quinta-feira, novembro 30, 2017

Diários de doping Olímpico: notas que reforçam caso contra Rússia

O jornal The New York Times publicou os trechos dos diários do ex-chefe do Laboratório antidopagem de Moscovo, Grigory Rodchenkov. Isso acontece nas vésperas da reunião do Comité Executivo do Comité Olímpico Internacional (COI), que decidirá a admissão (ou não) da Rússia aos Jogos Olímpicos de 2018 na Coreia do Sul.

por: Rebecca R. Ruiz, 28/11, 2017

O químico russo Grigory Rodchenkov passou anos ajudando os atletas russos a ganharem vantagem ao usarem as substâncias proibidas. Seus diários de 2014 e 2015 descrevem os seus últimos anos como chefe de laboratório antidoping da Rússia antes de escapar aos Estados Unidos – fornecem um novo nível de detalhes sobre a fraude desportiva da Rússia nos últimos Jogos Olímpicos de Inverno [em Sochi] e a medida em que, o governo russo e as autoridades olímpicas russas estiveram envolvidas.

Suas notas, vistas pelo The New York Times e anteriormente não reveladas, falam sobre uma questão-chave para as autoridades olímpicas [internacionais]: o envolvimento do estado russo na fraude desportiva maciça. Nos últimos dias, ficou claro que o Comité Olímpico Internacional está convencido da autenticidade das notas e que é provável que estas contribuam para a decisão do grupo de aplicar as penas severas [à Rússia e aos seus atletas].
Mais tarde naquele dia [3/02/2014], ele escreveu, ele se encontrou com o ministro do desporto, Vitaly Mutko, e seu vice no escritório de Mutko em Sochi. “Passamos por todas as questões. Ele quer preservar Sochi como uma instalação de reserva. Isso é uma notícia para mim”, escreveu Rodchenkov, continuando as conversas detalhadas que ele teve com os químicos internacionais. Crédito Hilary Swift para The New York Times
Funcionários do COI anunciarão a sua decisão no dia 5 de dezembro. Se eles não banirão a Rússia por completo dos próximos Jogos Olímpicos de Inverno em Pyeongchang, na Coreia do Sul, eles provavelmente manterão todos os emblemas russos fora dos Jogos: a bandeira russa não será usada nas cerimónias de abertura e de encerramento, os atletas russos competirão em uniformes neutros e o hino russo não seria tocado. Tais restrições, disseram autoridades russas, equivaleriam à uma proibição absoluta, e a Rússia consideraria o boicote das Olimpíadas de 2018.

Juntamente com as declarações ajuramentadas do Dr. Rodchenkov, os diários detalham discussões específicas sobre fraudes que ele realizou juntamente com importantes funcionários, incluindo Vitaly Mutko, o ministro do desporto da Rússia na época, que agora é vice-primeiro ministro do governo russo; Yuri Nagornykh, ex-vice-ministro do desporto de Mutko, que também pertencia ao Comité Olímpico da Rússia; e Irina Rodionova, ex-vice-diretora do centro desportivo das equipas nacionais da Rússia.

Em 13 de janeiro de 2014, o Dr. Rodchenkov escreveu que o assistente da Sra. Rodionova, Aleksey Kiushkin, lhe trouxe um coquetel de drogas conhecido entre os oficiais como “Dushes”, uma mistura de três esteróides anabolizantes com martini. O Dr. Rodchenkov havia criado essa bebida para os melhores atletas russos que participaram nas Olimpíadas, e a Sra. Rodionova a preparou e distribuiu entre os treinadores e atletas.

No dia 1 de fevereiro de 2014, ele seguiu instruções que o Sr. Nagornykh, o vice-ministro, lhe havia dado no hotel “Azimut” na noite anterior. O Dr. Rodchenkov inspecionou o prédio ao lado de seu laboratório, controlado pelo Serviço Federal de Segurança (FSB). A urina [limpa] chegou a Sochi e foi armazenada sub-repticiamente lá, mas as amostras não foram classificadas por cada tipo de desporto ou alfabetizadas por nome de atleta correspondente.

No dia 3 de fevereiro de 2014, quatro dias antes do início dos JO de Sochi, os preparativos do Dr. Rodchenkov culminaram com sua apresentação ao Sr. Mutko, o ministro dos desportos. Numa reunião no escritório do Sr. Mutko na sede do comité organizador local, o Dr. Rodchenkov entregou ao Sr. Mutko uma cópia da “Lista Dushes”, enumerando dezenas de atletas olímpicos russos que estavam ingerindo o coquetel de drogas e tinham que ter a sua urina incriminadora trocada pela urina limpa, armazenada previamente.

Nessa reunião, o ministro [Mutko] sugeriu manter o laboratório olímpico [de Sochi] aberto após os Jogos, como um lugar para experimentar novas fronteiras de doping.
Naquele dia [17/02/2017], a equipa russa de hóquei feminino foi eliminada. “Trabalhei meu turno noturno”, escreveu Rodchenkov, referindo-se à troca de urina durante a noite. Crédito Hilary Swift para The New York Times
Funcionários russos sugerem que o Dr. Rodchenkov atuava sozinho na manipulação de mais de 100 amostras incriminadoras de urina em Sochi, um ato que até o momento levou as autoridades mundiais a [anular e] pedir à Rússia que devolva 11 medalhas olímpicas.

Dr. Rodchenkov e seu advogado [Jim Walden do escritório de advocacia Walden, Macht and Haran] dizem que as notas do diário deixam claro que ele era apenas um peão num sistema controlado nos mais altos níveis do estado russo. Os documentos publicados hoje pelo Comité Olímpico Internacional indicam que eles também aceitam isso.

“Dr. Rodchenkov dizia a verdade quando ele forneceu explicações sobre o esquema de encoberta que ele geria”, disseram as autoridades olímpicas na primeira decisão disciplinar relacionada ao escândalo de doping russo, justificando uma proibição vitalícia aos 19 atletas russos até agora punidos pelos esquemas de Sochi.

O Dr. Rodchenkov disse ao The Times no ano passado que ele apontava os detalhes de seu trabalho em Moscovo de forma consciente e não usando um computador – como fazia o seu amigo Nikita Kamayev, ex-chefe da autoridade de antidopagem da Rússia (RUSADA), que morreu, subitamente, em 2016. O Dr. Rodchenkov atribuiu a morte súbita do Sr. Kamayev ao anúncio de que ele estava escrevendo um livro, de que o Dr. Rodchenkov tentou dissuadi-lo.

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