Desde o Janeiro de 2011, Ucrânia vive um clima das repressões políticas, com as detenções arbitrárias, prisões injustificadas e todo o tipo de intimidações contra os activistas da oposição, jornalistas ou blogueiros. A última parte da saga é a campanha do Serviço Secreto da Ucrânia (SBU) contra os activistas da organização “Patriota da Ucrânia”, acusados de planear o “acto terrorista” no dia da Independência da Ucrânia em 24 de Agosto. Essa é a cronologia dos acontecimentos...
Dia 22 de Agosto de 2011
O escritório da organização “Patriota da Ucrânia”, na cidade de Vasylkiv, é alvo de buscas por parte dos agentes do SBU, que, alegadamente, encontraram explosivos e os panfletos, uns que advogavam a implosão do monumento do Lenine nos arredores de Kyiv, outros que continham ameaças contra o presidente Yanukovych. Em resultado, foram presos quatro pessoas: o deputado do Conselho Municipal de Vasylkiv, chefe da Comissão de Juventude e Desportos, Serhiy “Spolokh” Bevz, co-proprietário da sociedade desportiva “Soloveyko Roman Shukhevych”, Vitaliy Zatelepa e mais dois activistas.
Os activistas da “Patriota da Ucrânia” afirmam que os explosivos e panfletos com as ameaças falsas foram colocados por pessoas alheias à organização: ou pela própria SBU, ou por algum “agente provocador”. A organização é tida na Ucrânia como radical e nenhuma organização realmente radical guardaria os explosivos na sua sede. Alem disso, “o engenho explosivo”, “achado” pelo SBU nas buscas foi retirado sem a evacuação das pessoas, nem a presença dos sapadores...
A secreta ucraniana não apresentou o mandato para as buscas, nem permitiu a presença de advogados durante as buscas, alegando que agiu na base de um telefonema anónimo. Os detidos foram levados até a cidade de Kyiv, para a Direcção Provincial do SBU, escreve a página da “Patriota da Ucrânia”.
O serviço de imprensa de SBU afirmou mais tarde que os detidos planeavam um atentado bombista no dia de Independência da Ucrânia, escreve a blogueira ucraniana Olena Bilozerska.
Dia 23 de Agosto de 2011
Na manha do dia seguinte todos os activistas detidos foram libertados, sem apresentação de nenhuma acusação formal por parte do SBU. Mais tarde, os activistas organizaram a conferência de imprensa na sede da agência noticiosa UNIAN, onde o advogado dos detidos, Vyacheslav Martynyuk, informou sobre vários atropelos à Lei, cometidos pelos agentes do SBU. Além de não permitir a presença dos advogados durante as buscas, os detidos foram privados da assistência jurídica, embora informaram SBU que não prestavam nenhumas declarações sem a presença dos seus defensores públicos.
Deputado Serhiy Bevz conta que fui interrogado por 8 pessoas diferentes, que lhe diziam “Quando terminamos por bem, começaremos por mal. Quando estiveres mesmo mal, chama aquele outro, ele vai te explicar como deves testemunhar”.
Na segunda metade do mesmo dia 23 de Agosto, SBU abre o processo criminal contra os activistas previamente detidos, novamente detém vários membros do “Patriota da Ucrânia”: Serhiy Bevz, Oleksiy Chernega, Volodymyr Shpara, Ihor Mosiychuk, Vitaly Zatelepa, Maksym Boyko e Yuri Bondarenko. Os advogados não são permitidos de contactar os seus constituintes.
Buscas nocturnas a modo estalinista
Na noite de 24 para 25 de Agosto foram feitas as buscas nos escritórios do “Patriota da Ucrânia” em Kharkiv, informa Olena Bilozerska. Na mesma noite, os agentes do SBU, armados e mascarados, sem mostrar os documentos de identificação, também efectuaram as buscas no apartamento do Serhiy Bevz e da sua esposa Cristina. O casal tem o filho bebé que estava com os avos, os agentes não permitiram que Cristina pudesse alimentar a criança. As buscas terminaram às 2h05 de manha, SBU “achou” uma faca, “parecida com a arma branca” e a lata de spray de defesa pessoal, também levaram o computador, escreve blogueira Bilozerska.
