domingo, setembro 11, 2016

O grande escândalo paraolímpico russo: o uso dos deficientes falsos

A seleção paraolímpica russa foi banida dos Jogos Paraolímpicos do Brasil em 2016. Oficialmente, por causa do sistema do doping estatal, das análises positivas de doping dos 35 atletas. No entanto, pelo menos dois treinadores russos estão convencidos: a seleção russa foi banida pelo uso de deficientes falsos, os atletas que na realidade são cidadãos saudáveis.

Aleksandr Kachanov, na foto em baixo, é o presidente da Organização pública regional das pessoas com a deficiência “Clube Desportivo dos Deficientes de Don” da cidade de Rostov.
Aleksandr, deficiente visual do 1º grau já vários anos se dedica ao desporto e à reabilitação dos deficientes — “o tema dos deficientes falsos nos Jogos Paraolímpicos é uma das áreas mais obscuras de adaptação de pessoas com deficiência. As pessoas saudáveis já não têm a vergónha de se aproveitar das oportunidades escassas dos invisuais. É claro que essa situação desencoraja os deficientes”.

A áuge da fraude começou em 1986 [...] quando os invisuais começaram receber os prémios estatais que superavam as suas parcas reformas. O Ministério do Desporto entregou [o processo] ao controlo da Federação dos Invisuais. Dado que na Rússia não existem clubes desportivos para os deficientes, mas era preciso ganhas as medalhas, apareceram os treinadores que começaram introduzir os desportistas saudáveis, mas fracassados nas seleções desportivas. Eles recebiam altos valores monetários, medalhas, prémios estatais, bolsas de estudo, apartamentos, carros, honra e respeito. As oportunidades dos verdadeiros invisuais foram reduzidas à quase zero...

Os treinadores procuravam os candidatos entre os desportistas fracassados, de preferência com alguma falha minúscula de visão. Depois, essa pessoa era levada na seguinte conversa: “Você alcançou o seu limite, mas entre as pessoas com a deficiência o ouro, dinheiro e fama te esperam. Se passares no teste, eu arranjo tudo”. Após a vitória deste atleta, o seu treinador recebe as honras e os prémios – do valor quase igual ao do atleta.

Como os seus treinadores conseguem a declaração médica falsa que confirma a deficiência, apenas se pode adivinhar. É conhecido o caso do nadador paraolímpico russo Alexander Nevolin-Svetov à quem a seguradora recusou desembolsar o seguro de viação, após perceber que a sua viatura foi conduzida pelo desportista “cego”. Escândalo foi rapidamente abafado, o médico novamente confirmou a “deficiência grave” do atleta e este novamente foi chamado à seleção paraolímpica russa.

O documento que atesta a deficiência dos atletas é emitido em Moscovo, aos jogos paraolímpicos eles trazem este documento especial, emitido segundo as exigências internacionais. Nas competições existem os especialistas que deveriam zelar pela verdade desportiva, mas os casos em que o falso deficiente é expulso das competições são raríssimos.
  
A maioria dos deficientes russos falsos se encontra na natação, golbol, atletismo, futebol e xadrez (este último por causa dos prémios monetários no campeonato interno russo).

O segundo depoimento é do Aleksey Shipilov (foto em baixo), o treinador sénior do golbol da região de Moscovo.
Nos Jogos Paraolímpicos durante muitos anos participam os mesmos atletas. Os mesmos treinadores, anos sem fio se dedicam às seleções. Por exemplo, um treinador russo treina 6 (!) seleções: seleções russas de golbol feminina e masculina, seleções russas de torball masculina e feminina, além disso ele treina a seleção nacional russa de futebol dos invisuais. Ele próprio é o campeão do mundo de futebol entre os deficientes visuais na classe b2 (visão até 6%).

A classe b2 significa que à uma distância de 1,5-2 metros o seu portador não pode sequer ver o rosto de interlocutor. Não consegue ler fonte 20 numa tela de computador, mesmo a curta distância. No entanto, entre os atletas russos que competem na categoria b2, há aqueles que dirigem os carros sem problemas. O tal treinador é um daqueles que se sente perfeitamente bem ao volante...

À título de exemplo, imitar surdez é mais complicado, pois essa deficiência é verificada por um equipamento especial, o qual não depende do indivíduo. Faz-se um audiograma que mostra se o som chega à pessoa ou não.

Os deficientes falsos russos estão prontos para tudo e mais alguma coisa, pois os valores de prémios pelas medalhas dos jogos paraolímpicos são iguais aos JO: “ouro” vale 4 milhões de rublos (60.000 dólares); “prata” – 2,5 milhões (36.800 USD), “bronze” – mais de 1 milhão (14.700 USD). Além disso, os atletas recebem os prémios regionais, apartamentos, viaturas, etc.

Além do Alexander Nevolin-Svetov, outros “deficientes visuais” russos foram vistos à conduzirem as suas viaturas: o futebolista Ilkam Nabiev (invisual b2) ou a campeã olímpica russa de natação Oxana Savchenko. Eles se sentem de tal maneira impunes que já não mostram nenhuma vergonha e não se escondem.

Perguntado pelo jornalista se o atual sistema fraudulento existente no desporto paraolímpico russo pode ser derrotado, Aleksey Shipilov responde: “a única coisa que pode quebrar o sistema é um grande escândalo internacional. Não vejo nenhuma outra maneira”.

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