75
anos atrás, na noite de 15 à 16 de setembro de 1939, nos arredores de aldeia
ucraniana de Muzhylovychi (Mużyłowice), o 49º
regimento do exército polaco atacou e aniquilou o 3º Batalhão do regimento
motorizado SS “Germania” (pertencente ao SS-Verfügungstruppe).
Os equipamentos alemães destruídos pelo 49º regimento Hutsul |
A
unidade que pertencia à 11ª Divisão do Exército polaca, comandada pelo general Kazimierz
Sosnkowski (1885—1969) estava se dirigir, em combates, de Przemyśl, ao socorro à
cidade de Lviv, cercada pelos alemães. Encontrando no seu caminho o 3º Batalhão
do regimento motorizado SS “Germania” (as unidades de apoio e de logística), os
polacos atacaram os alemães de surpresa. Em resultado, SS “Germania” perdeu
quase todo seu armamento pesado, nomeadamente 8 canhões de 105 mm, bateria de
canhões antiaéreas de 88 mm, maior parte dos morteiros e metralhadoras, todas
as viaturas e reboques de canhões. Em combate morreram o comandante do 3º batalhão
SS-Obersturmbannführer Willy Koeppen e o seu adjunto SS-Hauptsturmführer Schomberg.
Embora, os equipamentos capturados não serviram aos polacos, que devido falta
de pessoal habilitado, tiveram que os destruir no local, usando as granadas.
O
49º
regimento “Huculski Pułk Strzelców” aquartelado na cidade ucraniana de Kolomyia, recebeu a sua honrosa
designação de “Huculski” (Hutsul)
em 1937. A unidade cultivava as tradições do grupo sub-étnico ucraniano hutsul,
sendo única neste aspeto no exército da 2ª República polaca (1919-1939). Os
militares do regimento trajavam os casacos compridos e bonés tradicionais
hutsules, ostentando nos botoeiras o seu próprio emblema: a dupla cruz hutsul,
colocada sobre um galho do cedro e duas folhas de carvalho. A banda do regimento
usava as trembitas metálicas e gaitas de foles, o mestre, em vez de batuta,
usava o machadinho hutsul (bartka, na foto em baixo), com o qual comandava a orquestra e definia o
ritmo. Os quartéis do regimento eram decorados com artesanato da autoria dos artistas ucranianos
de Kosiv e Kosmach, nomeadamente
os tapetes.
Além
disso, ao 1º batalhão do regimento admitiam preferencialmente os naturais da
terra, provenientes da pequena nobreza ucraniano-polaca local (szlachta zagrodowa), que os
oficiais polacos tentavam educar na tradição polaca. Alias, todo o cultivo das tradições
hutsul, servia na 2ª República polaca para o fomento do sentimento separatista
que deveria separar este sub-grupo étnico do resto da nação ucraniana.
A cruz dupla hutsul do 49º regimento |
As estatísticas mostram que em 1923 o 49º Regimento possuía nas suas
fileiras 5,28% dos ucranianos, com a tendência de aumento gradual desta percentagem
nos anos seguintes. Alguns historiadores admitem que em 1939 a maioria dos soldados
e praças da unidade eram ucranianos.
Os
combates de 1939
O emblema do 49º regimento em 1939 |
Em
setembro de 1939, o 49º regimento, em conjunto com diversas outras unidades
polacas defendia a autro-estada estratégica Lviv – Yavoriv, contra o avanço da
7ª e 57ª divisões de infantaria de Wehrmacht. As perdas eram enormes, em 20 de
setembro chegou à cidade de Lviv apenas um único grupo conjunto pertencente ao
regimento, em número não superior aos 100-150 militares. O regimento deixou de existir,
capitulando perante o Exército Vermelho, embora uma parte dos militares chegou
à fronteira húngara e foi internada no país.
Os
alemães
Os militares da SS Germania |
O
SS-Verfügungstruppe (força de suporte no combate, abreviação SS-VT) era uma entidade paramilitar nazi criada em 1934 à partir da fusão de várias entidades paramilitares e posteriormente integrada na
Waffen-SS. Participou ativamente em várias campanhas militares alemãs na II G.
