sexta-feira, maio 30, 2025

Valsa com o sistema: música popular ucraniana de 1950-60

O filme documental «Valsa com o Sistema» conta como melodias e canções que os ucranianos conhecem e cantam até hoje foram criadas nas décadas de 1950 e 1960: «Duas Cores», «Canção do rushnyk», «Como não te amar, a minha Kyiv», «Cheremshyna» e tantas outras. 

Na primeira parte, o narrador do filme, Yuri Makarov, revela como Ucrânia entrou num período de significativas transformações sociais após a morte de Estaline. O alívio da pressão totalitária coincidiu com a migração em massa de jovens ucranianos rurais para as cidades, o que criou condições únicas para a síntese cultural. Os jovens que se mudaram para as cidades em busca de novas oportunidades trouxeram consigo tradições rurais e começaram a repensá-las num contexto urbano.

 

Na década de 1950, ocorreu um verdadeiro renascimento da canção ucraniana. Surgiram obras que se tornaram símbolos da época: a majestosa «Minha Kyiv», a romântica «Shakhtarochka» (literalmente A Mineirinha) e a tocante «Canção do rushnyk» (a toalha ucraniana bordada). Estas canções nasceram das profundas experiências pessoais dos seus criadores, entre os quais Platon Maiboroda e Andriy Malyshko ocupam um lugar especial. Criavam estas canções não devido as exigências formais do regime, mas a pedido de alma e coração, investindo nelas os verdadeiros sentimentos e experiências das pessoas. 

No entanto, por detrás da aparente liberdade de criatividade, escondia-se o controlo rigoroso dos serviços secretos soviéticos. Documentos dos arquivos do KGB atestam a vigilância constante sobre Andriy Malyshko, suspeito de esconder os «sentimentos nacionalistas». A sua correspondência foi vigiada e violada, as conversas eram escutadas e a sua obra literária foi cuidadosamente analisada em busca de «manifestações antissoviéticas». Isso não impediu ao artista de criar canções que tocaram ao coração de milhões de ucranianos. 

No segundo episódio, o narrador do filme, Yuri Makarov, revela como os anos 1960 foram marcados por uma clara distinção entre criatividade oficial e genuína. Os compositores e poetas eram obrigados a criar canções oficiais sobre o partido e a juventude comunista, o Komsomol, mas a verdadeira arte nascia nos seus tempos livres. Foi então que surgiram canções que os ucranianos queriam e muito cantar e ouvir: sobre o amor, sobre a sua terra natal, sobre experiências e sentimentos pessoais.

 

O progresso tecnológico deste período influenciou significativamente a difusão das canções ucranianas. O aparecimento de rádios portáteis, os discos LP, gravadores, amplificadores, microfones e instrumentos elétricos tornou a música mais acessível ao público em geral. As pessoas podiam ouvir as suas músicas favoritas em casa, gravá-las e trocá-las. Criou-se assim um espaço paralelo da vida musical ao oficial, onde a popularidade de uma canção era determinada não pela sua suposta correcção ideológica, mas pela sua capacidade de tocar o coração das pessoas. 

Os artistas ucranianos aprenderam a trabalhar de duas formas: criaram obras oficiais para satisfazer as exigências do sistema comunista, mas dedicaram as suas melhores forças criativas às canções que compunham para a alma. Estas obras não oficiais, nascidas de uma inspiração sincera, e não à partir de uma ordem partidária comunista, tornaram-se verdadeiros clássicos da música popular ucraniana. Hoje, lembramo-nos delas, e não de canções sobre o partido e o Komsomol, que testemunham o verdadeiro valor da arte criada ao pedido do coração. 

Na cena final, podemos ouvir a canção do compositor Myroslav SKORYK «Desenha a noite para mim». 

Infelizmente, por enquanto este filme verdadeiramente fundamental, não possui as legendas em inglês. No entanto, o recomendamos vivamente, pois mostra a cidade de Kyiv nas décadas 1950-60, tocando as músicas populares ucranianas daquela época.

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