segunda-feira, maio 27, 2019

Como Finlândia derrotou o comunismo soviético

Em 1939 União Soviética atacou a pacífica Finlândia com blindados e aviação, usando o contingente militar de quase 1 milhão de soldados e oficiais. Os finlandeses responderam com exército essencialmente voluntário e armamento obsoleto – mas venceram, defendendo um país livre e economicamente próspero, contra o comunismo agressivo e pobre.
  
«República Popular da Finlândia»

Na era estalinista a URSS foi formulado o objetivo final da existência do sistema soviético – a construção do comunismo, através da conquista do mundo inteiro – por meios políticos ou militares.
Antes de mais nada, planeava-se reconquistar as regiões que pertenciam à Rússia czarista – Finlândia e Polónia. A propaganda soviética chamava polacos/poloneses e finlandeses de “polacos/poloneses brancos” e “finlandeses brancos” (em alusão aos exércitos monárquicos russos) – aos operários e camponeses soviéticos empobrecidos diziam que estes povos adorariam entrar e rapidamente na URSS.

Ao longo da década de 1930, a URSS aliciava a Finlândia com suas iniciativas imperiais, propondo “mover a fronteira e transferir parte do território finlandês para a URSS. Primeiro de tudo, a URSS queria anexar a linha defensiva de Mannerheim – a chamando de exemplo de agressão finlandesa. Se a Finlândia tivesse entregue a linha de Mannerheim, muito dificilmente teria resistido ao exército soviético.

Tendo falhado em conseguir qualquer coisa pela via “diplomática” – a URSS moveu o seu exército contra Finlândia. Pouco antes do ataque militar do Kremlin, a União Soviética tinha criado a “República Popular da Finlândia" – em cujo nome foi efetuado o ataque soviético contra a Finlândia.

«Os finlandeses de Minsk/Mensk»

No dia 1 de dezembro de 1939 no jornal “Pravda” foi publicado a notícia que dizia que na Finlândia (na verdade, no Kremlin) já foi formada a “República Popular da Finlândia”, cujo governo já foi convidado para se deslocar ao Moscovo, e em Helsínquia está, relativamente falando, “a Junta sangrenta finlandesa, tomando ilegalmente o poder na Finlândia”. Não parece absolutamente nada com a propaganda usada contra Ucrânia em 2014.

Ainda em outubro de 1939, na URSS e no mais estrito sigilo se começou à formar o Exército Popular da Finlândia – inicialmente planeado para ser formado pelos “finlandeses soviéticos” e pelos caréios etnicamente próximos aos finlandeses – mas dado que se consegui apenas cerca de 1.000 pessoas, as fileiras do “exército popular” foram completos pelos belarusos – na URSS brincava-se em voz baixa: “os finlandeses de Minsk irão às minas finlandesas.
Um desses “finlandeses de Minsk” foi o noivo, o primeiro (e, talvez, o único) amor da avó do autor deste texto (na foto em cima). Ele foi chamado ao serviço militar soviético em 1939 e morreu nesta ignóbil “guerra finlandesa” do império soviético – depois disso foi esquecido e classificado pelo regime comunista, que não reconhecia as suas guerras agressivas.

