A
guerra nazi-soviética de 1941-1945 foi marcada pelas várias ondas de repressões
estalinistas, que atingiram todas as escalões do Exército Vermelho (RKKA), as suas
vítimas foram 2.530.663 militares, à pena capital (fuzilamento) foram
condenadas 284.344 pessoas.
por:
Pavel Gutionov, Novaya
Gazeta (versão curta)
No
seu livro, Voyna
na vesah femidy (literalmente “Guerra na balança de Themis”, 2017), o
jurista russo Vyacheslav Zvyagintsev (o Conselheiro Estatal de Justiça da 3ª
classe, ex-chefe do departamento analítico do Tribunal de Arbitragem da Rússia)
escreveu:
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Somente
no primeiro ano [da guerra nazi-soviética] de 22 de junho de 1941 à 21 de junho
de 1942, na URSS foram alvos de repressões políticas 107 oficiais superiores do
RKKA e da Marinha da Guerra: 1 marechal, 72 generais, 6 almirantes, os demais
comandantes de divisão e altos funcionários políticos; 45 pessoas foram
condenadas à morte, incluindo 34 generais, 10 pessoas morreram sob custódia.
É
de notar, que a lista está longe de estar completa. Não incluiu generais presos
antes de 22 de junho de 1941, mas condenados no decorrer da guerra; generais
cuja data exata de detenção é desconhecida (Major-General K. Y. Arhipchikov; Y.
P. Liepins, A.N. Krustyns, Major-General de Artilharia V. I. Zhilis, G. F.
Breda e outros, presos no verão de 1941), bem como generais condenados in absentia pelo Colégio Militar do
Supremo Tribunal da URSS.
Segundo
os dados do historiador russo Alexander
Pechenkin (1954) entre junho de 1941 à maio de 1945, o RKKA e da Marinha da
Guerra soviéticas perderam 458 generais e almirantes, que faleceram e morreram
de várias causas. Mais de 90 generais e almirantes foram vítimas de repressões.
Destes, 54 pessoas morreram (48 foram fuziladas e 6 morreram nas prisões), o
que representou quase 12% das perdas totais dos generais soviéticos durante
todo o período da guerra.
São
os dados do alto comando militar soviético! Quem é que contou as perdas entre
os oficiais de baixa patente, sargentos, furriéis, soldados e marinheiros?
O
historiador russo Nikita
Lomagin (com a espacialização histórica no cerco de Leninegrado de
1941-1944) cita o relatório do departamento especial do NKVD da Frente de Leninegrado,
dirigido ao representante do Esatado-Maior-General (Stavka) marechal Voroshilov: somente de maio à dezembro de 1942
quase quatro mil soldados e oficiais do RKKA foram presos por espionagem,
sabotagem, intenções de traição, agitação derrotista, deserção e
autoflagelação. Destes, 1538 pessoas foram condenadas ao fuzilamento.
O
jurista russo Anatoliy
Muranov (1942), coronel-general de justiça e conselheiro estatal de justiça
da 1ª classe, publicou, em 1995, na revista «Gosudarstvo i pravo», № 8, o
artigo intitulado “A Atividade dos Órgãos de Justiça Militar durante a Grande
Guerra Patriótica”. O artigo citava os dados estatísticos inéditos, que
mostravam o custo de vidas humanas, que a URSS pagou pela vitória na guerra
contra o nazismo:
Entre
junho de 1941 à maio de 1945 os tribunais militares soviéticos condenaram
2.530.663 militares. Destes, 284.344 foram condenados à morte, dos quais
157.593 foram fuzilados. Cerca de quinze divisões de infantaria!
Os
números excluem os condenados pelos tribunais de jurisdição geral, pelos
conselhos especiais de NKVD e execuções extrajudiciais de órgãos SMERSH,
destacamentos especiais do NKVD, etc. Tomemos em consideração as consequências
da famosa ordem de Stavka № 270 de 16
de agosto de 1941: “Comandantes e funcionários políticos [comissários] que,
durante a batalha, retirem as suas insígnias e desertem à retaguarda ou se entreguem
ao inimigo, sejam considerados desertores severos, as suas famílias serão alvo
da detenção como famílias dos desertores que traíram o seu juramento. Obrigar
todos os comandantes e comissários de escalão superior a fuzilar imediatamente
os tais desertores entre os comandantes...”
Contando
apenas as decisões de tribunais militares, eles condenaram:
em
1941 — 216.142 militares;
em
1942 — 685.562 militares;
em
1943 — 727.207 militares;
em
1944 — 543.745 militares;
em
1945 — 357.007 militares.
Por
ofensas/crimes militares – 792.192 pessoas, por crimes comuns – 1.266.483 e,
finalmente, sob acusação de crimes contra-revolucionários – 471.988 pessoas.
Praticamente
qualquer coisa podia ser e era considerada a “traição da pátria”. Bastava
dizer, mesmo que em um círculo de camaradas: “O Messer[schmitt] é uma grande
máquina, filha da put@!” ou ser apanhado com um panfleto alemão, colocado no
bolso para fumar o tabaco ou para uso da sua higiene pessoal [a União Soviética começou
produzir o papel higiénico apenas em 1968].
Chegou-se
ao tal ponto que em novembro de 1942, o chefe da Direção Geral dos Tribunais
Militares do Comissariado do Povo e o Procurador/Promotor Chefe Militar do
Exército Vermelho foram forçados a emitir uma diretriz conjunta “Sobre a
abertura injustificada de processos e a condenação dos militares sob a 2ª parte
do Art. № 58-10, do Código Penal no caso da detecção de folhetos fascistas, sem
existência da intenção maliciosa nas pessoas com quem os folhetos foram
encontrados”.
Em
setembro de 1942, a Seção Especial [contra-inteligência] do 56º Exército do
RKKA prendeu o oficial soviético, judeu ucraniano Yeleazar Meletinsky
(24), acusado de espionagem. Ele falava alemão, servia na unidade de
reconhecimento, e foi “traído” pelo livro russo-alemão de conversação e um livro
de salmos luteranos, encontrados na sua bolsa, que ele tirou à um prisioneiro. O
tribunal militar condenou o futuro linguista internacionalmente reconhecido à
dez anos de GULAG “por agitação anti-soviética com o objetivo de desintegrar o
Exército Vermelho”. O veredicto dizia que o judeu Meletinsky “elogiava o
sistema fascista e o Hitler”.
Preparando
este texto, procurei durante muito tempo por dados sobre o exército czarista
russo no decorrer da I G.M. Não encontrei números consolidados, nenhum dos
historiadores conseguiu ajudar. Mas entre 1905 à 1917 na Rússia czarista foram
enforcadas e fuziladas 3.087 pessoas [nestes 12 anos o império russo passou por
a 1ª revolução burguesa e por uma guerra mundial].
E
já agora, as estatísticas da Alemanha nazi mostram que
nos primeiros cinco anos da II G.M., de 1 de setembro de 1939 à 1 de setembro
de 1944, os tribunais militares alemães decidiram a execução 7.810 pessoas
afetos ao Wehrmacht.
Em jeito de epílogo
Estaline
apontou o número das perdas militares da União Soviética, nem sequer se
importando com sua credibilidade em 7 milhões. Khrushchev aumentou o número das
perdas para 20. Sob Gorbachev, o número cresceu até 27 [milhões]...
Dois
anos atrás [2017], numa audiência na Duma Estatal russa, foi apresentado um
novo e impressionante número de vítimas: 42 milhões. A consciência humana
normal é incapaz de percebê-lo.
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