Em
1987, o fotógrafo ucraniano Oleksandr Ranchukov, e alguns outros fotógrafos de
Kyiv fundam o agrupamento criativo “Pohliad” (Olhar) e um ano depois organizam
a sua primeira exposição coletiva.
“Ele
queria mostrar os rostos das pessoas – bem diferentes dos de cartazes propagandistas.
O fotógrafo enquadrava as faces dos transeuntes ao ambiente, sem contrastar,
sem complementar, mas alegando que era o mesmo: os rostos dos transeuntes parecem
calçadas, paredes surradas, casas, janelas escuras com “olhar” mau de vidros empoeirados”,
explica o crítico de arte Olexander Lyapin sobre fotografias de Olexander
Ranchukov.
Lyapin
recorda que as pessoas não entendiam por que o fotógrafo estava fotografando o “nada
nenhum”, pois entre os momentos capturados da vida quotidiana dos anos finais da
URSS não havia nada de especial à ser encontrado, mas apenas uma grande desesperança
e tristeza.
O
fotógrafo ucraniano Oleksandr Ranchukov é conhecido, em primeiro lugar, pelas suas
fotos de espaços urbanos e arquitectónicos – o seu trabalho para as publicações
e arquivo do Instituto de Teoria e História de Arquitectura de Kyiv. Muitas destas
fotos já foram publicadas em álbuns.
Em
1987 Ranchukov e alguns outros fotógrafos de Kyiv fundam o agrupamento criativo
“Pohliad” e um ano depois organizam a sua primeira exposição coletiva.
–
As suas fotos poderiam ser vistas apenas após o início da Perestroika. Antes
disso ninguém teria coragem de as expor, – conta Oleksandr Lyapin. Em 1987 ele
telefonou à mim e alguns outros rapazes. Dado que não tínhamos nenhum espaço,
se encontramos no metro de Kyiv.
Tínhamos sonhos de chegar às exposições, à imprensa. Decidimos fazer a exposição, no
edifício dos sindicatos na rua Khreschatyk em Kyiv. Exposição durou um dia, fechada
pelo KGB e ao mando das estruturas do partido comunista. As fotos foram
devolvidas, mas apenas 5 anos antes, seguramente iríamos ser presos. Levamos as
nossas fotos e as expomos no recinto da Exposição Permanente da Economia
Popular em Kyiv. Fomos seguidos pelos agentes [do KGB], mas estes ao menos não impediam
de nos tirar as fotografias.
O
típico da era soviética era a rua soviética: o cidadão estava mal vestido, com uma
típica cesta nas mãos, uma sacola feita de cordas com as garrafas, cebolas ou
qualquer outra coisa. A desordem das ruas também é transmitida às pessoas, e as
pessoas desarrumadas contêm as ruas. O fotógrafo era atraído pela devastação
espiritual. Ele escolhia, claro, mas escolhia cenas absolutamente típicas. Vejamos,
por exemplo, a fila para comprar o arenque na rua: poderia ser em Sumy, Lviv ou
Kyiv.
Cidadão
como parte da cidade. Olexander Ranchukov escolhia não os momentos estéticos,
mas momentos sociais: fila para comprar algo; um carro americano atrai uma multidão
de curiosos; venderam o arenque e despejaram a marinada em plena rua; uma
passagem ao pátio interior sujo e uma mulher infeliz está andando. Ela até pode
não ser infeliz, mas no horror ao seu redor, ela parece desesperada. Por outro
lado, a vida é inútil neste lugar com o slogan inscrito “Glória ao PCUS!”.
O
fotógrafo tentou registar os momentos de desaparecimento, ou seja, hoje existe
um objeto e amanhã já não. Isso pode ser visto claramente na foto, com o famoso
quiosque de sapateiro no histórico bairro Podil em Kyiv, ao lado da Igreja de São
Nicolau Pritisk e do Mercado “Zhytniy”. O quiosque já se foi para sempre. E isso faz a diferença.
Uma
das famosas fotos do Ranchukov – um grande e moderno carro americano, possivelmente
um “Lincoln”, fotografado no fim da década de 1980, e uma multidão de curiosos que
até se agacham para ver os pneus da viatura.
O
fotógrafo Yefrem Lakatskiy também fazia parte do agrupamento “Pohliad”,
recordando uma das suas primeiras exposições colectivas:
"Serviço do emprego" |
–
Uma das exposições era dedicada à XIX conferência do PCUS, contando com as
fotos do “Pohliad”. O director da exposição exigiu categoricamente retirar a
foto do famoso músico folclorista ucraniano Leopold Yashenko, que na imagem simplesmente
tocava a sua flauta, sentado numa carruagem de metro de Kyiv. O director da exposição estava categórico: “Retirem essa foto! Ele é um nacionalista!” Estávamos em 1989, por isso cada vez que
a foto era retirada, eu colocava um exemplar novo, o público me defendia.
Um
dia na [futura] Praça de Independência de Kyiv conheci Chrystia Freeland. A ucraniana étnica, até recentemente ministra dos Negócios Estrangeiros / das Relações Exteriores, depois disso a
vice-primeira-ministra do Canada. Ela levou as fotos do agrupamento “Pohliad” à
Grã-Bretanha, onde estas foram publicadas no jornal londrino “Independent”. Uma
semana depois foi chamado ao departamento do KGB e tive problemas por causa das
fotos.
Olexander Ranchukov, 1943-2019 |