A Helsínquia bombardeada e queimada
Desde as primeiras horas da guerra finlandesa, a URSS começou a bombardear a Finlândia – para desmoralizar e intimidar a população civil. Os primeiros aviões começaram a lançar panfletos com propaganda e chantagem tipicamente soviéticas – a propaganda dizia que o povo finlandês estava sofrendo sob o jugo da burguesia, que a “junta finlandesa” deveria renunciar – e que depois disso “virá a paz”.
No mesmo dia, às 14h30, os soviéticos começaram a bombardear a Helsínquia com bombas incendiárias, quando as ruas tinham o número máximo de transeuntes. As primeiras bombas caíram perto da estação ferroviária – uma área tradicionalmente lotada da cidade. O edifício da estação foi danificado, restaurado após a guerra.
As bombas soviéticas atingiram a Praça do Senadomuitos desses prédios foram engolidos pelo fogo, como pode ser visto na foto comparativa do título nesta seçãoeste é o atual Museu Nacional da Finlândia, que está localizado na Praça do Senado, Unioninkatu № 34.
As bombas soviéticas danificaram a Sé Catedral na mesma praça – depois o edifício foi completamente restaurado:
Ao longo da rua Aleksanterinkatu, podemos ver, aqui e ali vários edifícios modernos que foram erguidos no local dos prédios antigos completamente queimados em resultado dos bombardeamentos soviéticos, e que não puderam ser restaurados.
Pelo menos 50 bombas soviéticas caíram na rua principal de Fredrikinkatu – que na época era conhecida sob o nome sueco Fredriksgatan. Aqui um enorme edifício do instituto tecnológico foi destruído, várias casas de habitação de cinco e seis andares, diversos carros queimados – os “finlandeses que definhavam sob a opressão dos finlandeses brancos” possuíam muitos veículos pessoais.

Bombas caíam ao largo da atual avenida Mannerheim – o centro de Helsinquia. Estes edifícios de vidro misturados com edifícios históricos são resultados dos bombardeios soviéticos de 1939.

Ironicamente, os bombardeiros soviéticos atingiram a sua própria embaixada em Helsínquia – localizada nessa área:

Ao mesmo tempo, o ministro soviético Molotov, segundo um hábito puramente soviético, mentia que não houve os bombardeios de Helsínquia – e que o governo soviético estava lançando as cestas de pão para o “faminto povo finlandês”, que também definhava sob a opressão dos “brancos capitalistas finlandeses”. 
Mais tarde, os finlandeses colocaram essas “cestas de pão” soviéticas no museu militar – na foto você pode ver uma bomba aérea dispersora rotativa, um dos primeiros protótipos de bombas de fragmentação – com a qual os invasores soviéticos bombardearam a cidade de Helsínquia.

Resistência. Batalha na estrada de Raat.

Os líderes militares e políticos soviéticos contavam com o colaboracionismo em massa dos finlandeses algo que não aconteceu. O exército finlandês foi formado em menor tempo possível e quase exclusivamente por voluntários – que sabiam por que defendiam a sua Pátria. Os finlandeses tinham lacunas em equipamentos militares e em armamento – a Finlândia era um país pacífico e não planeava atacar ninguém – por isso na Guerra de Inverno / Talvisota, foram usadas, por exemplo, os canhões da Primeira Guerra Mundial.

A Finlândia não produzia seus próprios tanques – o governo finlandês comprou na Grã-Bretanha os 34 blindados Vickers – imediatamente após de ouvir a narrativa soviética sobre os “irmãos finlandeses perdidos que precisam urgentemente de serem libertados”.
Quase todos os Vickers foram perdidos nas batalhas contra os invasores soviéticos – um dos tanques sobreviventes com a placa de identificação pode ser visto agora no museu militar em Helsínquia.

Foram usadas as antigas metralhadoras pesadas da Primeira Guerra Mundial:

As bombas incendiárias, chamados de “Cocktail para Molotov” – a sua produção foi estabelecida em pequenas fábricas nas cidades – em toda a Finlândia os finlandeses recolhiam as garrafas de vidro vazias. Os “Cocktail para Molotov” eram pensados para “cegar” os visores dos blindados soviéticos – até que os finlandeses notaram, se a garrafa entrar na conduta de ar na parte traseira do tanque soviético – este ardia como uma vela.
As histórias sobre a “República Popular da Finlândia” apenas escondiam os planos soviéticos para a ocupação total do país – na URSS já eram produzidas os mapas com toda a Finlândia inclusa na União Soviética; o sistema de campo de concentração GULAG estava preparado para receber até 500.000 finlandeses para “reeducação” – tendo em conta que toda a população da Finlândia era de três milhões de pessoas. No lugar dos finlandeses deportados os bolcheviques tinham planeado trazer as populações das regiões centrais da Rússia Soviética, para mais tarde estes contarem as histórias de que “a Finlândia sempre foi uma parte da Rússia”.

