Em
abril de 1943, o submarino soviético K-21, comandado
pelo capitão Nikolai Lunin,
atacou vários e afundou dois barcos pesqueiros, desarmados e pertencentes aos
pescadores da Noruega, país sob a ocupação nazi desde 1940.
No
dia 12 de abril de 1943, K-21 aproximou-se à um grupo de barcos pesqueiros noruegueses,
ao ocidente da ilha Senja, uma
área muito rica em recursos pesqueiros na região de Tromsø.
Os
noruegueses estavam à pescar sem receios, dado que as autoridades alemãs
permitiam a pesca costeira.
Após
avisarem o submarino soviético, os pescadores içaram a bandeira da Noruega,
mostrando a pertença dos seus barcos. Apesar disso, os marinheiros soviéticos
abriram o fogo contra pescadores desarmados, usando o canhão do submarino e mesmo as armas ligeiras e até pessoais.
O canhão de 100 mm na proa de K-21 em exercícios de fogo |
O
primeiro barco atcado foi Havegga, com tripulação de 7 pessoas. O seu capitão
parou a máquina, içando a bandeira norueguesa, para mostrar a nacionalidade do
barco. Em resposta, K-21 abriu o fogo de canhão contra Havegga, danificando a
proa, matando três e ferindo três outros pescadores. Depois disso, a tripulação
soviética atacou os pescadores sobreviventes, usando as armas ligeiras, ferindo,
com a gravidade, o capitão do barco. K-21 aproximou-se tão perto de Havegga,
que os oficiais soviéticos (incluindo capitão Lunin) atiravam contra os
pescadores, usando as suas armas pessoais.
O
barco Baren, com tripulação de 6 pescadores, que estava próximo, foi obrigado,
pelo fogo da metralhadora do K-21 de se afastar, dirigindo-se ao alto mar.
O
barco Øistein estava
mais longe e não tinha compreendido a situação, achando que o submarino
soviético estava pedir algum peixe. Os pescadores foram se aproximar, quando numa
distância de cerca de 100 metros K-21 alvejou Øistein com o seu canhão de 100 mm,
danificando proa e matando 5 pescadores.
Barco pesqueiro Øistein (à direita) antes do ataque soviético | arquivo |
Barco pesqueiro Øistein após o ataque soviético | arquivo |
A
tripulação de Skrein (GRT 70) foi aprisionada, sob ameaça de armas. Ultimo
atacado foi o Frøy (GRT 40), que estava puxar a rede. O barco foi alvejado com
fogo de canhão e afundado, em resultado um membro de tripulação foi ferido e um
morto.
A tripulação de Skrein em Murmansk na URSS | arquivo |
Todos
os pescadores sobreviventes, abandonados pelos soviéticos no alto mar (!), foram resgatados pelo barco pesqueiro Juda, único
que não foi alvo do corsário soviético.
Em
1979, na entrevista ao jornal norueguês
Aftenposten, o capitão
sobrevivente da Havegga, Sr. Alver caraterizou os marinheiros soviéticos de
seguinte maneira:
–
Foi um jogo sádico, que o capitão do submarino adorou. Essa é a minha opinião.
Temos repetidamente solicitado esclarecimentos às autoridades soviéticas. Não
recebemos nenhuma resposta. Não houve sequer um simples pedido de desculpas...
Se eu encontrasse novamente este capitão de submarino russo, eu colocaria uma
faca nele, mesmo que nos encontrássemos na igreja.
Além dos pescadores noruegueses,
nessa história houve
uma outra vítima – o marinheiro soviético Alexey Labutin de apenas 18 anos, que servia no K-21 como estafeta.
Marinheiro Labutin no cativeiro alemão | arquivo |
...Ao
conduzir o fogo de artilharia contra o quarto barco às 15h17, escreveu Lunin no
seu relatório, as ondulação levou bordas fora o carregador de obuses do canhão de
100 mm na proa – o marinheiro-estafeta da Marinha Vermelha Labutin. Ouvindo o
grito “Homem no mar”, eu, como aqueles presentes na ponte, o vi junto à borda
da popa do lado de estibordo, depois ele foi coberto por uma onda, e não mais apareceu
na superfície. O marinheiro caído – Labutin – considero como afogado.
Era uma mentira grosseira.
Lunin
e a tripulação soviética simplesmente abandonaram o seu camarada de armas, que
foi à sua primeira missão de combate, praticamente sem saber nadar.
Labutin oficialmente dado como morto pelo capitão do K-21 | arquivo |
Mas
o marinheiro Labutin sobreviveu, salvo pelos pescadores noruegueses, os mesmos
que ele ajudava à matar e afundar. O marinheiro foi levado a bordo, recebeu as
roupas secas, os noruegueses lhe ofereceram o café. Ele recusou, temendo que
fosse o veneno (Sic!) Na terra, Labutin foi entregues às autoridades alemãs de
ocupação, levado para um campo de prisioneiros de guerra em Tromsø, onde
trabalhou como estivador no porto local.
Labutin no cativeiro alemão | arquivo |
No
inverno de 1944, os membros da resistência norueguesa levaram Labutin e alguns
outros POW´s para a Suécia e, a partir daí, da Finlândia para a União
Soviética. Labutin foi novamente mobilizado para o Exército Vermelho,
participou na batalha de Koenigsberg, foi ferido e deixou o serviço militar em
1948.
Imediatamente
após a guerra, ele escreveu uma carta ao seu ex-comandante, perguntando por que
razão foi abandonado à morte no mar. O futuro almirante soviético Lunin não se
dignou de lhe responder...
Os
pescadores de Skrein foram
levados à força para Murmansk. Após as interrogações pelo NKVD, apenas um
deles, jovem Rasmus Ridningen de 17 anos concordou em colaborar com os
soviéticos. Ele aprendeu russo, se tornando o operador de rádio e voltou à Noruega em 1945. Seis outros pescadores foram condenados aos diversos termos prisionais nos campos de concentração
soviéticos. Três deles voltaram à Noruega em 1947, três outros morreram no GULAG.
Os pescadores resgatados pela Noruega com a vida do GULAG soviético |
“Do barco de pesca perto da Senja ao campo № 99 de Karaganda e Sibéria”: a história de três pescadores noruegueses sobreviventes |
Após
o fim da II G.M., os pescadores
feridos e as famílias dos mortos em Gryllefjord esperavam que o comando soviético se
desculpasse e explicasse a ação do comandante do K-21, mas isso
nunca aconteceu.
O próprio Lunin explicou as
suas ações pelo fa(c)to de que os pescadores noruegueses entregavam
a maior parte das suas capturas aos alemães, o que significa, na
lógica soviética, que os noruegueses eram cúmplices dos nazis.
O capitão Nikolai Lunin junto ao periscópio do seu submarino |
Além disso, Lunin
explicou que tinha uma ordem para afundar e destruir todos
os barcos e navios nas áreas de
atuação do seu submarino. No total foram-lhe atribuídas 13 vitórias: dois navios sob bandeira alemã e 11 barcos pesquiros noruegueses desarmados.
Rasmus Olsen é um dos moradores
de Gryllefjord junto
à placa memorial,
colocada em 1992 em
memória dos pescadores noruegueses
mortos pelos
soviéticos no mar e no GULAG.
Ele tinha apenas nove
anos quando o seu
pai foi morto por submarinistas soviéticos de K-21.
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