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O militar ucraniano preso pelos terroristas e assassinado no aeroporto de Donetsk (com as mãos atadas atrás das costas) |
A
deputada do parlamento polaco, Małgorzata Gosiewska (partido PiS), apresentou
publicamente o relatório dedicado aos crimes da guerra russos, cometidos no
leste da Ucrânia contra os civis e militares ucranianos. O jornalista polaco
Wojciech Pięczak do jornal “Tygodnik Powszechny” conversou sobre a investigação
com Adam Nowak (pseudónimo), o investigador do grupo, ex-oficial do Bureau
Central de Investigação (CBS)
da Polónia.
por:
Wojciech Pięczak (2ª parte, versão curta, +16)
—
Quais os encontros com as vítimas eram mais difíceis?
—
Após as conversas com as mulheres que foram torturadas me surgiu o pensamento que,
se eu encontrar o criminoso, estaria pronto para matá-lo. Mas tentei manter o
distanciamento, para que todo o procedimento decorrer de forma profissional. É impossível
trabalhar sem o distanciamento. Mas é difícil, quando estas a ouvir de uma
testemunha que numa qualquer cela de tortura ele tinha visto uma mulher
grávida. Nós não sabemos quem ela era, e se ela sobreviveu.
—
O que contavam as mulheres? Quem eles eram?
—
Eles eram vítimas de torturas brutais, que incluía a corte das partes do corpo.
Eles foram submetidos aos espancamentos terríveis, humilhação, na sua frente eram
assassinados os seus amigos. Eram as mulheres e moças normais. Por exemplo, as
voluntárias, que levavam os mantimentos [às forças ucranianas] e caíram no
cativeiro. Mas era possível estar no cativeiro [terrorista] não apenas por
causa das atividades políticas. Nas cadeias de Donbas também se encontravam os
moradores normais, apenas porque possuíam alguns bens, uma casa bonita, um belo
carro. No início, nos territórios ocupados os russos simplesmente armavam os
criminosos locais, a escória da sociedade. Eles lhes deram as armas e disseram:
agora vocês são a polícia aqui, deve haver a ordem. E estes separatistas escolhiam
as vítimas entre os moradores locais e os mantinham nas caves, até que estes
lhes passavam a sua casa ou os bens. Oficialmente, claro, isso parecia como a
venda. As vezes, se alguém resistia bastante, era assassinado.
—
Será possível, na base dos dados disponíveis, dizer qual foi a natureza dos
crimes russos: esporádica ou sistémica?
—
Certamente sistémica. Em Donbas ocupada não havia lugares, onde eram mantidos
os prisioneiros ucranianos, militares e civis, em que não eram cometidos os crimes
de guerra. Ou, dito de outra forma: havia muito poucos lugares onde eram
mantidos os prisioneiros de guerra e civis, mas onde não havia assassinatos,
tortura, etc. Em depoimentos recolhidos por nós há apenas um desses lugares –
Ilovaysk. Os prisioneiros ucranianos, na sua maioria os homens do batalhão “Donbas”
contaram que, num primeiro momento, capturados, eles passaram pelo inferno de Donetsk,
mas depois, em Ilovaysk, foram bem tratados. O comandante separatista local
disse lhes: “aqui ninguém vós toca, vocês são prisioneiros”. E confessou que agiu
assim porque antes os seus homens foram capturados pelo batalhão “Donbas”, e foram
bem tratados.
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O cidadão e terrorista russo Igor Girkin "Strelkov" em Donetsk, 27/7/2014 |
—
Será que entre os criminosos identificados está presente Igor Girkin (pseudónimo
“Strelkov”), o coronel russo, que, como ele mesmo se gabou nas entrevistas, começou
a guerra na Donbas, e alguns meses era o ministro da defesa [dos terroristas]
em Sloviansk e Donetsk?
—
Sim, a sua actividade está bem documentada. À ele podem ser atribuídos os
crimes enumerados no Estatuto de Roma, a base legal em que opera o Tribunal
Penal Internacional. Em primeiro lugar, Girkin como o comandante é responsável
pelos atos dos seus subordinados e por tolerar a prática de crimes. Em segundo
lugar, em Sloviansk ele tinha a sua sede no antigo edifício do Serviço de
Segurança Ucraniano (SBU). Agora Sloviansk está novamente sob controlo da
Ucrânia, nós visitamos aquele edifício. A sala do Girkin estava exatamente
acima da cave, onde os prisioneiros eram torturados. A cidade tinha pelo menos
dois locais de tortura: no edifício da SBU e na polícia. No segundo lugar as
pessoas também eram fuziladas, condenadas à morte, por assim chamado tribunal
militar de Sloviansk. Girkin participava nas reuniões deste pseudo-tribunal, a
sua assinatura está nas sentenças de morte. Sabemos que os veredictos eram emitidos
à noite, e eram feitos pelas “troikas”, como eram chamadas pelos russos.
