Diversas personagens ocidentais costumam aparecer na imprensa e na TV russas, na qualidade de “analistas” e “politólogos”. São usados pela máquina de propaganda estatal, ao nível local e internacional, para legitimar as suas teses: não somos nós os autores das teorias de conspiração antiamericanas, são as ideias originais dos nossos peritos ocidentais.
O
grupo não é muito largo, eles transitam de canal para o canal, de reportagem à
reportagem e de um programa para outro. São apresentados ao público como
“peritos”, “analistas” ou mesmo “jornalistas e escritores”. Muitos destes “analistas”
são loucos urbanos, vigaristas ou quase nazis que recebem, graças à RT ou Sputnik,
a possibilidade de emitir as suas marginais teorias de conspiração para uma audiência
global, embora também marginal.
Mas
de onde aparecem todos eles? Como e porque os determinados “peritos” são
convidados às televisões russas para falar sobre as maquinações e malvadezas da
América? Vamos tentar analisá-lo nos exemplos concretos e práticos.
Vejamos
o caso do William Engdahl, que
diz que «poder
dos EUA construiu o plano inteiro para a demonização da Rússia». Engdahl é autor dos diversos livros, artigos e palestras sobre
os perigos dos produtos geneticamente modificados; é defensor fervoroso da teoria que o “aquecimento global é
um mito” e que todos os acontecimentos globais no mundo, desde o derrube do Xá
do Irão em 1979 até a Primavera Árabe de 2011
foram organizados pela CIA. É um convidado habitual do canal Russia Today (RT), nomeadamente esteve presente no
programa “Truthseeker”
em julho de 2014, que
lançou a calúnia anti-ucraniana do “menino crucificado” e que foi retirada do ar,
após as diversas queixas dos telespetadores.
Na
TV russa Engdahl
é apresentado ora como “escritor e politólogo”, ora como “jornalista
investigativo”. Além disso, ele é autor residente do “Centro para Pesquisa de Globalização”
(Centre for Research on Globalisation), é ativo na página do centro, globalresearch.ca, que é uma fonte
inesgotável dos “analistas” e “politólogos” para a TV russa. O fundador do centro, Michel Chossudovsky é membro do conselho editorial da revista italiana “Geopolitica”, cujo editor, Tiberio Graziani, por sua vez, é membro do conselho superior do Movimento internacional eurasiático, encabeçado pelo neofascista russo, Alexander Dugin.
(No
dia 6 de maio de 2014, na entrevista intitulada “A guerra começou! Pedir a paz
é uma traição!”, Alexander Dugin, na altura ainda professor da Universidade
Estatal de Moscovo “M. V. Lomonosov”, exortava à matar os ucranianos,
literalmente: “Matar, matar, matar. Mais nenhumas conversas deverão haver. Como professor, eu acho assim” (fonte)).
É
de supor que Engdahl conhece
Dugin pessoalmente e através deste consegue o acesso privilegiado aos gabinetes
e mentes das chefias das televisões russas, e não aparece lá pela mera iniciativa
pessoal de algum editor de plantão.
Manuel Ochsenreiter, o editor da revista neo-nazi alemã "Zuerst!" |
Outro
exemplo, é Manuel Ochsenreiter
(1976), presença
regular na RT
e outros canais russos na qualidade do “jornalista”. É editor da revista de extrema-direita
alemã, Zuerst!, que
não esconde as suas simpatias pelo nazismo. Além de ser o “analista” habitual nas televisões russas, ele participou, como “observador”, nas “eleições” na
“república popular de Luhansk”. Que, diz lutar contra a “agressão da junta
fascista de Kiev”, mas não dispense o apoio do editor nazi que até 2011 exortava as
“vitórias saudosas” do Wehrmacht nas páginas da revista “Deutsche Militärzeitschrift”.
A revista "Deutsche Militarzeitschrift" editada até 2011 pelo Ochsenreiter |
O
paciente Jeffrey Steinberg
é um dos autores da revista “Executive Intelligence Review”,
publicada pelo “Movimento
LaRouche” (LaRouche movement). O “movimento” é uma seita obscura com os rituais bastante macabros. Os membros do movimento defendem
a ideia do que MI-6 matou John Kennedy, a rainha Elizabeth II controla pessoalmente (!) o cartel de cocaína e a
princesa Diana foi assassinada pelos serviços secretos britânicos à mando do Filipe, Duque de Edimburgo. A revista do movimento publica permanentemente
as capas como esta:
"Agir agora para parar o plano de saúde nazi do Obama!" |
O
movimento possui um filial na Rússia, mantendo uma página na Internet que defende o
delírio habitual: “os curadores britânicos, apoiantes do genocídio,
organizaram o golpe do estado imperial americano na Ucrânia”.
Lyndon LaRouche e Sergey Glazyev numa conferência de imprensa em 2001 |
O
próprio Lyndon LaRouche é entrevistado regularmente na RT desde 2008. LaRouche é amigo pessoal e de
longa data do Sergey Glazyev, o conselheiro do presidente Putin sobre a integração económica
regional.
O
partido xenófobo russo “Rodina” (Pátria), onde milita Glazyev, é uma fonte inesgotável
dos “peritos” ocidentais para a TV russa. Por exemplo, britânico John Laughland é citado pela imprensa
russa, pelo menos, desde 2002.
Agora Laughland
é apresentado como diretor dos programas de pesquisa do Instituto da Democracia
e Cooperação ( The Institute of
Democracy and Cooperation / Institut de la Démocratie et de la Coopération),
instituição, supostamente séria com sede em Paris. Com
apenas um pormenor curioso, a diretora do instituto é “anti-globalista” russa Natalya
Narochnitskaya, deputada da Duma estatal russa (entre 2003 à 2007), pelo partido “Rodina” e nomeada ao cargo da diretora do IDC pessoalmente
pelo presidente Putin.
Laughland e Narochnitskaya: amigos de longa data |
Afinal,
“Instituto” é uma GONGO,
criada em 2007 e financiada pela Rússia para “monitoramento das violações dos
direitos humanos nos Estados Unidos e na Europa” (Sic!).
Ler o artigo completo (em russo), áudio e vídeo:
1 comentário:
Sim, mas são pessoas sem nenhuma credibilidade no Ocidente. Duvido que sejam ligados a uma (boa)universidade. São na sua maioria pseudo-intelectuais de extrema-direita.
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