domingo, maio 12, 2019

Submarino soviético K-21, que perseguia e afundava os barcos pesqueiros da Noruega

Em abril de 1943, o submarino soviético K-21, comandado pelo capitão Nikolai Lunin, atacou vários e afundou dois barcos pesqueiros, desarmados e pertencentes aos pescadores da Noruega, país sob a ocupação nazi desde 1940.
  
No dia 12 de abril de 1943, K-21 aproximou-se à um grupo de barcos pesqueiros noruegueses, ao ocidente da ilha Senja, uma área muito rica em recursos pesqueiros na região de Tromsø.
  
Os noruegueses estavam à pescar sem receios, dado que as autoridades alemãs permitiam a pesca costeira.

Após avisarem o submarino soviético, os pescadores içaram a bandeira da Noruega, mostrando a pertença dos seus barcos. Apesar disso, os marinheiros soviéticos abriram o fogo contra pescadores desarmados, usando o canhão do submarino e mesmo as armas ligeiras e até pessoais.
O canhão de 100 mm na proa de K-21 em exercícios de fogo
O primeiro barco atcado foi Havegga, com tripulação de 7 pessoas. O seu capitão parou a máquina, içando a bandeira norueguesa, para mostrar a nacionalidade do barco. Em resposta, K-21 abriu o fogo de canhão contra Havegga, danificando a proa, matando três e ferindo três outros pescadores. Depois disso, a tripulação soviética atacou os pescadores sobreviventes, usando as armas ligeiras, ferindo, com a gravidade, o capitão do barco. K-21 aproximou-se tão perto de Havegga, que os oficiais soviéticos (incluindo capitão Lunin) atiravam contra os pescadores, usando as suas armas pessoais.

O barco Baren, com tripulação de 6 pescadores, que estava próximo, foi obrigado, pelo fogo da metralhadora do K-21 de se afastar, dirigindo-se ao alto mar.

O barco Øistein estava mais longe e não tinha compreendido a situação, achando que o submarino soviético estava pedir algum peixe. Os pescadores foram se aproximar, quando numa distância de cerca de 100 metros K-21 alvejou Øistein com o seu canhão de 100 mm, danificando proa e matando 5 pescadores.
Barco pesqueiro Øistein (à direita) antes do ataque soviético | arquivo
Barco pesqueiro Øistein após o ataque soviético | arquivo
A tripulação de Skrein (GRT 70) foi aprisionada, sob ameaça de armas. Ultimo atacado foi o Frøy (GRT 40), que estava puxar a rede. O barco foi alvejado com fogo de canhão e afundado, em resultado um membro de tripulação foi ferido e um morto.
A tripulação de Skrein em Murmansk na URSS | arquivo
Todos os pescadores sobreviventes, abandonados pelos soviéticos no alto mar (!), foram resgatados pelo barco pesqueiro Juda, único que não foi alvo do corsário soviético.

Em 1979, na entrevista ao jornal norueguês Aftenposten, o capitão sobrevivente da Havegga, Sr. Alver caraterizou os marinheiros soviéticos de seguinte maneira:

Foi um jogo sádico, que o capitão do submarino adorou. Essa é a minha opinião. Temos repetidamente solicitado esclarecimentos às autoridades soviéticas. Não recebemos nenhuma resposta. Não houve sequer um simples pedido de desculpas... Se eu encontrasse novamente este capitão de submarino russo, eu colocaria uma faca nele, mesmo que nos encontrássemos na igreja.

Além dos pescadores noruegueses, nessa história houve uma outra vítima – o marinheiro soviético Alexey Labutin de apenas 18 anos, que servia no K-21 como estafeta.
Marinheiro Labutin no cativeiro alemão | arquivo
...Ao conduzir o fogo de artilharia contra o quarto barco às 15h17, escreveu Lunin no seu relatório, as ondulação levou bordas fora o carregador de obuses do canhão de 100 mm na proa – o marinheiro-estafeta da Marinha Vermelha Labutin. Ouvindo o grito “Homem no mar”, eu, como aqueles presentes na ponte, o vi junto à borda da popa do lado de estibordo, depois ele foi coberto por uma onda, e não mais apareceu na superfície. O marinheiro caído – Labutin – considero como afogado.

Era uma mentira grosseira.

Lunin e a tripulação soviética simplesmente abandonaram o seu camarada de armas, que foi à sua primeira missão de combate, praticamente sem saber nadar.
Labutin oficialmente dado como morto pelo capitão do K-21 | arquivo
Mas o marinheiro Labutin sobreviveu, salvo pelos pescadores noruegueses, os mesmos que ele ajudava à matar e afundar. O marinheiro foi levado a bordo, recebeu as roupas secas, os noruegueses lhe ofereceram o café. Ele recusou, temendo que fosse o veneno (Sic!) Na terra, Labutin foi entregues às autoridades alemãs de ocupação, levado para um campo de prisioneiros de guerra em Tromsø, onde trabalhou como estivador no porto local.
Labutin no cativeiro alemão | arquivo
No inverno de 1944, os membros da resistência norueguesa levaram Labutin e alguns outros POW´s para a Suécia e, a partir daí, da Finlândia para a União Soviética. Labutin foi novamente mobilizado para o Exército Vermelho, participou na batalha de Koenigsberg, foi ferido e deixou o serviço militar em 1948.

Imediatamente após a guerra, ele escreveu uma carta ao seu ex-comandante, perguntando por que razão foi abandonado à morte no mar. O futuro almirante soviético Lunin não se dignou de lhe responder...

Os pescadores de Skrein foram levados à força para Murmansk. Após as interrogações pelo NKVD, apenas um deles, jovem Rasmus Ridningen de 17 anos concordou em colaborar com os soviéticos. Ele aprendeu russo, se tornando o operador de rádio e voltou à Noruega em 1945. Seis outros pescadores foram condenados aos diversos termos prisionais nos campos de concentração soviéticos. Três deles voltaram à Noruega em 1947, três outros morreram no GULAG.
Os pescadores resgatados pela Noruega com a vida do GULAG soviético
“Do barco de pesca perto da Senja ao campo № 99 de Karaganda e Sibéria”:
a história de três pescadores noruegueses sobreviventes
Após o fim da II G.M., os pescadores feridos e as famílias dos mortos em Gryllefjord esperavam que o comando soviético se desculpasse e explicasse a ação do comandante do K-21, mas isso nunca aconteceu.

O próprio Lunin explicou as suas ações pelo fa(c)to de que os pescadores noruegueses entregavam a maior parte das suas capturas aos alemães, o que significa, na lógica soviética, que os noruegueses eram cúmplices dos nazis.
O capitão Nikolai Lunin junto ao periscópio do seu submarino
Além disso, Lunin explicou que tinha uma ordem para afundar e destruir todos os barcos e navios nas áreas de atuação do seu submarino. No total foram-lhe atribuídas 13 vitórias: dois navios sob bandeira alemã e 11 barcos pesquiros noruegueses desarmados.
Rasmus Olsen é um dos moradores de Gryllefjord junto à placa memorial, colocada em 1992 em memória dos pescadores noruegueses mortos pelos soviéticos no mar e no GULAG. Ele tinha apenas nove anos quando o seu pai foi morto por submarinistas soviéticos de K-21.

Fonte1; Fonte2 e Fonte3

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