sábado, novembro 07, 2015

A guerra no Donbas: o fim da “primavera russa”

A guerra no leste da Ucrânia está no fim ou pelo menos fora da sua fase quente. Por resolver ficaram as questões do poder local, dissolução dos bandos separatistas, controlo da fronteira estatal. A ausência do estado do direito e a queda do nível de vida são resultados atuais da guerra russo-ucraniana no Donbas.

por: Pavel Kanygin, jornalista russo, versão curta, 1ª parte

Antes da guerra, Donetsk possuía um dos três maiores aeroportos da Ucrânia. Nos edifícios novos de betão e vidro funcionavam os escritórios de companhias estrangeiras, muitas delas, trabalhando na região, sem passar pela capital ucraniana. Nos elétricos e troleicarros funcionava a Internet wi-fi, em 2012 a cidade recebeu Euro-2012...

Em 2014 a capital industrial e financeira da Ucrânia, Donetsk se transformou numa cidade-fantasma. Nas desertas ruas centrais circulavam apenas os camiões militares e os taxistas desesperados transportavam os jornalistas. Os bairros nortenhos e ocidentais foram atingidos pela artilharia, na região foram destruídas e queimadas dezenas de aldeias e vilas. Os moradores – funcionários das empresas, estrangeiros, elite local e os intelectuais deixaram a cidade no verão de 2014. A sua ausência foi preenchida pelas gentes das localidades provinciais, agora eles formam a nova face da cidade.

A guerra se foi, deixando por trás a pobreza e as doenças. Os routers do wi-fi foram arrancados dos eléctricos e troleicarros. Os fios de alta tensão, caídos em resultado dos bombardeamentos foram às sucatas. As lojas demonstram as prateleiras vazias, as pessoas continuam à habitar nos abrigos antiaéreos da mina local, na clínica psiquiátrica № 1 vivem os milicianos da “república popular de Donetsk”. No outrono de 2015 o poder da “dnr” proibiu aos voluntários levar os medicamentos às pessoas, as atividades das ONG foram equiparadas à espionagem.

As pensões e educação
1 de setembro ("o Dia do Conhecimento") de 2015 na escola da vila de Aleksandrivka, foto @Scanpix
Neste momento na cidade de Donetsk vivem cerca de 900.000 pessoas, funcionam as instituições do ensino superior, escolas e jardins-de-infância. Educação usa as normas ucranianas e permite ensino em duas línguas, à escolha dos país e alunos, 2/3 dos escolheram o russo, 1/3 foi fiel ao ucraniano. Os diplomas e certificados emitidos pela “dnr” não são reconhecidos nem na Ucrânia, nem na Rússia. Por isso, algumas instituições do ensino superior negoceiam a emissão dos diplomas russos. 

Em Donetsk vivem 250.000 reformados, ele começaram à receber as suas reformas, de forma regular, desde a primavera de 2015, antes disso, a “dnr” pagou lhes apenas 3 vezes, a vizinha “rpl” – duas vezes. Agora, as pensões das “lnr” e “dnr” são pagas segundo as regras ucranianas, mas em rublos, 1 UAH são 2 rublos, no câmbio real é 1 UAH são 3 rublos, o câmbio oficial é usado apenas para pagar o transporte público ou os serviços municipais.

Na região de Luhansk, a ajuda financeira e alimentar russa não chegava às pessoas. Em dezembro de 2014 na cidade de Pervomaysk, com 40.000 habitantes, os famintos formavam as filas para receber a metade de um pão por pessoa (!) Quando o “governador popular” Yevgeni Ishenko foi abatido pelos desconhecidos, nos armazéns controlados pelos seus foi achada uma grande quantidade de alimentos, vestuário e os combustíveis.

