kapachinskaya e da lançadora do disco Darya Pishchalnikova,
ambas desqualificadas e citadas no relatório, foram divulgados anteriormente.
Os nomes realmente novos
O
pugilista russo de origem arménia, Mikhail Aloyan,
detentor a medalha de prata no peso mosca (até 52 kg) dos JO-2016 no Rio perdeu
a sua medalha pela decisão do Tribunal Arbitral de Desporto de Losanna (CAS). A
análise do Aloyan (28), efetuada em 21 de agosto de 2016 acusou o uso de
estimulador tuaminoheptane – o doping proibido. O
treinador do Aloyan, Eduard Kravtsov prometeu que o seu pupilo irá recorrer da
decisão do tribunal, pois alegadamente “apenas” usou o spray contra a rinite,
escreve a página Meduza.
A
mesma «Meduza»
também expôs mais dois medalhistas russos de Sochi-2014, que foram apanhados no
uso de doping e cujos nomes ainda não foram divulgados oficialmente. São Alexandr Zubkov
e
Alexey Voyevoda,
a dupla do bobsleigh que ganhou quatro medalhas de ouro nos JO de Sochi.
No
relatório do McLarem é dito que nas análises dos dois medalhistas de ouro de Sochi
foi achada a quantidade anormalmente alta de sal, cuja presença é impossível na
urina de uma pessoa saudável. Os nomes não são revelados, todos os dados são
codificados, mas é dito que os dois ganharam 4 medalhas de ouro.
O
impossível teor de sal
O
documento sobre o teor de sal na urina, indicado no relatório se chama «Report
on Urinary Sodium Analysis and Data Interpretation» (“Relatório da análise
urinária de sódio e a interpretação de dados”); que apresenta os resultados de
um estudo realizado em outubro de 2016. No total, foram efetuadas 121 testes,
dos quais seis excederam a concentração máxima de sal; ou seja, há mais sal na
análise do que é humanamente possível na urina de uma pessoa saudável com a
desidratação. As mesmas seis amostras foram registadas entre as danificadas
mecanicamente, o que também indica a falsificação das análises.
A
página também demonstra que é possível chegar à mesma conclusão analisando o
documento chamado «Schedule of Samples and ADAMS Reports.xlsx» («Agenda de
amostras e relatório ADAMS.xlsx»; onde ADAMS é a base de dados da WADA que
contém a informação sobre análises), e onde estão listadas todas as análises de
todos os atletas com menção dos tipos de desporto, onde estes competem. O mesmo
acontece na análise dos documentos «Medals per day.doc» (1 e 2) e «Medals Care Sochi
COLOR.docx» («Plano colorido de controlo de medalhistas de Sochi»).
Os culpados
Os
seus nomes já foram mencionados anteriormente. Alexandr Zubkov foi mencionado pelo
ex-chefe do Laboratório antidoping de Moscovo, Grigori Rodchenkov, ainda na
primeira publicação da The New York Times, que desencadeou a investigação massificada
da WADA. Alexey Voyevoda figurava na lista que Rodchenkov entregou à WADA.
O
natural da Ucrânia, Voyevoda (1980) socorreu-se da retórica patrioteira russa: «...
quando surgiu a situação com Crimeia, começaram as sanções anti-russos, a
retórica anti-russa, e isso continuou através dos atletas». Zunkov afirmou que nada
teme: «Toda a minha vida joguei limpo, sempre realizei os testes de doping, e nem
poderá haver problemas».
A posição do Kremlin
O
secretário de imprensa do presidente russo, Dmitri Peskov, disse não se deve
agir emocionalmente aos relatos da existência na Rússia de conspiração estatal
de falsificação de testes de doping. Segindo Peskov, Kremlin estudará o
relatório da comissão independente da Agência Mundial Antidoping (WADA) e
verificará as informações disponíveis na página da comissão. Enquanto isso, o ministro
russo do desporto, Pavel Kolobkov, afirmou que na Rússia “não havia e não
poderia haver a conspiração estatal” e que com “as violações individuais e até
mesmo [...] com os crimes cometidos [...] irão lidar as autoridades policiais
russas”, informa a televisão russa tvrain
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