Os
fãs da URSS e do comunismo acreditam na existência do “Plano Dulles”, o famigerado
e secreto plano “dos americano”, que visou a destruição da União Soviética, mas
que ainda hoje é usado pelo “deep state” americano para enfraquecer e destruir
a federação russa.
O
conteúdo do «plano Dulles» (os trechos mais trapaceiros)
A
guerra [II G.M.] vai acabar, tudo se acalmará e se resolverá. Vamos lançar/jogar
tudo o que temos: todo o ouro, todo o poder material de enganar e aldrabar as
pessoas! O cérebro humano, a consciência das pessoas é capaz de mudar. Tendo
semeado o caos, nós silenciosamente substituímos seus valores pelos falsos e os
fazemos acreditar nesses falsos valores. Como? Encontraremos nossos apoiantes,
nossos aliados na própria Rússia. Episódio por episódio, será desencadeada
grandiosa, na sua envergadura, tragédia da morte do povo [soviético/russo] mais
insubmisso na terra, a extinção final e irreversível de sua autoconsciência.
[...]
Tiraremos
as raízes espirituais, degradaremos e destruiremos os fundamentos da moralidade
popular. Nós vamos abanar a geração após geração. Assumiremos as pessoas desde
a infância e adolescência, e sempre faremos a aposta principal NA JUVENTUDE –
vamos a decompor, degradar e corromper. Vamos transformá-la em cínicos, vulgares
e cosmopolitas. É assim que faremos!
Allen Dulles, 1945
O povo soviético no descanso, meados da década de 1980 | foto de arquivo |
O
“plano Dulles”, nessa forma, foi usado por ideólogos soviéticos [e depois
pró-soviéticos] para mostrar aos jovens “a verdadeira face do militarismo americano”
– vejam, eles vós embebedam e corrompem para destruir “o povo mais resistente
da face da Terra”. Bem horríveis, são “os americano”!
A
realidade dos fa(c)tos
De
fa(c)to, o “Plano Dulles” é uma peça da propaganda soviética bastante típica, baseada
no princípio da inversão – juntam-se todas as tendências negativas da sociedade,
como alcoolismo, o baixo nível de cultura, o absurdo quotidiano da vida
soviética – e então se declarava que tudo isso acontece por causa de uma força
externa. Deste modo, os propagandistas soviéticos matavam dois coelhos numa só
cajadada – primeiramente, desviavam as suspeitas de incompetência dos líderes
soviéticos e do sistema soviético como um todo e, em segundo lugar, incitavam o
ódio contra os países ocidentais livres.
Nunca
e ninguém explicou como o tal “Plano Dulles” poderia ser implementado
tecnicamente – mas o bom povo soviético e mesmo pós-soviético não era dado aos
questionamentos – muitos realmente acreditavam e acreditam que “os americano”
regularmente subornavam os “responsáveis desonestos”, pagavam aos músicos para que
estes escrevam as letras anti-soviéticas ou mesmo para que algum “inimigo interno”
urinasse nas escadas de prédios de habitação.
O verdadeiro Allen Dulles (1893-1969) | foto de arquivo |
Os
propagandistas soviéticos diziam que o “Plano Dulles” se baseia em “Reflexões
sobre a implementação da doutrina americana do pós-guerra contra a URSS”, texto/documento
alegadamente publicado em 1945 “sob auspícios da CIA”. Mas a CIA foi fundada
apenas em 1947 e Alain Dulles tornou-se o seu chefe somente em 1953. Quer a
“Reflexão”, quer o “Plano Dulles” são puramente produtos da propaganda comunista
soviética.
Quem
é autor real do texto?
A fila interminável para a compra de álcool, URSS, fim da década de 1980 | arquivo |
O
texto fake do “Plano Dulles” é uma ligeira reformulação de um trecho do romance
“Chamada Eterna” de autor sovietico/russo Anatoli Ivanov
(pertencente à ala literária “comuno-patrioteira”),
onde um plano praticamente idêntico é proclamado por um “inimigo trotskista”:
Iremos
arrancar essas raízes espirituais do bolchevismo, rebaixaremos e destruiremos
os principais fundamentos da moralidade popular. Abanaremos, dessa forma, geração
após a geração, expurgaremos esse fanatismo leninista. Assumiremos as pessoas
desde a infância, juventude, sempre faremos uma grande aposta nos jovens, vamos
os decompor, corromper, degradar! [...] — Sim, degradar! Corromper! Vamos torná-los
cínicos, vulgares e cosmopolitas!
[...]
A
guerra terminará – tudo de alguma forma se acalmará, se resolverá. Vamos lançar/jogar
tudo o que temos, de que dispomos: todo ouro, todo o poder material de enganar
e aldrabar as pessoas! O cérebro humano, a consciência das pessoas é capaz de
mudar. Tendo semeado o caos, substituiremos silenciosamente seus valores por
falsos e fazê-los acreditar nesses falsos valores!
Como
podemos ver, a frase sobre “cínicos, vulgares e cosmopolitas” foi deixada sem alterações,
assim como as frases “fundamentos da moralidade popular”, “a guerra acabou,
tudo se resolverá”, etc. Os anónimos propagandistas soviéticos adicionaram ao
falso “Plano Dulles” apenas um pouco de seu ódio pessoal contra a classe criativa, contra
os artistas e escritores – considerando-os uma clara ameaça ao regime comunista
soviético e tentando os denegrir em todos os sentidos e maneiras.
Em
vez de epílogo
Na
realidade, nem os Estados Unidos, nem a CIA desejavam o colapso da URSS,
preocupados com o destino das armas nucleares e temendo um possível caos
militar, como resultado do colapso da União Soviética.
Prédio habitacional, algures na Rússia, nossos dias | arquivo |
O
“Plano Dulles” não existe e nunca existiu. É sempre fácil culpar “os americano”
pela sua vida instável, corrupção e incompetência das autoridades, por infra-estrutura
degradada ou alto custo de transporte. Por isso, aconselhamos aos fãs da URSS, estalinistas
2.0 e todos os outros camaradas antiocidentais à não procurar inimigos no
exterior, mas começar por não depredar as paredes e se dedicar mais ao
voluntariado, fazendo pequenas coisas positivas no seu bairro, na sua rua, no
seu prédio.
Fotos:
arquivo | Texto: Maxim
Mirovich
Bónus
“O complô anti-russo
realmente existe – único problema, é que nele participa toda a população adulta
da Rússia”; Victor Pelevin; “Geração Pi”.
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