As acusações do SBU
Os activistas foram acusados de planear a destruição do monumento de Lenine na cidade de Boryspil, que, de facto, tentaram derrubar alguns meses antes, mas o monumento foi desmontado pela decisão da câmara municipal local, 10 dias antes destes acontecimentos. SBU afirmava também que “bomba foi construída por um profissional que a desenhou especialmente para atingir as pessoas” (na imprensa até chegou circular a informação sobre “o raio mortal de 100 metros”).
Dia 26 de Agosto de 2011
Cerca de três dezenas de activistas da “Patriota da Ucrânia” organizaram o piquete em frente da sede do SBU em Kyiv. Durante o piquete afirmaram que SBU pretende se transformar em “cão acorrentado do regime”, foram exibidos dísticos “1937 já hoje” e “SBU = FSB? Vergonha ao regime”.
O Tribunal Solomyanski de Kyiv, presidido pela juíza Oksana Kryvorot, decidia os termos de privação de liberdade dos quatro activistas do “Patriota da Ucrânia”: Serhiy Bevz, Volodymyr Shpara, Ihor Mosiychuk e Oleksiy Chernega. Em resultado, Serhiy Bevz, Ihor Mosiychuk e Volodymyr Shpara foram condenados a dois meses da prisão preventiva, em ucraniano “Isolamento de Investigação” (SIZO).
No mesmo dia 26 de Agosto, em Kyiv, foi ilegalmente detido o activista da União Ucraniana “Liverdade”, Eduardo Igolnikov, acusado pela Direcção Geral da Polícia de Segurança Pública de Kyiv (GU MVS) de organizar as “desordens públicas” de 9 de Maio em Lviv e de 24 de Agosto em Kyiv, além de organizar o “golpe do Estado”. Os interrogadores afirmaram que “não iam permitir a chegada ao poder do líder da União “Liberdade” Oleh Tiahnybok. No fim do interrogatório Eduardo recebeu a proposta de se tornar o informador da polícia, em troca de não abertura do caso criminal contra si. Polícia também pretendia receber a informação sobre União “Liberdade” e os seus dirigentes, as actividades de outras organizações patrióticas ucranianas, tais como UNA-UNSO e “Patriota da Ucrânia”.
No seu comunicado de imprensa, União “Liberdade” informou que pretende solicitar a intervenção da Procuradoria-geral para que essa conduza um inquérito sobre a legalidade das acções perpetuadas pelas diversas estruturas ucranianas da Lei e ordem...
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1 comentário:
Que coisa terrível, a situação política piorou muito desde que esse atual presidente subiu ao poder na Ucrânia. Creio que essa situção pode, infelizmente, comprometer o tratado de isenção de vistos negociado com o Espaço Schengen ou até mesmo o Tratado de Livre Comércio negociado com a UE. Vcs deveriam fazer protestos nem que fosse como aqueles organizados pelo twitter, esse presidente precisa enfrentar a oposição nas ruas.
Agora mudando um pouco de assunto, eu gostaria de lhe pedir uma informção sobre a questão religiosa na Ucrânia. Há pouco tempo atrás, quando o antecessor desse atual presidente estava no poder, eu li uma declaração num site de notícias na web, onde ele defendia a criação de um patriarcado próprio em Kiev e outro patriarcado para a Igreja Greco-Católica, separado do de Moscou.
Parece-me que o patriarcado da igreja ortodoxa ucraniana não é canônica pois não é reconhecida, nem o patriarcado da Igreja Greco-católica é reconhecida pelo patriarcado de Moscou.
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