Alimentação
pública, como quase tudo na União Soviética, existia em dois formatos – como um
ideal teórico e a prática real. No ideal teórico do “socialismo científico” (filmes,
cartazes, livros) os cidadãos consumiam alimentação correta e saudável, servidos
de forma exemplar; na realidade prática essa alimentação tinha uma aparência bastante
pobre, algo que mostraremos hoje.
02.
Como em quase todas as esferas soviéticas de trabalho, as pessoas que estavam
envolvidas no sistema de alimentação pública não tinham interesse algum nos
resultados qualitativos do seu trabalho – na União Soviética não existiam as
empresas privadas e, portanto, não existia a competição. O estado detinha o
monopólio no sistema de alimentação pública, por isso – querendo ou não,
cidadão ia almoçar na “Cantina №3”, alternativas eram bem poucas, como tal, não
havia nenhum “perigo” da cantina “perder os clientes e ir à falência” por causa
da má qualidade do serviço prestado.
Engraçado
e triste ao mesmo tempo é que na União Soviética isso era apresentado como algo
positivo – temos a “estabilidade absoluta” e baixo desemprego! Ninguém mencionava
que isso levava a uma diminuição da qualidade do serviço aos níveis “abaixo do
chão” e à estagnação absoluta.
O
segundo fator importante da má qualidade da alimentação pública soviética é a pobreza
e escassez generalizadas. Como foi descrito em detalhes no artigo sobre os roubos
na URSS, todas as camadas da sociedade soviética estavam imbuídos de “pequena
corrupção”, e aqueles que tinham o acesso à distribuição de pelo menos alguns recursos
(alimentos, calçado, vestuário, combustível, materiais de construção), quase automaticamente
se tornavam corruptos e pequenos ladrões, as exceções eram poucas.
Devido
à estes “pequenos furtos” os pratos que originalmente não deveriam ser maus, se
transformou em algo comestível apenas condicionalmente – como almôndegas; carne
picada, em menos de metade feita da carne; nata, diluída ao nível de iogurte
espesso; chá com “presença pontual” do próprio chá e assim por diante.
03.
Das sopas “puramente soviéticas” podemos lembrar a sopa shi russa de chucrute, borsh
ucraniano, sopa de picles, sopa de ervilha e sopa de leite com arroz ou
macarrão. Mais algum tipo de caldo de carne com macarrão e almôndegas e sopa
rassolnik. Geralmente a sopa russa de chucrute era uma bela porcaria, sem
qualquer comparação com a mesma sopa caseira, já borsh ucraniano e sopa de
ervilha ocasionalmente eram razoavelmente comestíveis.
Os
entendidos na matéria explicam que na fase de preparação de sopas a carne era roubada
e substituída pelas gorduras do “exército”, que não custavam praticamente nada.
Única coisa boa – as porções eram grandes.
04.
Os segundos pratos quentes. Praticamente todas as chuletas/bistecas soviéticas
eram impossíveis de comer – pareciam biscoitos de gordura, misturados com cerca
de 30-40% carne moída de 2ª e fortíssimo cheiro de alho. A quantidade
industrial de alho era adicionada à carne para esconder a sua deterioração e
cheiro de decomposição. Ainda eram produzidos os “schnitzel” de forma mais esplanada.
Em Minsk na Belarus as únicas chucletas comestíveis eram “Chicken Kiev”, que eram
preparadas de frango inteiro e servidas com o osso, mas este prato era disponível
apenas nos restaurantes.
Tal
como a carne picada, os pelmeni/ravioli soviéticos das cantinas públicas raramente
valiam a pena. Precisamente por causa dos roubos e da pobreza nas cantinas
soviéticas raramente poderiam ser encontrados os pratos de carne pura, como
goulash ou bife, na melhor das hipóteses se podia comer as costeletas que para
ganharem o peso eram embutidas abundantemente na farinha de rosca.
Havia
ainda algumas “chuletas de peixe” que eram preparadas de polpa de peixe barato,
e por algum motivo especial quase sempre eram amargas e cheias de fragmentos de
espinhas.
05.
Acompanhamentos. Geralmente cashas de cereais, massas e puré de batatas. Kashas
frequentemente eram cozidas até parecerem a cola, o macarrão servido tinha uma aparência
parecida. Puré de batatas é um tema separado, por alguma razão especial nas
cantinas soviéticas não serviam as batatas crocantes e deliciosas, mas sempre o
puré desgostante “com olhos” dos pontinhos negros.
Alem
disso na URSS não sabiam cozinhar o arroz, aquecendo-o várias vezes, fazendo com
que um arroz inicialmente bom se transformasse numa papa (mingau) parecida com
a cola.
06.
Saladas / legumes. Devido à ausência na União Soviética de mais ou menos
decente produção de legumes frescos (70% do segredo está na tecnologia de alta
qualidade de preservação e transporte da produção fresca), a maioria das
saladas soviéticas eram de “arenque salgado” ou “salada russa soviética”. Um
monte de batatas cozidas, beterraba, ervilhas verdes, maionese e poucos benefícios.
Também muito popular era a salada vinagrete: uma mistura de beterraba, batatas
cozidas, picles, cenouras e cebolas, com óleo e vinagre.
Na
melhor das hipóteses, na cantina poderia ser servido repolho ou cenoura trinchados,
mas era coisa rara. As saladas de pepino, tomate e alface fresco eram vastante
raras.
07.
Bebidas. Chá era preparado em grandes panelas, após disso era servido com a concha
aos copos de vidro, com a mesma tecnologia era preparado o café. Em vez de
café, muitas vezes era servida a assim chamada “bebida de café” de chicória. O
chá e café eram muitas vezes diluídos com água. Entre as compotas, as mais
populares eram de maçã e também a compota de frutos secos.
“A nossa ordem é assim comeu-arruma após si” |
Ainda
existiam as sobremesas, mas não eram muito comuns e eram raramente presentes no
“clássico” almoço soviético que geralmente consistiam em sopa, o segundo prato (quente
+ acompanhamento), salada e ocasionalmente alguma bebida como chá, café ou
compota.
Em
geral, a “escolha” das cantinas soviéticas era muito pobre, não tem nada a ver
com o sistema de restauração moderna com boas saladas, boa carne, peixe ou
mariscos e boas sobremesas.
Fotos
@Internet Texto @Maxim
Mirovich
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