O consumo

Em 2013 o PIB regional da região de Donbas perfazia 15% do PIB da Ucrânia, desde o início da guerra, pelos dados do Banco Nacional da Ucrânia, o PIB local caiu três vezes. Os investidores nacionais e estrangeiros começaram deixar a região em massa, “congelando” o que era impossível de retirar: fábricas, equipamentos, imóveis. De Donetsk saíram as maiores redes de comércio, se fecharam os stands de viaturas, não funciona nenhuma grande loja dos produtos eletrónicos, após vários assaltos fecharam as lojas de telemóveis. Não funcionam os bancos (menos o “banco” da autoproclamada Ossétia do Sul), ATM, seguradoras ou agências de intermediários.   

O setor de comércio de retalho de Donetsk hoje é de alimentos e produtos de limpeza doméstica. Os produtos ucranianos chagam através da corrupção nos postos de controlo ucranianos ou via território russo. A corrupção ou desvio pela região de Kharkiv e pelo território russo encarecem os produtos em cerca de 1/3, mesmo assim, os produtos ucranianos são menos caros do que os produtos russos. Da Rússia trazem os laticínios, óleo da cozinha, álcool, cigarros e produtos de mercearia, dos segmentos mais baixos do mercado. Human Rights Watch reporta que os moradores locais se queixam dos preços altos e da qualidade baixa dos produtos russos.

No último semestre os produtos da primeira necessidade encareceram, em média, em 50–60%; os salários médios reais baixam três – quatro vezes. Os preços altos dos alimentos originam a “migração alimentar” dos moradores da região aos territórios da Ucrânia, onde os preços de alimentos, em média, são 25-30% mais baixos. Milhares de pessoas cruzam diariamente os postos de controlo entre Ucrânia e os territórios ocupados, gastam horas nas filas, por vezes dormem no caminho, pois o trânsito é interdito após 18h00.
Ostras: 12 unidades + 3 de oferta. Foto @Pavel Kanygin
Apesar disso tudo, em alguns restaurantes de Dometsk servem ostras. A casa “Chateau” explicou: são importadas, ao pedido dos “ilustres convidados de Moscovo”. Quem são estes “ilustres convidados” e o que eles fazem na cidade na linha de frente, no “Chateau” se recusaram à explicar.

A censura e a imprensa

Durante muito tempo os separatistas gostavam dos jornalistas estrangeiros e até toleravam a crítica, pois tinham um meio de propagação das suas ideias. Coisas começaram mudar após o artigo sobre o “contratado de Buryatia” e finalmente pioraram após a publicação das entrevistas dos militares russos do GRU capturados na Ucrânia.

Algumas publicações locais foram evacuadas à Ucrânia ainda no início da OAT, os que ficaram mudaram a sua política editorial segundo as exigências dos separatistas e dos seus curadores, todas as notícias são dadas do ponto de vista pró-russo. Os jornalistas estrangeiros que não agradam podem ser deportados, os jornalistas locais têm a chance de entrar nas masmorras do “ministério da segurança estatal”. No último semestre a “dnr” proibiu as atividades dos diversos repórteres da imprensa russa: «Novaya Gazata», «Kommersant», «TV Rain», e estrangeira: The Independent, The Times, The Newsweek e outros.

Durante a sua última missão no Donbas, ao repórter especial da televisão russa «TV Rain», Timur Olevskiy, foram dadas, pelos separatistas, duas horas para sair do território ocupado «por bem». Pavel Kanygin, na primeira vez foi espancado, acusado de pertencer à CIA e usar “12 tipos de drogas”, na segunda vez foi espancado por causa dos seus artigos sobre os militares russos em ativo, vistos e presos na Ucrânia. Sabe-se que em 2015 a “lnr” prendeu 5 jornalistas locais, “dnr” – três.

As permissões de trabalho são dadas aos canais televisivos estatais russos, ao jornal russo “Komsomolskaya Pravda”. A censura em Donetsk é coordenada pelo “ministério da informação e imprensa da dnr” que recebe as páginas das publicações em formato PDF para a sua aprovação prévia. O “ministério” também obriga os jornais à publicar as páginas de materiais preparadas por si e elabora as “lista tabu”, com temas e nomes proibidos à divulgação.
  
