sexta-feira, maio 31, 2019

Água-de-colónia e outros líquidos técnicos que eram bebidas na União Soviética

Na União Soviética, a água-de-colónia e outros líquidos técnicos eram consumidos, em forma de bebidas alcoólicas, pelas camadas baixas da sua população: gente sem-abrigo, operários de construção civil, alcoólicos/alcoólatras. Basicamente, graças ao seu baixíssimo preço e alto grau de álcool etílico.    

Mais, em 17 de maio de 1985, Mikhail Gorbachev assinou o decreto “Sobre o fortalecimento da luta contra a embriaguez”, apelidado pelo povo da “lei seca”. Bebidas alcoólicas tradicionais tornaram-se escassas e de difícil acesso, a produção de aguardente caseira era proibida por lei (Sic!), razão pela qual as pessoas começaram a inventar maneiras populares de beber algo alcoólico e acessível – as lacas, cola “BF”, todos os tipos de desnaturantes, água-de-colónia e líquios limpadores de tapetes ou de vidros, diversos anticongelantes, entre outros.
Água-de-colónia “Shipr”
O mais popular na URSS, para beber, era água-de-colónia “Troinoy” (literalmente Triplo), chamado pelos seus apreciadores de triplo, troinukha, “licor de limão” e conhaque “três ossos”. Um frasquinho desta água-de-colónia custava apenas 40 copeques (0,67 dólares ao câmbio oficial) e ao mesmo tempo tinha o teor alcoólico de até 64%, que era 1,5 vezes mais forte que a vodca e proporcionava uma alta eficiência alcoólica – apesar de ser terrivelmente desagradável, 3-4 goles bastava para que cidadão do primeiro país socialista do mundo ficar bastante bêbado.

O produto era muito popular nas prisões e penitenciárias soviéticas – os guardas o vendiam aos prisioneiros por 10 rublos cada frasquinho (16,94 dólares).
Perfume feminino “Cravo vermelho” (mais pequeno) e água-de-colónia “Troinoy”
Na foto acima – um frasquinho típico de “Troinoy” do final da década de 1980, como podemos ver, o frasquinho é bastante volumoso, muitas vezes era comprado para duas pessoas. Os frasquinhos menores geralmente eram consumidos por um único “apreciador”.

Outros meios também eram bastante populares – especialmente desodorizantes contendo álcool e loções pós-barba. O principal critério de seleção sempre foi o teor alcoólico, e nestes cosméticos soviéticos o álcool era abundante. Os produtos eram consumidos diluídos ou não.

Nas fábricas e outras empresas com o controlo mais apertado de acesso, eram populares os cosméticos em frascos retangulares – facilmente transportáveis no bolso. A fotografia é contemporânea, mas os frascos são quase em nada diferentes dos soviéticos.

Outras versões modernas russas, até hoje vários consumidores russos compram estas colónias para beber. As descrições nos rótulos sobre o “aroma de fantasia com uma nota cítrica” ​​são realmente parecidas com as descrições de bebidas alcoólicas.
Atualidade. O preço é de 89 rublos, cerca de 1,4 dólares, mais barato que a vodca
"Nossa Crimeia" (rótulo azul) e "Tudo nos conformes" (rótulo vermelho)
Nos anos finais da União Soviética os “apreciadores” bebiam o líquido de limpar pára-brisas. A fábrica belarusa “Barhim” produzia o líquido limpa-vidros chamado “Sekunda” – em tom azulado, semelhante, na sua composição, aos líquidos modernos de lavagem de vidros de carros, que era vendido nos recipientes de plástico de 1 litro. Os bêbados soviéticos consumiam o frasco de “Sekunda” em grupos – apesar da advertência oficial para não fazer isso, estampada no seu rótulo.
Água-de-colónia “Shipr”
Os “conhecedores” e “estetas” consumiam coisas absolutamente exóticas: por exemplo, um coquetel, que era a mistura de cerveja e spray anti-insetos, considerando um chique especial para “polvilhar” a bebida não uma, mas várias vezes.
Desnaturado técnico. Não se pode beber. VENENO!
O vídeo abaixo é um trecho do final do filme soviético “Fontan” (O Fontanário), que mostra como era consumida essa bebida: (“Por que você fez três descargas?”), no filme, ao propósito, é perfeitamente transmitida a atmosfera da época:

Bónus

Anedota da época soviética, dois alcoólicos/alcoólatras entram na loja de perfumes e pedem a vendedora: “Dois frasquinhos de “Troinoy” e um de “Cravo vermelho”.
A vendedora:  – O “Cravo vermelho” é caro, levem três “triplos”!
Alcoólicos/alcoólatras: – Não, estamos com uma senhora!!!

Bónus II

O estalinista afro-brasileiro Cristiano Alves Lima prova o perfume russo “Chipre”:

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