Em Setembro – Outubro de 1944 o Estado Clandestino Polaco e o seu exército, Armia Krajowa (AK) iniciaram a revolta antinazi, que foi derrotada por não receber auxílio soviético, a decisão estratégica do Estaline, para enfraquecer as forças anticomunistas da Polónia.
Vários ucranianos participaram na revolta, ao lado das forças anticomunistas polacas, embora logo no início da revolta, provavelmente de propósito, foi lançado o rumor absolutamente falso do que as unidades ucranianas, nomeadamente Divisão Galiza participam no esmagamento da revolta, os seus soldados, alegadamente, cometiam os crimes contra a população civil polaca...
Logo após a ocupação da Polónia, os nazis proibiram o funcionamento das organizações sociais e educacionais ucranianas, vários dirigentes ucranianas foram enviados para os campos de concentração. Por exemplo, o chefe da Direcção Central do Comité Central Ucraniano, Mykola Kovalski (1855-1944) foi preso e enviado para o campo de concentração de Stutthof, depois para Dachau, onde ele morreu. Ex-funcionário da Secção militar da Missão Diplomática Extraordinária da UNR na Polónia, Illya Chudnenko, até o fim da II G.M., estava preso em Auszhwitz. Um dos líderes da resistência armada ucraniana, Taras Bulba – Borovets, em 1934-1935 prisioneiro do campo de concentração polaco de Bereza Kartuska, em 1943 foi preso em Varsóvia pelo Gestapo e enviado para o campo de concentração nazi de Sachsenhausen.
Vários oficiais do exército da UNR, defenderam a Polónia em 1939, após o ataque da Alemanha nazi, o mais graduado foi o general (coronel diplomado do exército polaco), Pavlo Shandruk. Em 1939 ele comandava o estado – maior da 29ª brigada de infantaria, nos dias 20 – 29 de Setembro de 1939 comandava a defesa da cidade de Zamość. Em 1945 Pavlo Shandruk tomou o comando da Divisão Galiza, em 1949 emigrou para os EUA, o Governo polaco no exílio o condecorou com a ordem militar “Virtuti Militari” da V classe.
Em 31 de Março de 1944 o tribunal militar especial do AK ordenou o assassinato do ex-dirigente da Comité Auxiliar Ucraniano, ex-coronel do exército da UNR, Mykhaylo Pohotovko, sem nenhuma decisão formal foram assassinados quatro outros funcionários do mesmo Comité. Poucos ucranianos tiveram a coragem de participar na cerimónia do enterro do coronel Pohotovko e os seus companheiros, receando o massacre dos nacionalistas polacos.
Desde o início da revolta, os revoltosos polacos começaram procurar e aprisionar os ucranianos, baseados na informação não confirmada que os ucranianos eram “pombeiros” (gołębiarzе), assim em Varsóvia eram conhecidos os franco-atiradores. Os ucranianos detidos eram colocados nos esquadros da polícia e nas cadeias, eram obrigados fazer vários trabalhos manuais.
Um dos exemplos dessa “caça aos ucranianos”, por parte dos nacionalistas polacos era a história do Lev Bykovskiy, ex-oficial do exército da UNR. Engenheiro de profissão, ele foi bibliógrafo, estudioso, editor, redactor, publicista, escritor, agente cultural e economista, desde 1928 funcionário da Biblioteca Pública de Varsóvia, primeiro como bibliotecário, depois como o seu director. Durante a revolta, ele recebia para a guarda os diversos livros e arquivos vindos dos particulares e das instituições ucranianas. Em 22 de Setembro de 1944 engenheiro Bykovskiy foi preso e espancado pelos insurgentes polacos, que o enviaram para a construção de barricadas, onde ele foi gravemente ferido na garganta por estilhaço de obus nazi. Mais tarde, ele foi inocentado pelo tribunal polaco. Em Dezembro de 1944 Bykovskiy escreveu o livro de memórias “Revolta polaca em Varsóvia em 1944: lembranças da testemunha”, editada em ucraniano em 1963 em Londres e sob a sua autorização em 1964 em polaco em Paris.
No primeiro dia da revolta, no combate contra os nazis morreu ucraniano Orest Fedoronko, porta-estandarte “Fort” do Comando de Sabotagem do AK, filho do capelão – mor ortodoxo do Exército Polaco, Semen Fedoronko, assassinado pelo NKVD em 1940 no Massacre de Katyn.
