O
famoso historiador britânico de origem ucraniana Viktor Suvorov (Volodymyr
Rezun), ex-operativo do GRU soviético que não voltou da Grã-Bretanha em 1978,
publicou o seu novo livro “Inteligência militar soviética. Como funcionava a
mais poderosa e mais fechada organização de inteligência do século XX”. No
livro ele conta vários pormenores interessantes, nomeadamente sobre os “patriotas
da URSS” que viviam no Ocidente. Os “coprófagos” no jargão do GRU e do KGB...
A
história dos diferentes tipos de agentes seria incompleta sem mencionar mais um
tipo de pessoas – provavelmente o menos atraente de todos. Os agentes da GRU eram
proibidos de chamar essa gente de agentes, mas eles nem eram agentes, no
sentido estrito da palavra, porque a inteligência soviética nunca os recrutava.
Refiro-me aos vários membros das sociedades de amizade com a União Soviética. No
ambiente oficial, os diplomatas soviéticos tratavam calorosamente estes
parasitas, mas entre si os chamavam de “coprófagos”. É difícil dizer porque essa
alcunha se colou à eles, mas essa gente a merecia. O nome era amplamente
utilizado nas conversas informais entre os funcionários das missões diplomáticas
soviéticas: «Hoje temos a tarde de amizade com os “coprófagos”», “Hoje teremos
um jantar com a delegação dos “coprófagos”. Preparem uma ementa apropriada».
Os
oficiais da GRU e do KGB respeitavam os seus agentes muito mais do que os “coprófagos”.
Os motivos do comportamento dos agentes eram claros: uma vida fácil e muito dinheiro.
Agente tinha que arriscar muito por causa disso, e se ele não fornecia ao serviço
de inteligência soviético o que lhe era exigido, não recebia nem o dinheiro, nem
a vida fácil. Uma vez que começava a trabalhar como agente da inteligência
soviética, não poderia mais escapar desse cativeiro até o fim de sua vida, tal como
no submundo da criminalidade. Mas os motivos dos “amigos da União Soviética”
permaneciam incompreensíveis aos olhos dos soviéticos. Cada cidadão soviético,
sem exceção, sonhava de estar no exterior e estava pronto para ir para qualquer
lugar, desde Mongólia à Camboja.
Qualquer
coisa feita no exterior era valorizada na URSS muito acima do produto nacional,
independentemente do país de fabricação, do seu estado de conservação e da qualidade
real; o adjetivo “importado” significava “de primeira classe”. E agora, se
encontrando numa missão no exterior o cidadão soviético se cruza com “amigos da
União Soviética”, que desfrutam de todos os frutos da civilização, desde as lâminas
Gillette até os bons carros, têm a oportunidade de comprar nas lojas tudo o que
o seu coração pode desejar, até mesmo as bananas, e ainda assim estão louvar a
União Soviética. Não, para os espiões soviéticos, essas pessoas eram as
nulidades completas. O desprezo não impedia ao GRU e ao KGB de usar essas
pessoas na primeira oportunidade. Eles estavam dispostos à trabalhar de graça e
vir às reuniões, mesmo na embaixada soviética.
O
KGB não recomendava recrutar essas pessoas, mas ninguém no GRU e no KGB sequer
pensava nisso, para que se preocupar com o recrutamento, se eles trabalhavam
para nós na mesma? GRU normalmente usava os “coprófagos” às cegas – sem revelar
para que os usam e que tipo de benefícios derivam de seus serviços. Através de
tais pessoas normalmente eram colhidas as informações sobre os seus vizinhos,
amigos, conhecidos, colegas e assim por diante. Às vezes, alguém dos “coprófagos”
era solicitado a organizar uma festa e convidar nela, entre outros, um
determinado amigo ou conhecido, que era alvo do interesse do GRU, e em seguida lhe
agradeciam a sua ajuda e pediam para esquecer-se deste pedido. E estas pessoas maravilhosas,
pois claro, se esqueciam de tudo.
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