domingo, novembro 08, 2015

A guerra no Donbas: o fim da “primavera russa” (2)

A guerra no leste da Ucrânia está no fim ou pelo menos fora da sua fase quente. Por resolver ficaram as questões do poder local, dissolução dos bandos separatistas, controlo da fronteira estatal. A ausência do estado do direito e a queda do nível de vida são resultados atuais da guerra russo-ucraniana no Donbas.

por: Pavel Kanygin, jornalista russo, versão curta, 2ª parte

Os direitos humanos

A situação é monitorada pelos representantes da ONU, OSCE e Human Rights Watch. Segundo os seus relatórios, o regime da “lnr” e “dnr” pode ser descrito como uma ditadura semi-militar. A polícia e os tribunais funcionam, mas o seu poder é nominal, os cidadãos não possuem acesso à estes. Uma vez testemunhamos como no centro de Donetsk o militante do grupo armado “Oplot” matou um cidadão por achar que este tinha a imagem da bandeira ucraniana no seu telemóvel. «És um ukrop! — gritou miliciano. — Trabalhas pare eles, cabrão!» Com um golpe ele derrubou o cidadão; na queda este partiu a base do crânio. Alguém chamou a polícia e ambulância. Mas primeiro veio um minibus com janelas “fumadas” e sem a matrícula que levou o atacante. Depois a ambulância levou o corpo. Uma hora depois veio a polícia da “dnr” queixando-se com os palavrões da inutilidade da sua vinda.

A polícia da “dnr” é composta por quase as mesmas pessoas que trabalhavam no Ministério do Interior da Ucrânia antes da guerra, tal como antes, a sua influência e autoridade são minúsculas.

Os diferendos empresariais são resolvidos com uso de “cobertura” por parte dos bandos armados. Os próprios (“Vostok”; “guarda nacional da dnr”, ex-“Oplot”; “Prizrak”; “Sparta”) substituíram os tribunais e as estruturas legais. Fazem parte do vertical do poder das “repúblicas” autoproclamadas, exercendo as funções de defesa, da polícia, de repressão e de fisco.

Após a manifestação antiguerra de 16 de junho de 2015, Alexander Zakharchenko deu a ordem de encontrar os organizadores da manifestação e “pôr fim às atividades subversivas”. Desde então, os moradores de Donetsk receiam se reunir em grandes grupos. As atividades da população são vigiadas pelo “ministério da segurança estatal”, o sucessor do SBU, cuja maioria dos funcionários, no verão de 2014, como no caso da polícia, jurou à lealdade à “novaróssia”. O “ministério” possui o seu próprio centro de detenção que os locais chamam simplesmente de “cave”.

Human Rights Watch avalia a situação dos direitos humanos em “dnr” como crítica. A HRW recebe a informação sobre falta de serviços médicos e medicamentos, detenções arbitrárias e desaparecimento dos cidadãos. Ucrânia denuncia dezenas de prisioneiros políticos da “dnr”, entre os jornalistas, ativistas ucranianos, professores, empresários, funcionários públicos e juízes. A “dnr”, não negando, os chama de “sabotadores” e “espiões”.

O poder

Desde o fim dos combates, na região de Luhansk e Donetsk começou a “guerra dos curadores”, assim os locais chamam uma série de conflitos e mudanças nas lideranças de “repúblicas”.