Outro ucraniano, Andriy Hitchenko (1926-24.01.2004), filho do cônsul da UNR na Polónia, fazia parte do comando do AK “Baszta”. Duas vezes ferido em combate, preso pelos nazis após a derrota da revolta, ele sobreviveu a II G.M., foi graduado pelo Instituto Politécnico de Varsóvia e até a sua reforma trabalhou nos caminhos de ferro polacos.
O capitão de cavalaria do exército da UNR (tenente contratado no exército polaco), Ivan Mytrus – Vigovski também lutou nas fileiras da AK. Nascido em 1897 na aldeia Umanska na Kuban, em 1907 é admitido no Corpo de Cadetes de Tbilisi, mas em 1912 é expulso por “ucranianofilia”, nos seus livros foi encontrada a colectânea poética Kobzar do Taras Shevchenko. Ivan Mytrus participou na defesa da Polónia em 1939, em 1940-1944 fez parte do Comando de Sabotagem do AK, morreu, provavelmente, durante a revolta de Varsóvia.
Durante a revolta, o bairro Wolia de Varsóvia foi o palco de batalhas sangrentas entre polacos e alemães. No início de Agosto de 1944 os nazis mataram toda a família do padre ucraniano Anton Lalyshevych, os alemães chacinaram as crianças e o pessoal auxiliar do orfanato ortodoxo ucraniano na rua Wolska № 149. No segundo dia da revolta, os nazis destruíram a igreja grego – católica ucraniana na rua Medowa № 16, onde morreu o seu padre Klementij Kernitski e o monge Veniamin Klachinski. Também foi destruída pelos nazis a igreja ortodoxa da Santa Trindade (cidade velha, rua Podwale № 5), restaurada após a guerra e em 2002 devolvida à Metrópole ortodoxa de Varsóvia.
Segundo os dados históricos, a unidades do exército alemão mais brutal para com as populações civis polacas era a brigada Kaminski (1ª Unidade SS do Exército Popular Russo de Libertação – RONA), chefiada pelo Bronislav Kaminski, polaco de origem por parte do pai. No seu livro Rising-44 («Revolta-44»), historiador britânico Norman Davies confirma a participação do regimento da SS RONA, chefiado pelo Brigadeführer Bronislav Kaminski (líder do Partido Nacional – Socialista Russo) na repressão da revolta de Varsóvia. O regimento RONA foi formado entre os voluntários russos na região russa de Briansk. Norman Davies não lista nenhuma formação etnicamente ucraniana que participou no esmagamento da revolta, a Legião Ucraniana de Autodefesa (31° batalhão da defesa do SD alemão), com 200 soldados, chegou a Varsóvia já após a sua derrota.
No entanto, as informações falsas sobre alegada participação dos ucranianos foram várias vezes repetidas na imprensa clandestina polaca daquela época, criando, dessa maneira o mito na inconsciência colectiva da sociedade polaca. Estes mitos também foram repetidos propositadamente em alguns estudos historiográficos posteriores.
Recentemente, os famoso historiador e especialista em história de Varsóvia, Jerzy Majewski em conjunto com Tomasz Uzikowski colocaram o ponto sobre I, nesta questão. Na guia turística sobre a revolta de Varsóvia, a biografia curta do Bronislav Kaminski se chama: “Não são os ucranianos, mas RONA”.
Segundo a “Enciclopédia Ucraniana”, durante a revolta de Varsóvia morreram cerca de 200 ucranianos. Tento em conta que antes de 1939 viviam na cidade cerca de 2.000-2.500 ucranianos, significa que as perdas ucranianas chegaram à 10%. A maioria foi sepultada no cemitério ortodoxo de Wolia, hoje é quase impossível obter a lista dos falecidos e assassinados, pois naquela altura não eram emitidos as declarações da morte.
Após o fim da revolta, os moradores de Varsóvia que sobreviveram, foram levados até o campo de concentração de Pruszków. Entre os ucranianos, lá parou a família do ex-militar do exército da UNR, Anton Denysenko, sua esposa Olexandra e a filha bebé. Do Pruszków eles foram levados aos trabalhos forçados na Alemanha.
Fonte:
http://www.istpravda.com.ua/digest/2010/10/22/895/view_print (em ucraniano)
http://nslowo.pl/content/view/1210/99 (original)
http://nslowo.pl/content/view/1288/146\ (em polaco)
Ver o filme documental sobre a revolta de Varsóvia:
http://www.youtube.com/watch?v=7qLNsIP2_eY&feature=player_embedded