Em
1 de setembro de 2004 aconteceu a Crise
de reféns da escola de Beslan, quando um grupo de terroristas armados tomou
os reféns na escola № 1 da cidade de Beslan (Ossétia do Norte). A operação de
resgate, lançada pelas autoridades russas que usaram blindados e morteiros (!), ceifou as vidas das 334 pessoas (186
crianças) e causou os ferimentos em 783 cidadãos.
O salão desportivo da escola, foto @Elena Kostyuchenko, "Novaya Gazeta" |
Para
assinalar a data, as mães do Beslan, filiadas na ONG Golos Beslana (Voz do Beslan)
decidiram se manifestar durante o evento habitual, exigindo a investigação
imparcial da tragédia e eventual responsabilização dos culpados na morte dos
seus entes queridos.
As
T-shirts com a frase “Putin é o carrasco de Beslan” foram colocadas sob a
roupa, a frase foi desenhada pela Emma Betrozova (na tragédia morreu o seu
marido Ruslan, dois filhos, Alan de 16 e Aslan de 14 anos).
Quando
na presença da delegação oficial, encabeçada pelo chefe interino da região,
Vyacheslav Bitarov, na escola (hoje abandonada) tocou a campainha simbólica, as
cinco mulheres removeram os seus casacos, blusas, camisetas. Debaixo, elas usavam
as camisetas brancas com a frase “maldita”. Elas eram: Ella Kesaeva (a filha de
12 anos foi tomada como refém), Emma Betrozova (Tagaeva) (perdeu toda a família
– marido Ruslan, os filhos Alan e Aslan), Zhanna Tsirihova (era refém com as suas
duas filhas, Elizaveta de 8 anos morreu), Svetlana Margieva (era refém com a sua
filha Elvira, filha morreu nos seus braços), Emilia Bzarova (na escola estavam
os seus dois filhos, marido e sogra, o filho de 9 anos, Aslan Dzasarov morreu).
Os
polícias fardados e os desconhecidos vestidos à civil taparam imediatamente as
mulheres com os seus corpos, as empurravam, sussurrando: “Vergonhoso. É uma vergonha, vergonha”.
As
televisões russas viravam (!) as suas câmaras para não filmar estas mulheres!
As
mulheres foram empurradas e bloqueadas num canto de salão desportivo (onde
ocorreu a maior parte da tragédia), à elas se juntaram outras 10 mulheres que
choravam mas exigiam firmemente: uma investigação justa e imparcial. Outras pessoas
simplesmente passavam, sem reagirem.
Mais
tarde, o chefe da polícia distrital, anunciou às mulheres que as suas ações são
classificadas como “protesto não sancionado” (Art. 20.2 do Código Civil russo).
As
mulheres responderam aos gritos:
—
Alguém respondeu pela [morte] dos nossos filhos? Durante 12 anos ninguém foi condenado
– onde está a vossa lei?!
—
Eu vi com os meus próprios olhos como um engenho explosivo voo para dentro, em
seguida morreu o meu filho!
Por
algumas vezes, os jovens vestidos à civil, exigiam à repórter russa Elena Kostyuchenko para
parar de filmar a ação, exigiam mostrar os seus documentos. Elena mostrava os documentos,
mas continuava à filmar.
Após
ficarem cerca de 2 horas na escola, as mães de Beslan foram para casa, no
caminho, eram bloqueadas pela polícia e com auxílio de destacamento especial
antimotim SOBR (!), no total cerca de 50 (!) efetivos, foram detidas com a
violência e levadas ao tribunal. Polícia também deteve Elena Kostyuchenko e Diana Khachatryan
(libertadas mais tarde sem qualquer acusação), as únicas (!) jornalistas russas
presentes que filmaram a ação do protesto das mães de Beslan.
As mães do Beslan na sala do tribunal |
No
tribunal, todas as mulheres que participaram na manif, foram acusadas ao abrigo
dos artigos 20.2 (manifestação não autorizada) e 19.3 (resistência aos agentes
da polícia). No relatório, a polícia acusava as mães de Beslan de desobediência:
“Não reagiam às exigências dos funcionários da polícia, continuando a gritar...
Para a interrupção das ações ilegais foi chamado o destacamento SOBR do
Ministério do Interior. Foi usada a força física de acordo com a lei da polícia”.
Zhanna Tserikhova e Ella Kesaeva mostram os ferimentos em resultado da sua detenção. A frase na T-shirt na foto publicada no jornal "NG" foi retocada ao abrigo da legislação russa (!) |
—
Vir lamentar pelo seu filho – isso, parece, requer uma autorização? — Dizia Zhanna
Tsirihova. A irmã da Zhanna, Zemfira também foi detida – simplesmente porque estava
caminhando ao lado da sua irmã. Ela também foi levada ao tribunal.
Emma
Betrozova pediu para deixa-la ir ter com o seu filho doente de 4 anos de idade,
era necessário lhe aplicar a injeção de antibiótico. O pai da Emilia Bzarova é
invisual. Nada disso impressionou o tribunal.
No
julgamento rápido (para evitar o apoio dos amigos e familiares das vítimas), as
mulheres acusadas de resistência aos agentes da polícia foram condenados às
multas de 500 rublos (7,5 USD); ao abrigo do artigo 20.2 quase todas as mães de
Beslan julgadas foram condenadas às 20 horas de trabalhos comunitários. Zemfira
Tsirihova (era refém em 2004, juntamente com os seus filhos Amiran e Ashan, Ashan
morreu), que não participou na ação, mas no momento da detenção estava ao lado
da Emma Betrozova, também foi condenada aos trabalhos obrigatórios – pelo facto de que “estava
no grupo de mulheres” e “se permitia às declarações”. Emma Betrozova e Zhanna
Tsirihova foram multadas em 20 mil rublos (305 USD) — elas simplesmente não tiveram
a ideia de pedir uma pena alternativa. Todas as mulheres passaram 14,5 horas em cativeiro policial.
As amigas e familiares das mulheres corajosas esperando por elas fora do tribunal |
Na
manhã de 2 de setembro de 2016 todas as mulheres iriam fazer o exame médico
(eles sofreram os ferimentos durante a sua detenção). Todas elas pretendem
contestar a decisão do tribunal (@Novaya Gazeta).
Os sonhos de Beslan: o "sarcófago de ouro" no local da escola número 1 |
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