As televisões permitidas são os canais propagandistas russos, Lifenews e «Rossija 24», os operadores por cabo são obrigados ter estes canais nos seus pacotes. Os canais ucranianos e alguns estrangeiros são proibidos. Na cidade de Donetsk imprime-se diariamente o jornal moscovita «Komsomolskaya Pravda»; a representação local de um outro jornal moscovita, «Moscovskiy Komsomolets» foi alvo de diversas tentativas de assalto.

A sociedade civil

No início de junho de 2015, o líder da “dnr”, Alexander Zakharchenko assinou o “decreto” que proibiu o funcionamento das organizações sociais estrangeiras, acusando as de serem a “cobertura das atividades subversivas e de inteligência, colocando em perigo a segurança estatal”. Assim foram proibidos o “Comité Internacional de Salvação” (http://www.rescue.org), “Médicos sem fronteiras” (acusados de espionagem e contrabando das “substâncias psicotrópicas”) e inicialmente a “Cruz Vermelha”, que mais tarde assegurou a sua permanência na região.
A fundação "Ajudaremos" na entrega dos alimentos aos necessitados, 1/12/2014, foto @Scanpix
As autoproclamadas “repúblicas” proibiram as atividades da fundação de caridade “Ajudaremos” do oligarca ucraniano Rinat Akhmetov, neste momento os camiões da fundação são impedidos de passarem pelos postos de controlo da “dnr”. Os voluntários locais que colaboravam com a fundação são perseguidos e acusados de “sabotagem e espionagem”. Aos jornalistas locais é proibido mencionar as ações humanitárias organizadas pelo Akhmetov.

Fim da 1ª parte, ler o texto integral em russo:

5 comentários:

Anónimo disse...

A guerra "esfriou" porque eh do interesse russo. Quando a Russia quiser reascende esse conflito de novo. Os russos sabem que os Ocidentais não vao fazer nada mesmo. Nunca fazem! Basta a Ucrania dar um passo em direção ao Ocidente e esse conflito reascende! Que raios de cessar-fogo eh esse que chega a ter mais de noventa violações por dia? Soldados ucranianos mortos e feridos? Os terroristas quando querem provocam os soldados ucranianos atirando a madrugada inteira contra eles, esses não podem nem revidar pois os terroristas se escondem em meio aos civis. Aos russos interessa agora eh a Siria para medir poder com os EUA. Os russos viram que os americanos foram covardes em relação a ucrania e aproveitaram o momento para se colocarem na Siria tb. Minha única esperança eh que todos esses gastos militares em intervenções quebrem a Russia e a deixe falida. Assim não terá mais como sustentar os terroristas.

Anónimo disse...

inaugurado monumento ao Holodomor em Washington nos EUA:


http://www.democratandchronicle.com/story/news/2015/11/07/new-ukraine-memorial-dc-recalls-famine-1932-33/75388484/

Anónimo disse...

Concordo com o primeiro cometário acima em todos os sentidos.
Só faltou dizer a conduta do Sr. Putin que é um aventureiro e usa o cargo para satisfazer seus instintos primitivos.

Jest nas Wielu disse...

Estimados leitores,
1) os brasileiros que não participaram com as armas nas mãos nas formações russo-terroristas, apenas escrevendo na Net e angariando fundos e pessoas, em primeiro lugar violam as leis brasileiras e devem ser denunciadas no Brasil e não na Ucrânia.
2) ABIN http://www.abin.gov.br/modules/faleconosco/?op=O
3) PF http://www.pf.gov.br/servicos/fale-conosco/denuncias
Façam a vossa quota-parte!

Anónimo disse...

Com ctz!
Parabéns aqui por causa do PT existe uma massa de ignorantes, gados do governo, q não sabem do q se passa, mas por ser a Rússia e contra os EUA, vão se sentir especialistas no assunto e fazer o possível p ajudar esses porcos pro russos...
Imbecis... Q paguem por tds os.crimes russos q foram cometidos...