A
seleção paraolímpica russa foi banida dos Jogos Paraolímpicos do Brasil em 2016.
Oficialmente, por causa do sistema do doping estatal, das análises positivas de
doping dos 35 atletas. No entanto, pelo menos dois treinadores russos estão convencidos:
a seleção russa foi banida pelo uso de deficientes falsos, os atletas que na
realidade são cidadãos saudáveis.
Aleksandr
Kachanov, na foto em baixo, é o presidente da Organização pública regional das pessoas com a deficiência
“Clube Desportivo dos Deficientes de Don” da cidade de Rostov.
Aleksandr,
deficiente visual do 1º grau já vários anos se dedica ao desporto e à reabilitação
dos deficientes — “o tema dos deficientes falsos nos Jogos Paraolímpicos é uma
das áreas mais obscuras de adaptação de pessoas com deficiência. As pessoas saudáveis
já não têm a vergónha de se aproveitar das oportunidades escassas dos invisuais.
É claro que essa situação desencoraja os deficientes”.
A
áuge da fraude começou em 1986 [...] quando os invisuais começaram receber os
prémios estatais que superavam as suas parcas reformas. O Ministério do
Desporto entregou [o processo] ao controlo da Federação dos Invisuais. Dado que
na Rússia não existem clubes desportivos para os deficientes, mas era preciso
ganhas as medalhas, apareceram os treinadores que começaram introduzir os
desportistas saudáveis, mas fracassados nas seleções desportivas. Eles recebiam
altos valores monetários, medalhas, prémios estatais, bolsas de estudo,
apartamentos, carros, honra e respeito. As oportunidades dos verdadeiros invisuais
foram reduzidas à quase zero...
Os
treinadores procuravam os candidatos entre os desportistas fracassados, de
preferência com alguma falha minúscula de visão. Depois, essa pessoa era levada
na seguinte conversa: “Você alcançou o seu limite, mas entre as pessoas com a deficiência
o ouro, dinheiro e fama te esperam. Se passares no teste, eu arranjo tudo”.
Após a vitória deste atleta, o seu treinador recebe as honras e os prémios – do
valor quase igual ao do atleta.
Como
os seus treinadores conseguem a declaração médica falsa que confirma a
deficiência, apenas se pode adivinhar. É conhecido o caso do nadador paraolímpico
russo Alexander
Nevolin-Svetov à quem a seguradora recusou desembolsar o seguro de viação,
após perceber que a sua viatura foi conduzida pelo desportista “cego”. Escândalo
foi rapidamente abafado, o médico novamente confirmou a “deficiência grave” do atleta
e este novamente foi chamado à seleção paraolímpica russa.
O
documento que atesta a deficiência dos atletas é emitido em Moscovo, aos jogos
paraolímpicos eles trazem este documento especial, emitido segundo as
exigências internacionais. Nas competições existem os especialistas que
deveriam zelar pela verdade desportiva, mas os casos em que o falso deficiente
é expulso das competições são raríssimos.
A
maioria dos deficientes russos falsos se encontra na natação, golbol, atletismo, futebol e xadrez
(este último por causa dos prémios monetários no campeonato interno russo).
O
segundo depoimento é do Aleksey Shipilov (foto em baixo), o treinador sénior do golbol da região
de Moscovo.
Nos
Jogos Paraolímpicos durante muitos anos participam os mesmos atletas. Os mesmos
treinadores, anos sem fio se dedicam às seleções. Por exemplo, um treinador
russo treina 6 (!) seleções: seleções russas de golbol feminina e masculina, seleções
russas de torball masculina
e feminina, além disso ele treina a seleção nacional russa de futebol dos invisuais.
Ele próprio é o campeão do mundo de futebol entre os deficientes visuais na classe
b2 (visão até 6%).
A
classe b2 significa que à uma distância de 1,5-2 metros o seu portador não pode
sequer ver o rosto de interlocutor. Não consegue ler fonte 20 numa tela de
computador, mesmo a curta distância. No entanto, entre os atletas russos que competem
na categoria b2, há aqueles que dirigem os carros sem problemas. O tal treinador
é um daqueles que se sente perfeitamente bem ao volante...
À
título de exemplo, imitar surdez é mais complicado, pois essa deficiência é
verificada por um equipamento especial, o qual não depende do indivíduo. Faz-se
um audiograma que mostra se o som chega à pessoa ou não.
Os
deficientes falsos russos estão prontos para tudo e mais alguma coisa, pois os
valores de prémios pelas medalhas dos jogos paraolímpicos são iguais aos JO: “ouro”
vale 4 milhões de rublos (60.000 dólares); “prata” – 2,5 milhões (36.800 USD), “bronze”
– mais de 1 milhão (14.700 USD). Além disso, os atletas recebem os prémios
regionais, apartamentos, viaturas, etc.
Além
do Alexander Nevolin-Svetov,
outros “deficientes visuais” russos foram vistos à conduzirem as suas viaturas:
o futebolista Ilkam Nabiev (invisual b2) ou a campeã olímpica russa de natação Oxana Savchenko. Eles
se sentem de tal maneira impunes que já não mostram nenhuma vergonha e não se
escondem.
Perguntado pelo jornalista
se o atual sistema fraudulento existente no desporto paraolímpico russo pode
ser derrotado, Aleksey Shipilov responde: “a única coisa que pode quebrar o
sistema é um grande escândalo internacional. Não vejo nenhuma outra maneira”.
Sem comentários:
Enviar um comentário