domingo, setembro 25, 2011

Revolução e terror das camisetas


A última campanha de terror e perseguição dos oponentes políticos começou na Ucrânia com um slogan criado pelos fãs de futebol. “Obrigado ao povo de Donbas pelo presidente pidoras”, gritavam os fãs de FC Dynamo Kyiv nos jogos da sua equipa com FC Shakhtar Donetsk. Visto que o presidente ucraniano tem um feio passado criminal, os fãs usaram a palavra do calão prisional “pidoras”, que significa homossexual passivo (nas prisões soviéticas estes se encontravam no mais fundo da hierarquia prisional e podiam ser abusados por outros presos).
A empresa privada ucraniana “ProstoPrint” usou o slogan “Obrigado ao povo de Donbas ...” para fazer a impressão em camisetas e outra mercadoria. Após o seu aparecimento no mercado os acontecimentos precipitaram-se: a polícia criminal invadiu a empresa e confiscou todos os seus produtos, equipamentos e documentação, paralisando e praticamente destruindo o negócio que demorou cinco anos para ser erguido, escreve página Demotix.com.
“Como existe no nosso país um grande número de pessoas que estão insatisfeitos com a política (do presidente Yanukovych), esses produtos se tornaram muito populares”, explica o proprietário e gestor da empresa Denis Oleinikov. Entendendo o slogan como a crítica do presidente, o poder ucraniano partiu para o contra-ataque, primeiro Oleinikov recebeu um telefonema no seu telemóvel particular com a recomendação de parar imediatamente as vendas de todos os produtos criticando Yanukovych. A proposta anónima foi recusada e como represália no dia 6 de Setembro a polícia criminal efectuou as buscas nos escritórios da “ProstoPrint”. A polícia de Kyiv abriu o caso criminal, acusando a empresa de usar indevidamente os símbolos do Euro 2012 e indiciando dez funcionários da “ProstoPrint”.
No dia 12 de Setembro os funcionários da empresa e os seus parceiros organizaram o flashmob contra as repressões políticas que pretendem castigar a produção, distribuição e vendas dos produtos que contém o slogam “Obrigado ao povo de Donbas...”  
Na entrevista à página ChernikovSun Denis Oleinikov contou que os funcionários da empresa, chamados para depor recebem ameaças verbais e são submetidos a pressão psicológica. Uma das funcionárias recebeu a ameaça de ser violada, vinda de dois oficiais da ... polícia ucraniana. Na sua página de Facebook Oleinikov escreveu: “É o quinto dia quando eu, director e proprietário da empresa não tenho permissão de me encontrar com o investigador. /.../ Eu afirmo: “ProstoPrint” não violou as leis da Ucrânia. /.../ Os funcionários da “ProstoPrint” são convidados para depor, muitos pela terceira – quarta vez”.
Durante o flashmob Denis Oleinikov distribuia as camisetas “Não tenha medo”, a acção teve poucos participantes (o tal medo), mas por vezes os carros que passavam pelas imediações faziam o sinal em apoio à iniciativa, escreve Focus.ua.
No dia 15 de Setembro, quando “ProstoPrint” organizou no centro de Kyiv a feira popular autorizada pela câmara municipal, onde vendia camisetas, bolsas e canecas com os slogans «Obirgado ao povo de Donbas pelo ananás», «Krovosisi by aZara» e UBOZ – 2012. Mas apenas 5 minutos após o início da feira, que reuniu cerca de 200 pessoas, os seus organizadores foram cercados por várias dezenas de polícias de choque da unidade Berkut. A polícia empurrava e batia nos presentes (incluindo nos jornalistas), destruindo pelo menos uma câmara fotográfica. Em seguida, a polícia apreendeu a caixa com a mercadoria e a levou até o autocarro policial, enquanto os cidadãos presentes gritavam “Ladrões” e “Obrigado ao povo de Donbas”.

Um dos organizadores da feira, Olexander Kondratyuk, contou que duas horas antes do início do evento os organizadores receberam ameaças vindas da Direcção Geral do Ministério do Interior da Ucrânia. A polícia ameaçava os organizadores do evento com "responsabilidade", contou  Kondratyuk.
No dia 19 de Setembro em Kyiv se deu o caso do jovem Andriy Orest, que foi baleado (!) na mão por dois desconhecidos, após a sua recusa de despir a camiseta “Obrigado ao povo de Donbas”, escreve Pravda.com.ua. Além disso, a polícia tentou provar que o jovem automutilou-se com “uma perfuradora”, embora os peritos independentes encontraram na ferida os vestígios de pólvora.
No dia 20 de Setembro o servidor da empresa “ProstoPrint” foi apreendido pelo Departamento da Luta Contra o Crime Organizado (UBOZ). Também se tornou público que Denis Oleinikov e a sua família recebem as ameaças. Finalmente, no dia 21 de Setembro Denis Oleinikov acompanhado pela família deixou Ucrânia, recebendo a informação sobre a sua iminente prisão... Na sua página do Facebook Oleinikov conta que além de prende-lo, a polícia planeava deter a sua esposa e recusar a possível guarda dos filhos do casal aos avos (alegando velhice e incapacidade destes).
Se tudo isso não parece com a repressão de uma ditadura terceiro mundista decadente, então já nem sei o que pensar sobre a minha pobre e sofrida Ucrânia...
Bónus  
Toque do telemóvel “Obrigado ao povo de Donbas”, voz e bateria, mp3: http://bit.ly/ringdoras

Descarregar gratuitamente os desenhos das camisetas “Obrigado ao povo de Donbas”: http://www.sendspace.com/file/4h6gfi
Foi aberto o concurso de graffiti “Obrigado ao povo de Donbas” (autor tem que fotografar o resultado e o enviar para e-mail: acbaarrobaacbapontocompontoua). Tamanho e técnica não importam, importa a criatividade, qualidade artística, o nível de perigosidade do local onde foi feito o graffiti, anuncia Blogs.korrespondent.
Mais informação sobre a campanha Obrigado ao povo de Donbas
O slogan original no YouTube:

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