segunda-feira, junho 26, 2017

PCP continua a falsificar a História

O Partido Comunista Português (PCP) criou um site para celebrar os 100 anos da revolução bolchevique de 1917, mas abre-o logo com uma fotografia falsificada de Lenine. Trata-se apenas da primeira de muitas falsificações históricas.

por: José Milhazes, Observador.pt

Já passaram cem anos da revolução comunista russa de 1917, durante os quais foram publicados milhares de documentos sobre os crimes do regime soviético e sobre a forma como os comunistas falsificaram e continuam a falsificar, sem qualquer tipo de vergonha, a História. Como o PCP insiste em fazer.
A fim de assinalar esse importante acontecimento, o Partido Comunista Português decidiu, entre outras iniciativas, criar na Internet uma página especial, onde nem sequer teve o cuidado de corrigir as falsificações descaradas dos seus camaradas soviéticas. Na primeira página, está publicada uma fotografia icónica, onde Vladimir Lenine discursa perante os trabalhadores. Os comunistas soviéticos decidiram limpar da foto Lev Trotski, o mais perigoso dos adversários do ditador José Estaline.

Nas a verdadeira fotografia é esta:
Na rubrica “Conquistas e Impactos”, temos apenas a enumeração dos “enormes êxitos” do regime soviético e nem quer uma palavra sobre os crimes cometidos pelos dirigentes comunistas, incluindo Vladimir Lenine (fuzilamentos sumários, expulsão de cientistas da URSS/Rússia, campos de concentração, perseguição religiosa, etc.).


Na galeria “A arte revolucionária soviética”, publicam-se obras criadas até 1925, ano em que Estaline chega ao poder e cuja exibição foi proibida durante muitos anos por não corresponder à única corrente permitida na pintura soviética: realismo socialista.

Seria interessante, por exemplo, ver o que aconteceu à maioria dos actores representados na galeria: o grande poeta, escritor e desenhador Vladimir Maiakovski suicidou-se em 1930 ao ver o rumo que estava a levar o socialismo por ele cantado (existe a versão de que ele teria sido assassinado também por razões políticas). Mark Chagal viu-se obrigado a sair da URSS para poder pintar as suas obras mundialmente famosas. Caso contrário, teríamos, no máximo, mais um retrato do “Zé dos Bigodes” da sua autoria.


Kasimir Malevivich, o pai do suprematismo, uma das primeiras correntes da arte abstracta moderna, foi proibido de leccionar em 1930, acusado de espionagem e detido. Após a sua morte, em 1935, as suas obras, mesmo o emblemático quadro “Quadrado Preto”, deixaram de ser vistas pelos soviéticos até 1962.

Pavel Filonov, considerado o criador e teorizador da arte analítica, morreu praticamente na miséria, tendo sido acusado de “formalismo” pelos defensores da arte oficial e pedida a sua execução como inimigo do povo. Morreu durante o Bloqueio de Leninegrado, em 1941, e as suas obras só se tornaram património do grande público em finais dos anos de 1980.

Vladimir Tatlin, um dos fundadores do construtivismo apenas teve direito a uma exposição das suas obras na vida, em 1932, tendo caído no “esquecimento” até aos anos de 1960.

Do cineasta Serguei Eisenstein não vale a pena falar, pois são bem conhecidas as dificuldades que teve para realizar obras como “Ivan, o Terrível”. José Estaline tinha sempre a última palavra também no campo do cinema.

Importa também assinalar que todos estes artistas se formaram antes da revolução comunista de 1917, tendo alguns deles começado a criar numa época em que as artes e a literatura russas atravessavam um dos seus maiores períodos. No caso da literatura, ele chamou-se “Período da Prata”. Por exemplo, em 1932, quadros de Malevitch são apresentados na exposição “Arte da época do imperialismo”, realizada no Museu Russo de São Petersburgo.


O terrível destino deste e de outros intelectuais soviéticos também faz parte dos impactos da revolução comunista. A verdade não deve ser revolucionária, mas apenas verdade.

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