—
Isso é uma referência aos tribunais especiais do NKVD, que emitiam as
sentenças, nomeadamente, aos oficiais [polacos] em Katyn?
—
Sim, a direta. Eles adoram os nomes da União Soviética antiga, da era estalinista.
Eles chamavam os seus tribunais de “troikas”, o seu serviço de contra-espionagem
era chamado de NKVD, etc. E mais um detalhe curioso, que mostra a mentalidade
dessas pessoas: numa ata da “troika”, assinada, entre outros pelo Girkin, da
reunião que teve o lugar em 24 de maio de 2014 e onde foram condenados à morte
duas pessoas, diz-se que o veredicto é baseado no ... Decreto do Presídio do Conselho
Supremo da URSS de 22 de junho de 1941. Isso seria engraçado, se essas pessoas
realmente não fossem assassinadas.
—
Quantas pessoas foram sentenciadas pelas «troikas» de Girkin?
—
Não sabemos. Após a libertação de Sloviansk, lá foram encontradas as valas comuns, mas certamente nem
todas. No entanto, para fuzilar uma pessoa não eram necessárias nenhumas “sentenças”.
Os depoimentos mostram que as execuções eram os atos quotidianos. Disparavam na nuca.
—
E outros líderes das ditas repúblicas populares — de Donetsk e de Luhansk?
—
O “chefe” da república de Donersk, Zakharchenko e o seu antecessor, [Alexander]
Boroday, tal como outros líderes: todos eles são culpados de crimes de guerra.
Ou, como comandantes ou como aqueles que estavam diretamente presentes nos
locais de cometimento de crimes. Eles até não escondiam isso, e se fotografavam
com os prisioneiros mortos, como, por exemplo, Zakharchenko. Temos um depoimento
sobre Boroday, pessoa ligada ao Kremlin, que foi enviado à Donetsk de Moscovo. Os
oficiais do GRU que torturavam uma das vítimas com qual falamos, o tratavam como
chefe. Nós temos um caso documentado em que ele estava tentando obter o resgate
de um milhão de dólares pela vida de um prisioneiro. Era um prisioneiro especial,
que, como supomos, provavelmente pretendiam levar à Rússia e julgar lá juntamente
com [piloto] Nadia Savchenko. Mas os carrascos de Donetsk o mutilaram bastante
e Boroday, de acordo com o depoimento, disse-lhes que eles foram longe demais e
“essa pilha de carne” agora não servia. Quando ele viu que não haverá o
pagamento de resgate, ordenou a execução do prisioneiro. Este só sobreviveu
porque no caminho à sua execução, no cemitério, ele foi “pego” por um outro
grupo.
—
Outro grupo?
—
Lá as coisas funcionam assim. O prisioneiro foi levado por um grupo [terrorista]
rival, que o trocou por alguém de quem eles precisavam, mas que se encontrava numa
cadeia ucraniana. Quando eu recolhia os depoimentos, tinha a impressão que do outro
lado não está um pseudo-estado separatista ou russo, mas bandos criminosos.
Eles competiam nos saques, arrancavam uns aos outros os prisioneiros valiosos,
pelos quais poderiam pedir o resgate...
—
Porque vocês, polacos, se dedicam à isso?
—
Para que tudo isto não morra de causas naturais, de modo que o mundo não deixe
isso esquecido, para que o mundo saiba.
—
Este motivo aparecia nas palavras das vítimas: para que o mundo saiba?
—
Às vezes eu via nos olhos das pessoas com quem falávamos, a esperança (que imponha,
diria eu, uma grande obrigação moral) que alguém, ainda mais os estrangeiros estão interessados nisso, então isso terá algum efeito.
—
E assim será?
—
Se o caso subir à tribunal de Haia, este poderá decretar a procura dos criminosos,
poderia enviar os seus próprios investigadores. Ucrânia não assinou o Estatuto
de Roma do Tribunal Penal Internacional, mas o parlamento ucraniano decidiu que
tudo o que aconteceu depois do início da guerra, passa para a jurisdição de
Haia. Espero que, mesmo que essas pessoas não pudessem ser levados à justiça,
porque a Rússia não vai os entregar, pelo menos eles vão sentir o medo. E se reduzirá
a escala de crimes. Afinal, nada disso acabou, tudo continua. Estamos em
contato com as pessoas que estão envolvidas na troca de prisioneiros, eles
regularmente telefonam para nós. Dois dias atrás, recebi as informações sobre
um homem que foi libertado do cativeiro russo, passando lá um ano. Dizem que
ele esta em um estado terrível. Mas ele quer falar...
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a entrevista integral:
O
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