Dos
26 generais soviéticos que morreram no cativeiro nazi(sta), apenas Dmitry Karbyshev foi
condecorado com o título de Herói da União Soviética. Tudo isso baseando-se,
quase unicamente, no depoimento de um desconhecido e obscuro major do exército
canadense.
A
principal testemunha do caso Karbyshev foi o major franco-canadense Ronald Nickoll
Seddeler de Saint Clair, o militar do exército de Canadá, nascido em 5/02/1890
em Otava, que em fevereiro de 1946 fez a seguinte declaração sobre o general
Karbyshev, publicada na imprensa soviética da época:
«...
O nosso representante de repatriação em Londres, major Sorokopud, foi convidado
em 13 de fevereiro de 1946 pelo major adoentado do exército canadense Seddon de
Saint-Claire [assim o nome dele foi grafado na imprensa soviética] ao hospital
em Bremshott, Hampshire (Inglaterra), onde este lhe informou: «Em
janeiro de 1945, eu, com mais 1.000 prisioneiros fomos levados da fábrica de
Heinkel para o campo de extermínio de Mauthausen, neste grupo estava o general
Karbyshev e alguns outros oficiais soviéticos. Na chegada a Mauthausen,
passamos o dia inteiro no frio. À noite, para todas as mil pessoas, foi
organizada uma ducha fria e, em seguida, em camisas e calçado de madeira, foram
alinhados no pátio e deixados até as 6 horas da manhã. Das 1.000 pessoas que
chegaram a Mauthausen, 480 pessoas morreram. O general Dmitry Karbyshev também morreu...”
Saint
Clair afirma que foi enviado ao Mauthausen em janeiro de 1945, sem especificar
a data. Na segunda versão a morte do general ocorreu na noite de 17 à 18 de
fevereiro de 1945 (a data aparece em todos os artigos biográficos sobre
Dmitry Karbyshev). Até hoje não existe nenhuma outra versão da data da sua
morte.
Até
que recentemente, o arquivo internacional Arolsen, colocou online os
cartões de registo da permanência do Saint Clair no cativeiro nazi. Ronald Nickoll
Seddeler de Saint Clair, canadense, natural de Otava, realmente foi um
prisioneiro em Mauthausen. Segundo o registo, ele foi admitido em Mauthausen em
26 de fevereiro de 1945. Ou seja, não poderia, em nenhuma circunstância,
presenciar a morte do general Karbyshev nem em janeiro, nem na noite de 17 à 18
de fevereiro de 1945 (fonte).
imagens: allin777.livejournal |
Por que razão general Karbyshev foi condecorado como herói, quando
centenas de milhares de outros militares soviéticos passavam na URSS enormes
privações pelo facto de alguma vez estiverem no cativeiro nazi? Durante a
guerra nazi-soviética (1941-1945), os 83 generais do RKKA passaram pelo
cativeiro alemão. Destes, 26 morreram por várias razões: foram abatidos, mortos
por guardas dos campos de concentração, de doença, etc. Os restantes, após o
fim da guerra foram deportados para a União Soviética. Destas, 32 pessoas foram
alvos de repressões (7 foram enforcadas no caso ROA/KONR, 17 foram fuzilados com
base na Ordem do Estado-maior (Stavka) № 270 de 16 de agosto de 1941 “Sobre os casos
de covardia e rendição e as medidas para combater tais ações”, outros 8 por
“comportamento errado” no cativeiro foram condenados às diferentes penas de
prisão.
Os
restantes 25 generais e após mais de seis meses de verificação, foram
absolvidos em 1946, e em seguida, gradualmente, desmobilizados e colocados na
reserva (fonte).
Os pilotos aviadores soviéticos ao serviço do 3º Reich |
Em
1 de agosto de 1946, em Moscovo, foi executado general Andrey Vlasov e uma parte
da alta liderança de Exército Russo de Libertação (ROA),
a unidade russa de Wehrmacht, que contava com cerca de 130.000 – 150.000
soldados e oficiais.
O
general Karbyshev, recebeu a sua condecoração, à título póstumo, em 16 de
agosto de 1946. Muito possivelmente, a União Soviética precisava de um general
heróico (que esquecendo o seu juramento militar czarista, em fevereiro de 1917, se
juntou ao Exército Vermelho), mas que não traiu o RKKA e não se juntou ao Wehrmacht,
durante os seus cerca de 3,5 anos da permanência no cativeiro nazi.
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