A “dnr” despediu com escândalo um dos ideólogos do “Donbas independente”, o chefe do seu “conselho supremo”, Andrey Purgin. Dizem que o assessor do presidente Putin, Vladislav Surkov, considerado como curador mor dos separatistas, decidiu trocar Purgin pelo Denis Pushulin, ex-coordenador regional da pirâmide financeira russa, MMM.
O "ministro" Lyamin às contas com a "justiça" da sua "república"
(Nos meados de outubro último) a “lnr” deteve o seu próprio “ministro de combustível, energia e indústria de carvão”, Dmitriy Lyamin, o vídeo da sua detenção, interrogação, intercalada com os espancamentos sangrentos foi colocada na Internet (o “ministro” é acusado na conivência com Ucrânia na venda 88% de carvão extraído na região de Donetsk e na sua comercialização posterior na Ucrânia).
https://www.youtube.com/watch?v=s5bizJwh_Nw
O caso é visto como a consequência direta da luta entre Lyamin e jovem bilionário ucraniano Sergey Kurchenko, próximo à família do Yanukovych. Após a queda deste, Kurchenko fugiu para Moscovo, mas mantêm os negócios no leste da Ucrânia, mostrando que conta com apoio do Kremlin e exige a sua parte do bolo energético. Em Donetsk, Kurchenko tem oposição do líder da “dnr”, Zakharchenko, que ao mesmo tempo lidera o grupo armado “guarda nacional da dnr”. Em outubro de 2015, Donetsk e Makeevka ficaram alguns dias sem o gás por causa do conflito entre Kurchenko e Zakharchenko.
   
A economia, fronteiras e impostos

No último ano Ucrânia introduziu o bloqueio económico, energético e de transporte contra as “dnr” e “lnr”. Mas a corrupção é forte nos postos de controlo ucranianos. Os separatistas também ganham com o fornecimento dos bens ucranianos, oferecendo os serviços de “acompanhamento” no seu território. Considera-se que oferecimento da “cobertura” ao contrabando é a principal fonte da riqueza do Alexander Khodakovsky, líder do “regimento Vostok”, chefe do “conselho de segurança da dnr” (e ex-chefe do grupo “Alfa” do SBU de Donetsk).

As fronteiras com Rússia continuam abertas, mas são usadas raramente. A liderança da “dnr” é vista permanentemente em Rostov-no-Don e Moscovo. Os jornalistas russos que visitavam a região através daquelas fronteiras (fora de controlo da Ucrânia), automaticamente perdiam o direito de visitar Ucrânia. Os que entravam na região legalmente, mantinham a possibilidade de trabalhar nos dois lados do conflito.

A “dnr”, através das pessoas próximas do Zakharchenko, controla todas as operações comerciais acima de 10.000 dólares. Os separatistas introduziram o seu próprio sistema de impostos, à escolha do empresário, 20% do lucro líquido ou 2,5% da receita bruta. Os cidadãos são obrigados a pagar o imposto base de 13% do salário. Desde 1 de setembro de 2015 a divisa oficial da “dnr” e “lnr” são os rublos russos.
  
Os ativos imóveis (minas, estações elétricas, redes comerciais, hotéis e estádio “Donbas-Arena”) do bilionário ucraniano, Rinat Akhmetov, continuam intocáveis. Os impostos destes empreendimentos são pagos na Ucrânia, os produtos do seu funcionamento, furando o bloqueio, são comercializados na Ucrânia.

Ler o texto integral em russo:

Blogueiro

1.      “Primavera russa”: o termo cunhado pela extrema-direita russa para descrever o processo da reconquista, militar e de influência política, do espaço pós-soviético (e não só) que começou com a invasão e ocupação da Crimeia; continuou com ocupação do leste da Ucrânia e tem o eco nas operações militares russas em Síria.


2.       Ukrop” (literalmente endro; aneto ou erva doce), o termo pejorativo que a mesma extrema-direita russa usava para descrever os ucranianos em geral e os patriotas da Ucrânia em particular. Em resposta os ucranianos criaram a insígnia “ukrop” e mais tarde formaram o partido patriótico de cariz populista chamado UKROP.

2 comentários:

Anónimo disse...

Malditam sejam os terroristas

Jest nas Wielu disse...

Estimados leitores,
1) os brasileiros que não participaram com as armas nas mãos nas formações russo-terroristas, apenas escrevendo na Net e angariando fundos e pessoas, em primeiro lugar violam as leis brasileiras e devem ser denunciadas no Brasil e não na Ucrânia.
2) ABIN http://www.abin.gov.br/modules/faleconosco/?op=O
3) PF http://www.pf.gov.br/servicos/fale-conosco/denuncias
Façam a vossa quota-parte!