Imediatamente
após o golpe bolchevique de 1917, o programa estatal de reassentamento dos
cidadãos em apartamentos comunais significou a destruição da família como a célula
primária da “sociedade burguesa”. A vida em comuna era romantizada e a vivência
sob olhares do “coletivo” estava em conformidade com o ideal comunista de
igualdade compulsiva.
Questão
da habitação
O
processo de foi realizado na União Soviética com determinação comunista de
“expropriar e dividir”. No entanto, mesmo assim, a habitações não eram
suficientes para todos. Assim, em quase todas grandes cidades soviéticas se
multiplicaram os apartamentos comunais...
Desde
os primeiros anos de sua existência, um apartamento comunal na União Soviética
tornou-se um fenómeno não só do quotidiano, mas quase da ordem universal – súmula da filosofia soviética. Os apartamentos comunais forjaram um tipo inteiramente
novo de homem socialista, pronto para as dificuldades indeterminadas.
Aqueles
que vivem hoje em suas próprias casas ou apartamentos sentirão as maiores
dificuldades de imaginar que alguém poderá bater na porta ao banheiro comum
exigindo que o usuário levante a sua bunda imediatamente e desaparece do WC. Ou,
que a vizinha curiosa poderá meter o nariz na sua panela.
Os contadores elétricos individuais |
Diversos
escritores famosos viveram e morreram nos apartamentos comunais. Talvez a
melhor descrição do komunalka soviético pertence ao Mikhail Bulgakov em “Mestre
e Margarida”: “enorme corredor longo, iluminado muito esporadicamente, cheio de
coisas estranhas, mágicas e desnecessárias. Trenó infantil com várias ripas dilaceradas,
os recipientes com líquidos desconhecidos, caixas com brinquedos quebrados,
prateleiras com roupas que ninguém usava, sapatos somente do pé esquerdo, pilhas
de fios e cadarços. Uma tricicleta infantil. Crianças, quando apareciam no apartamento,
se mandavam ao longo do corredor, como se fosse num carro de corrida, ganhando
uma boa velocidade...”
Não estas sozinho!
O komunalka na era da Perestroika, meados da década de 1980 |
O
komunalka típico na União Soviética é um longo corredor com uma única janela,
uma grande quantidade de quartos de dois lados e uma casa de banho / banheiro
para várias famílias! Nas manhãs diversas pessoas disputavam um único WC. A cozinha
era compartilhada, tinha um ou mais que um fogão, insuficientes para todos, as
mesas eram utilizadas apenas para a corte dos alimentos. As pessoas comiam nos
seus quartos.
Telefone,
também um, manchado com as mãos suadas e uma estante de livros que ninguém lê.
Na porta da frente esta uma longa lista de apelidos com a nota “tocar três vezes"
ou “bater uma vez, mas fortemente”, “dois toques longos e um curto”. Um cartaz
na casa de banho: “Cidadãos! Lembrem-se que vocês não estão sozinhos! As
pessoas estão esperando!”
As campainhas individuais |
A
varanda era local indispensável de armazenamento dos jornais, revistas e de todos
outros tipos de desperdício. Aqui “viviam” os trenós infantis enferrujados,
esquis e bicicletas, penduradas na parede ou no teto. Os moradores tropeçavam
constantemente nos frascos de conservas, compotas e sacos de batatas. No
entanto, com tudo isso, as donas de casa ainda assim conseguiam pendurar a roupa
lavada nestas varandas.
As
baratas comuns
Os
moradores compartilhavam os problemas, esgoto e baratas, tanto nas mentes, como
na cozinha. As baratas eram um caso separado. Eram muitas e estavam em todos os
lugares e eram diferentes... À noite, podiam ser ouvidas. Como correm pelo chão
ao lado da cama, nas paredes, eles podiam ser vistas até mesmo nas janelas, devido
a luz das janelas no prédio em frente. Eram combatidas, mas em substituição das
mortas imediatamente vinham mais vivas...
As
perseguiam sem piedade, as caçavam com um chinelo na mão, mas o tribo ruivo era
indestrutível. As pessoas não tinham outra escolha além de coabitar, de “boa
índole”, com eles.
Dois
lados da vida no komunalka
Komunalka na década de 1960-1970 |
Intrigas,
brigas, vigilância mútua, denúncias e assédio eram um quadro bastante normal.
Por um lado, o apartamento representava uma certa fraternidade e ajuda mútua em
face de provações e condições intoleráveis de existência socialista. Por
outro lado, o komunalka concentra em si todos os horrores do totalitarismo:
tirania, denúncias, medo e impotência.
Komunalka na década de 1980 |
Afinal,
o apartamento comum continha personagens para todos os gostos: tia Maria com o
robe semi-desabotado até a cintura; tio Petya sempre bêbado, sentado na cozinha;
vizinha Sveta que cada semana recebia um “namorado” novo; bruxa curandeira
hereditária que lia cartas, acariciando o seu gato preto ao colo; o seu marido
ciumento que tinha ciúmes mesmo em relação ao batente da porta.
Komunalka na década de 1990 |
E
assim se sobrevivia: alcoólatras, muitas vezes bebiam acima da norma e entravam
em pancadaria, uma avó costumava cozinhar a sopa de galinha meio podre (ela não
tinha geleira/geladeira, mas comprava regularmente a comida) e engomava a roupa
com o ferro frio...
Mais
o avô. Ele usa água-de-colónia que mais parece um inseticida, depois vai à
cozinha e frita qualquer porcaria. O mau cheiro se misturava com o fedor das
meias sujas, vindo do quarto do tio Petya...
Em
todas as hipóteses os assuntos pessoais de qualquer morador eram do
conhecimento de todos, raramente era possível manter qualquer privacidade: “Todos
conheciam completamente a vida dos outros, sabiam cada detalhe, conheciam a
roupa interior do vizinho, suas amantes, suas refeições, suas dívidas e doenças...
A busca [da polícia ou de OGPU-NKVD] num quarto, ou a diarreia em outro, criava
insónia em todos os vizinhos”. (por Georgiy V. Andreevskiy, in “A vida quotidiana em
Moscovo na era Estaline, dos anos 1920-1930”, ler
o texto).
Texto
e imagens @Kommunalka
5 comentários:
E tem gente que romantiza uma situação degradante dessas. So mesmo maluco pra char o socialismo o futuro.
Os vanguardistas acreditam nestas tolices,pois eles sonham em serem os senhores desta sociedade e assim só eles terem luxo e as massas as sobras,depois eles tem a cara de pau de falar em exploração capitalista...Só alienados,desinformados e parasitas para acreditarem neste projeto inviável.
não é diferente de uma favela Brasileira no Capitalismo Liberal. Talves as favelas do Brasil sejam até piores
É muito diferente do capitalismo liberal (que no Brasil quase não existe como tal), nas favelas brasileiras vivem os mais podres e menos aptos (de forma geral, com excepções, pois claro), na URSS nas komunalkas viviam todos por igual, alcoólicos e cientistas, escritores e proletários, génios e mentes primitivas. Fuga da URSS era sancionada com a pena da morte (desde 1929 até a época de Khrushev, quando passou à ser sancionada "apenas" com a prisão de 10/15 anos). Sintam a diferença...
Se eu fosse presidente mandava construir " komunalkas " todos que simpatizam com isso assinavam um termo transferindo todos os seus bens pro estado e imediatamente se mudavam pra lá
Enviar um comentário