Um dos exemplos da tática bem-sucedida da resistência contra agressão soviética foi a batalha na estrada de Raat, durante a qual o Exército Vermelho (RKKA) perdeu 17.000 homens. Em 20 de dezembro de 1939, a 44ª divisão do RKKA de Zhytomyr (Ucrânia Soviética) entrou na Finlândia. O império bolchevique preferia lutar, usando os recrutas das colónias anexadas.
Os militares do RKKA: congelados até a morte e POW
De dia, os soldados do RKKA naturalmente se moviam, sem nenhuma resistência, ao longo da floresta, mas no meio da noite – eram atacados pelos franco-atiradores finlandeses invisíveis. A divisão passou na floresta durante duas semanas, todos os dias o mesmo cenário era repetido. No final, a menor parte dos 17 mil mortos foi abatida pelos finlandeses – a maioria morreu congelada. Os prisioneiros sortudos eram alimentados, aquecidos e enviados para a retaguarda segura.
Na foto acima – um vagão soviético de comunicação com as antenas no telhado, abandonado numa das batalhas na estrada de Raat, bem como a placa de fronteira da Finlândia – sobre o qual os soldados soviéticos já tinham rabiscado: URSS.
A bandeira da 44ª Divisão de Zhytomyr, que deixou de existir após a batalha na estrada de Raat. Na foto pode ser visto pobre fardamento e armamento dos militares soviéticos. O governo soviético simplesmente mandou milhares de pessoas avançar nas florestas finlandesas – [em nome de uma utopia bolchevique].
Assim eram equipados os combatentes finlandeses, que durante a maior parte da batalha de Raat permaneceram invisíveis aos soviéticos. À esquerda – o franco-atirador finlandês com equipamento de esqui – que lhe permitia mover-se rapidamente. À direita – o combatente de um grupo de assalto com a submetralhadora Suomi.

Apesar de todo o poder militar da URSS, os finlandeses conseguiram sobreviver e salvar o seu Estado. Os planos da “República Popular da Finlândia” foram enterrados na estrada de Raat – a URSS conseguiu ficar com territórios reduzidos, perdendo 130.000 militares mortos e destruindo completamente o seu próprio apoio internacional.

«Podemos repetir». Em vez de um posfácio.

Pouca gente sabe – mas quase imediatamente após o fim da guerra finlandesa – Estaline/Stalin ordenou ao Estado-Maior do RKKA que desenvolvesse planos para uma nova guerra contra a Finlândia – desta vez com a ocupação do país – o novo ataque começaria em julho de 1941 – e apenas o começo da guerra nazi-soviética impediu a implementação deste plano.
Na URSS, a guerra soviético-finlandesa foi silenciada e excluída dos livros de história – cerca de 130 mil mortos e dezenas de milhares de feridos foram condenados ao esquecimento, os feridos naquela guerra nem sequer eram considerados veteranos – e, no início de 1941, deixaram de importar – todos na URSS já se esqueceram da guerra finlandesa.
Na própria Finlândia, a Guerra de Inverno / Talvisota é de grande importância – os finlandeses entendem que eles salvaram o seu próprio país do abismo da degradação soviética. Finlândia de hoje é um excelente exemplo do que uma antiga região do império russo poderia parecer, sem conhecer um único dia de comunismo – é um país próspero, que em termos de desenvolvimento ocupa uma das primeiras posições do ranking mundial.

Fotos: arquivo e Maxim Mirovich | Texto: Maxim Mirovich e [Ucrânia em África]

1 comentário:

Anónimo disse...

Um finlandês me disse uma vez que havia uma anedota nessa época: "assim como Deus transformou a mulher de Ló em estátua de sal, o Todo Poderoso converteu os soldados soviéticos em sorvete". :D