segunda-feira, dezembro 12, 2016

A queda da Palmira. Análise das razões

Enquanto as forças sírias estavam entretidas em tomar uma parte de Aleppo, o Daesh/EI e outros insurgentes anti-Assad realmente tomaram a cidade de Palmira (tomada, com a pompa e circunstâncias, pelas forças russas em março de 2016), as forças leais ao regime sírio simplesmente fugiram.
No dia 9 de dezembro, sem serem detetados pela inteligência russa, iraniana e assadita, os 3-4 unidades dos insurgentes atacaram uma das maiores cidades sírias – Palmira. Um dos grupos tinha cortado a principal via de abastecimentos. Dois outros atacaram a cidade do norte e leste. Embora o Estado-maior General russo fala dos 4.000 homens, os dados ocidentais avaliam as forças atacantes em cerca de 500 combatentes. Pois as unidades maiores seriam facilmente detetadas e possivelmente aniquiladas pela aviação russa. Além disso, um agrupamento de 4.000 precisaria de um grande esforço de logística, quase inexistente entre os insurgentes. Além disso, as grandes colunas do Daesh/EI são frequentemente alvejados pela aviação americana, além disso, na Síria não existem grandes manchas verdes, isso diminui a possibilidade de manobras encobertas. A cidade de Palmira foi tomada pelos pequenos grupos móveis de infantaria, reforçados com as metralhadoras e sistemas antitanque TOW, transportados em viaturas ligeiras, com apoio de 1-2 blindados.
A falta de apoio de artilharia foi compensado com a brusquidão completa, a concentração de forças nas principais áreas e ações táticas competentes. A defesa da Palmira era composta por uma linha dos pontos de controlo, caindo em toda a sua extenção após a captura de 2-3 pontos defensivos. As tropas de Assad são mal preparados e pouco motivados, nos casos em que as suas defesas são rompidas nos flancos, ou mesmo nos casos de ameaça deste rompimento, toda a frente fica desmoronada, os assaditas se colocam em fuga, permitida apenas pelo facto de que os insurgentes não possuírem as forças para efetuar o cerco completo das posições governamentais. As reservas estratégicas do Assad e aviação russa não tiveram o tempo de intervir, os músicos russos não vieram para tocar os seus violoncelos.
Os bombardeamentos russos começaram apenas no dia seguinte, mas a sua efetividade não era alta, pois os insurgentes já estavam na cidade, onde não eram os alvos fáceis. Os insurgentes libertaram os prisioneiros da cadeia de Palmira que se juntaram às suas fileiras. Os combates ferozes nos arredores de Palmira decorreram desde então.
O blogueiro patrioteiro russo, El-Murid escreve que as forças russas evacuaram a sua base de aviação T4, já atacada pelos insurgentes no passado, existem os dados que apontam a destruição na base de quatro ou cinco aeronaves pertencentes às forças do regime sírio. O mesmo El-Murid escreve que os insurgentes não pararam em Palmira e avançam em força ao oeste, chegando praticamente ao aeródromo de El-Tiyas (T4), que fica no meio caminho entre Palmira e Homs. Pelos cálculos do El-Murid as forças dos insurgentes não ultrapassam 1.000 homens.
Não é crível que Daesh/EI irá defender Palmira à todo o custo, eles tentam poupar os combatentes, sabendo que não possuem grandes reservas em pessoal. Caso acharem que a defesa da cidade não é lhes favorável de forma tática, irão recuar aos territórios por si controlados, onde possuem as posições defensivas reforçadas.
A guerra na Síria é uma guerra de alta manobralidade, onde os alvos são forças inimigas e pontos de controlo de comunicações. Ataque e tomada de Palmira é a derrota mais humilhante e mais vergonhosa do Putin nesta guerra, até agora. A situação semelhante aconteceu durante o ataque russo contra a cidade de Grozny em janeiro de 1996, quando as pequenas unidades chechenas infringiram as perdas pesadas às forças russas muito superiores, aniquilando algumas bases e pontos de apoio do exército russo. Em 2016, as imagens vistosas de bombardeamentos indiscriminados e centenas de mísseis de cruzeiro foram contrariadas por alguns grupos de insurgentes, que mesmo nestas condições conseguiram impor a sua iniciativa ao inimigo, invertendo a situação em uma parte inteira da linha da frente. O decorrer da guerra não será afetado, mas as imagens dos meios de comunicação russas que retratavam Putin como vencedor absoluto são irremediavelmente estragadas.
Porque Palmira foi atacada? O mais certo se tratar de uma operação localizada para diminuir a pressão em Aleppo, aniquilando o agrupamento governamental. As forças russas, iranianas e assaditas cercaram Aleppo e já mais de seis meses atacam a cidade. O território da Síria está sendo controlado pelos satélites e pela inteligência militar russa, as unidades russas de forças especiais agem em toda a linha da frente. Todas as forças estão colocadas para tomar a cidade e proclamar mais uma “vitória” na guerra síria. Quase todo Aleppo está tomada, embora pequenas unidades de infantaria, armados apenas com as armas ligeiras, morteiros e sistemas antitanque TOW continuam se defender, apesar da superioridade dos adversários em todos os tipos de armas, em número dos efetivos e constantes ataques da aviação, helicópteros e mísseis de cruzeiro russos contra os bairros da cidade, causando a destruição e a morte de centenas de civis. Pois deve-se notar que a Rússia usa na Síria o cenário checheno – com a destruição completa das cidades sírias e a morte de milhares de civis.
As qualidades combativas de infantaria insurgente síria merecem a mais alta avaliação. Continuar a combater nas condições do cerco completo a em superioridade absoluta do inimigo em equipamentos militares, sob os bombardeios constantes é digno de estudo. A infantaria na guerra moderna continua a desempenhar um papel fundamental, e mesmo os bombardeamentos indiscriminados das forças russas não são capazes de vencer a infantaria bem abrigada e bem motivada. A infantaria pode agir de forma bastante encoberta possível, é muito mais difícil de detectar do que os equipamentos militares. É óbvio que a Rússia repetidamente, para fins de propaganda, superestima a eficácia dos ataques aéreos – mesmo após 35.000 ataques aéreos os insurgentes que não possuem nenhum sistema de defesa aérea, continuam a se defender dos ataques das forças terrestres, e causar lhes os prejuízos graves. Os generais russos já “mataram”, no papel, dezenas de milhares de militantes, apenas sem nenhuma evidência real de perdas tão pesadas dos rebeldes – pelo contrário, de acordo com a força de resistência, as suas perdas não são tão grandes para minar a sua capacidade de luta.
A qualidade de preparação e de motivação da infantaria possuem o significado crucial numa guerra moderna, o exemplo da Síria mostra isso de uma forma convincente.



As perdas do material governamental em Palmira 9-12-XII-2016
Em Palmira e na base aérea El-Tiyas (T4) as forças insurgentes capturaram cerca de 40 armazéns com munições, 12.000 metralhadoras, 30 tanques, 6 BMP, 14 viaturas 4x4, mísseis antitanque, 6 canhões de 122 mm, 6 antiaéreas de 23 mm; camiões, etc (WorldOnAlert).

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