Na
União Soviética, a água-de-colónia e outros líquidos técnicos eram consumidos,
em forma de bebidas alcoólicas, pelas camadas baixas da sua população: gente sem-abrigo,
operários de construção civil, alcoólicos/alcoólatras. Basicamente, graças ao seu baixíssimo
preço e alto grau de álcool etílico.
Mais,
em 17 de maio de 1985, Mikhail Gorbachev assinou o decreto “Sobre o
fortalecimento da luta contra a embriaguez”, apelidado pelo povo da “lei seca”.
Bebidas alcoólicas tradicionais tornaram-se escassas e de difícil acesso, a
produção de aguardente caseira era proibida por lei (Sic!), razão pela qual as
pessoas começaram a inventar maneiras populares de beber algo alcoólico e
acessível – as lacas, cola “BF”, todos os tipos de desnaturantes, água-de-colónia
e líquios limpadores de tapetes ou de vidros, diversos anticongelantes, entre
outros.
Água-de-colónia “Shipr” |
O
mais popular na URSS, para beber, era água-de-colónia “Troinoy” (literalmente Triplo),
chamado pelos seus apreciadores de triplo, troinukha,
“licor de limão” e conhaque “três ossos”. Um frasquinho desta água-de-colónia custava
apenas 40 copeques (0,67 dólares ao câmbio oficial) e ao mesmo tempo tinha o teor
alcoólico de até 64%, que era 1,5 vezes mais forte que a vodca e proporcionava
uma alta eficiência alcoólica – apesar de ser terrivelmente desagradável, 3-4
goles bastava para que cidadão do primeiro país socialista do mundo ficar bastante
bêbado.
O
produto era muito popular nas prisões e penitenciárias soviéticas – os guardas
o vendiam aos prisioneiros por 10 rublos cada frasquinho (16,94 dólares).
Perfume feminino “Cravo vermelho” (mais pequeno) e água-de-colónia “Troinoy” |
Na
foto acima – um frasquinho típico de “Troinoy” do final da década de 1980, como
podemos ver, o frasquinho é bastante volumoso, muitas vezes era comprado para duas
pessoas. Os frasquinhos menores geralmente eram consumidos por um único “apreciador”.
Outros
meios também eram bastante populares – especialmente desodorizantes contendo
álcool e loções pós-barba. O principal critério de seleção sempre foi o teor
alcoólico, e nestes cosméticos soviéticos o álcool era abundante. Os produtos eram
consumidos diluídos ou não.
Nas
fábricas e outras empresas com o controlo mais apertado de acesso, eram populares
os cosméticos em frascos retangulares – facilmente transportáveis no bolso. A
fotografia é contemporânea, mas os frascos são quase em nada diferentes dos
soviéticos.
Outras versões modernas russas, até hoje vários consumidores russos compram estas
colónias para beber. As descrições nos rótulos sobre o “aroma de fantasia com
uma nota cítrica” são realmente parecidas com as descrições de bebidas
alcoólicas.
Atualidade. O preço é de 89 rublos, cerca de 1,4 dólares, mais barato que a vodca |
"Nossa Crimeia" (rótulo azul) e "Tudo nos conformes" (rótulo vermelho) |
Nos
anos finais da União Soviética os “apreciadores” bebiam o líquido de limpar pára-brisas.
A fábrica belarusa “Barhim” produzia o líquido limpa-vidros chamado “Sekunda” –
em tom azulado, semelhante, na sua composição, aos líquidos modernos de lavagem
de vidros de carros, que era vendido nos recipientes de plástico de 1 litro. Os
bêbados soviéticos consumiam o frasco de “Sekunda” em grupos – apesar da advertência
oficial para não fazer isso, estampada no seu rótulo.
Água-de-colónia “Shipr” |
Os
“conhecedores” e “estetas” consumiam coisas absolutamente exóticas: por
exemplo, um coquetel, que era a mistura de cerveja e spray anti-insetos, considerando
um chique especial para “polvilhar” a bebida não uma, mas várias vezes.
Desnaturado técnico. Não se pode beber. VENENO! |
O
vídeo abaixo é um trecho do final do filme soviético “Fontan” (O Fontanário),
que mostra como era consumida essa bebida: (“Por que você fez três descargas?”),
no filme, ao propósito, é perfeitamente transmitida a atmosfera da época:
Bónus
Anedota
da época soviética, dois alcoólicos/alcoólatras entram na loja de perfumes e pedem
a vendedora: “Dois frasquinhos de “Troinoy” e um de “Cravo vermelho”.
A
vendedora: – O “Cravo vermelho” é caro, levem
três “triplos”!
Alcoólicos/alcoólatras:
– Não, estamos com uma senhora!!!
Bónus
II
O
estalinista afro-brasileiro Cristiano Alves Lima prova o perfume russo “Chipre”:
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