O
Partido Comunista Português (PCP) criou um site para celebrar os 100 anos da revolução bolchevique de 1917,
mas abre-o logo com uma fotografia falsificada de Lenine. Trata-se apenas da
primeira de muitas falsificações históricas.
por:
José Milhazes, Observador.pt
Já
passaram cem anos da revolução comunista russa de 1917, durante os quais foram
publicados milhares de documentos sobre os crimes do regime soviético e sobre a
forma como os comunistas falsificaram e continuam a falsificar, sem qualquer
tipo de vergonha, a História. Como o PCP insiste em fazer.
A
fim de assinalar esse importante acontecimento, o Partido Comunista Português
decidiu, entre outras iniciativas, criar na Internet uma página especial, onde nem
sequer teve o cuidado de corrigir as falsificações descaradas dos seus
camaradas soviéticas. Na primeira página, está publicada uma fotografia
icónica, onde Vladimir Lenine discursa perante os trabalhadores. Os comunistas
soviéticos decidiram limpar da foto Lev Trotski, o mais perigoso dos
adversários do ditador José Estaline.
Nas
a verdadeira fotografia é esta:
Na
rubrica “Conquistas e Impactos”, temos apenas a enumeração dos “enormes êxitos”
do regime soviético e nem quer uma palavra sobre os crimes cometidos pelos
dirigentes comunistas, incluindo Vladimir Lenine (fuzilamentos sumários,
expulsão de cientistas da URSS/Rússia, campos de concentração, perseguição
religiosa, etc.).
Ler
mais: Solovki
e nascimento do GULAG
Na
galeria “A arte revolucionária soviética”, publicam-se obras criadas até 1925,
ano em que Estaline chega ao poder e cuja exibição foi proibida durante muitos
anos por não corresponder à única corrente permitida na pintura soviética:
realismo socialista.
Seria
interessante, por exemplo, ver o que aconteceu à maioria dos actores
representados na galeria: o grande poeta, escritor e desenhador Vladimir
Maiakovski suicidou-se em 1930 ao ver o rumo que estava a levar o socialismo
por ele cantado (existe a versão de que ele teria sido assassinado também por
razões políticas). Mark Chagal viu-se obrigado a sair da URSS para poder pintar
as suas obras mundialmente famosas. Caso contrário, teríamos, no máximo, mais
um retrato do “Zé dos Bigodes” da sua autoria.
Ler
mais: Maiakovski:
Divida à Ucrânia
Kasimir
Malevivich, o pai do suprematismo, uma das primeiras correntes da arte
abstracta moderna, foi proibido de leccionar em 1930, acusado de espionagem e
detido. Após a sua morte, em 1935, as suas obras, mesmo o emblemático quadro
“Quadrado Preto”, deixaram de ser vistas pelos soviéticos até 1962.
Pavel
Filonov, considerado o criador e teorizador da arte analítica, morreu praticamente
na miséria, tendo sido acusado de “formalismo” pelos defensores da arte oficial
e pedida a sua execução como inimigo do povo. Morreu durante o Bloqueio de
Leninegrado, em 1941, e as suas obras só se tornaram património do grande
público em finais dos anos de 1980.
Vladimir
Tatlin, um dos fundadores do construtivismo apenas teve direito a uma exposição
das suas obras na vida, em 1932, tendo caído no “esquecimento” até aos anos de
1960.
Do
cineasta Serguei Eisenstein não vale a pena falar, pois são bem conhecidas as
dificuldades que teve para realizar obras como “Ivan, o Terrível”. José
Estaline tinha sempre a última palavra também no campo do cinema.
Importa
também assinalar que todos estes artistas se formaram antes da revolução
comunista de 1917, tendo alguns deles começado a criar numa época em que as
artes e a literatura russas atravessavam um dos seus maiores períodos. No caso
da literatura, ele chamou-se “Período da Prata”. Por exemplo, em 1932, quadros
de Malevitch são apresentados na exposição “Arte da época do imperialismo”,
realizada no Museu Russo de São Petersburgo.
O
terrível destino deste e de outros intelectuais soviéticos também faz parte dos
impactos da revolução comunista. A verdade não deve ser revolucionária, mas
apenas verdade.
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