quinta-feira, setembro 08, 2011

Recordar Lecia Bandera (1947 – 2011)

Recentemente o nosso blogue publicou a notícia sobre a morte prematura da Lecia Bandera, a filha mais nova do Stepan Bandera, líder histórico da OUN, assassinado pelo agente do KGB em 1959 em Munique na Alemanha Federal. 

por: Stepan Bandera (Neto)* 

Após o assassinato do seu pai, a menina de 12 anos começou escrever o diário, onde anotava sobre tudo o que a rodeava, coisas boas e dolorosas: sobre Deus, o lugar do indivíduo neste mundo, primeiro amor, cinema, música, sorvete, os segredos e acontecimentos na vida da menina. 

Lecia Bandera nasceu na Alemanha Federal aos 27 de Agosto de 1947, mas apenas após a morte do pai soube o seu verdadeiro apelido, percebe à que família pertence. Antes, a família viveu sob o apelido Popel, segundo a legenda oficial, o seu pai era Stefan Popel, jornalista do “Independentista Ucraniano”. Em 1960 a família emigrou para Canadá, mãe Yaroslava Bandera – Oparivska (1919-1979), irmã mais velha Natália (1941-1985), irmão Andriy (1946-1984) e ela. Viviam em Toronto. 

Em 1964 Lecia terminou o ginásio Humberside Collegiate Institute, entre 1965 à 1968 estudou filosofia e história contemporânea na Universidade de Toronto. Trabalhou na biblioteca universitária e nos arquivos da Frente da Libertação. Mais tarde trabalhou na Oficina Ucraniana de Cerâmica Artística de Iryna Moroz em Toronto, foi tradutora do Instituto de Investigação “Ukrayinika”. 

Ainda na Alemanha, Lecia filiou-se no movimento escutista ucraniano Plast, mais tarde pertenceu à União da Juventude Ucraniana (SUM) em Toronto, onde em 1970 chegou ser a escrivã. Em 1971-1974 volta para Munique, onde trabalhou como tradutora e correctora na redacção do jornal “Shliah Peremogy” (“Caminho da Vitória”, órgão oficial da OUN-R). Em 1980 se torna a tradutora do Comité dos Direitos Humanos do Congresso Mundial dos Ucranianos Livres (hoje Congresso Mundial Ucraniano). 

Lecia Bandera falava ucraniano, inglês e alemão, dominava bem francês, espanhol, italiano, russo e português. Ela gostava de desenhar, bordar, escrever poesias, que publicava em diversas edições ucranianas. Lecia oferecia os seus trabalhos às diversas organizações de caridade, por exemplo ao Serviço Social Ucraniano – Canadense. 

Nos últimos anos, Lecia Bandera lutou contra várias doenças, no fim de Junho ela foi internada de urgência e no dia 14 de Agosto faleceu calmamente no hospital de São José em Toronto. Ela foi sepultada no cemitério de Parklawn Cemetery, ao lado da mãe e do irmão. 

Apesar de ser filha de uma lenda viva da resistência organizada ucraniana, Lecia Bandera era uma pessoa muito modesta, embora jovial, sobremaneira apegada aos ideias do seu pai. No arquivo familiar estão guardadas várias cartas que Lecia escreveu para o pai, por exemplo, na carta datada de Março de 1955, com 7 anos, ela escreve: “Caríssimo Pai! Estou muito triste por Tu não estares. Casa fica muito vazia sem Ti. Porque Tu foste tão longe para Irlanda. Escreve para mim, quando voltares. Venha, já rapidamente, pois tenho muitas saudades Tuas. Beijo Ti sinceramente, Tua Lecia”.  

4 de Setembro de 1960 (aos 13 anos) 

Tu foste destinado, Pai, a cair no campo de luta libertadora da Ucrânia. Tu és o símbolo de um país inteiro. Tu és o símbolo para os nacionalistas ucranianos e os patriotas. Tu és o nosso guia, Pai, como eu Te amava muito, quando Tu ainda estavas vivo, mais Te amo agora, quando Tu já não estas junto de nós. E Pai, peço, dá à mãe forças e vontade para viver. Que mãe ama a vida pelo menos um pouco mais e encontra o objectivo e algo que preenche a sua vida”.  

2 de Outubro de 1960  

Essa foi a vontade de Deus terminar a sua vida com a morte heróica, morte pela Ucrânia. E deve ser a vontade de Deus deixar nós, a família do pai, sem o pai, para que nós entrarmos na luta pela vida, para que nós mostrarmos a nossa capacidade de viver, nós três, os filhos do nosso pai. [...] Com muito grado eu entro nessa luta com a vida, para vence-la”. 

O sorriso quente e mágico da tia Lecia nunca será apagado das nossas corações! Glória eterna à ela! 

* tradutor, jornalista livre, neto do Stepan Bandera, cidadão canadiano. 

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