M., nomeadamente na invasão à França, Polónia e URSS. No total foram criados
dois regimentos, SS-Standarte “Germania” e SS-Standarte “Deutschland”. SS-Verfügungstruppe
foi considerado um braço armado do partido Nazi e não do Wehrmacht.
Em
outubro de 1938 as unidades do SS-VT foram unidas na SS-Verfügungsdivision
(abreviada V-Division), sob o comando do SS-Brigadeführer Paul Hausser. Sob o seu
comando, a V-Division participou da invasão dos Sudetos (1938) e na ocupação da
Polónia em 1939. A V-Division nunca lutou como unidade única, era dividida em
regimentos menores e dispersada por entre as várias tropas do Wehrmacht.
Combate
determinado e implacável
Em
Muzhylovychi se encontravam o estado-maior da divisão “Germania”, o seu 3º
Batalhão e as unidades de apoio. Os polacos usaram no ataque as forças do 1º Batalhão
(mais ucraniano) do major Eugeniusz Litinsky e do 3º Batalhão (mais polaco) do major
Mieczysław Steczowicz. Apesar do nome pomposo de batalhão, as referidas unidades eram significativamente enfraquecidas e numericamente debilitadas após diversas
batalhas anteriores. No entanto, no ataque à baioneta, eles conseguiram
aniquilar as unidades alemãs (alguns dados apontam até 200 baixas mortais), uma
parte dos efetivos alemães se colocou em fuga. As forças polacas também perderam
vários militares, incluindo três oficiais.
O resultado do ataque do 49º regimento |
A
vida depois de 1939
Os
diversos militares do 49º regimento que se entregaram aos soviéticos mais
tarde se integraram no exército do general Władysław Anders.
As tradições do 49º Regimento eram seguidas pela 3ª Divisão dos atiradores dos Cárpatos
(1942-47) que lutou na frente italiana e participou no famoso assalto do
Monte Cassino. Nas atuais forças armadas da Polónia, a herdeira do 49º Regimento
é considerada a 22ª Brigada da montanha, que ostenta como insígnias o galho do
pinheiro dos Cárpatos e as penas do galo silvestre.
O capitão do 49º regimento Wiesław Janusz Cygański: com a cruz dupla na botoeira e número 49 no galão |
Diversos
oficiais do 49º Regimento morreram em combates contra o exército alemão ainda
em setembro de 1939. O último comandante do regimento, o tenente-coronel Karol
Golda morreu no cativeiro soviético (no campo de concentração de Starobelsk ou
no massacre de Katyn). Na URSS também morreram diversos outros oficiais seniores
da unidade. Vários outros conseguiram fugir do cativeiro do NKVD e chegar ao
Ocidente, onde serviram nas unidades polacas subordinadas ao governo nacional sediado
em Londres.
O
furriel Józef Biss se tornou o comandante da unidade paramilitar nacionalista
polaca “OP-26” (pertencente à Armia Krajowa) e foi responsável, em março de 1945, pelo massacre dos ucranianos na aldeia de Pawlokoma em
que morreram 366 ucranianos, incluindo as mulheres e crianças. Biss passou
pelas cadeias da Polónia comunista em 1945-1948 e em 1951-1955 (pela
participação na resistência anticomunista) e morreu em 1977. Em 1992 o tribunal
polaco o inocentou de todas as acusações, mesmo da participação no massacre de
Pawlokoma, reconhecendo, contudo, que o crime é de responsabilidade dos seus
subordinados.
A cidade de Kolomyia na época da 2ª República polaca |
Bónus
A
capa da revista polaca “Historia” de setembro de 2016, com o subtítulo “Sem censura” publica o artigo central com o título: “TRAIDORES DA POLÓNIA: como em
setembro de 1939 os Judeus, Ucranianos e Alemães expetaram-nos a faca nas
costas”. Mais um caso em que a história ensina apenas uma coisa: “a história nada ensina”...
Sem comentários:
Enviar um comentário