O
ato terrorista mais famoso da URSS ocorreu em 8 de janeiro de 1977 — uma série de
explosões bombistas em Moscovo matou 7 e feriu 37 pessoas. Os três alegados responsáveis
foram fuzilados e os materiais do caso estão sob segredo da justiça russa até
hoje.
Como
tudo ocorreu?
A
primeira explosão atingiu a carruagem de metro/ô de Moscovo. O explosivo
foi colocado numa panela especial de metal pesado, aparafusada e soldada – como
resultado da explosão 7 passageiros do metro/ô foram mortos e 37 feridos.
A 1ª explosão no metro/ô | arquivo |
A
segunda explosão ocorreu 32 minutos após a primeira – uma bomba explodiu numa
mercearia na atual rua Bolshaya Lubyanka. Ninguém ficou ferido na explosão. A
terceira bomba explodiu cinco minutos depois da segunda – o dispositivo estava
escondido numa lata de lixo, junto à uma mercearia da atual rua Nikolskaya.
Nesta explosão, também, ninguém morreu – a forte urna de ferro fundido resistiu
à explosão, e a onda de choque se dirigiu ao alto.
A 2ª explosão na mercearia | arquivo |
KGB
e polícia soviética começaram as buscas pelos responsáveis. Na cidade russa de
Tambov foi interrogado o suspeito inicial cidadão Potapov, preso após detonar uma bomba
que matou a esposa e duas filhas do vizinho. Potapov rapidamente confessou que
também estava por trás dos atos terroristas em Moscovo. No entanto, rapidamente
se percebeu que isso foi uma confissão forçada e, após a investigação formal que
durou um mês, o caso foi abandonado pelo KGB.
Informação
ocultada ao público
Quase
imediatamente, todas as informações sobre os ataques foram classificadas –
nenhum jornal ou programa de televisão soviético falaram sobre o que estava
acontecendo. Mas os rumores terríveis estavam rastejando pelo Moscovo, as
pessoas nas filas das compras estavam cochichando sobre o que tinha acontecido,
era simplesmente impossível esconder mais a informação.
Como
no caso de Chornobyl – as informações sobre a tragédia foram divulgadas 48
horas depois, passadas pela censura do KGB. No dia 10 de janeiro, a agência
soviética TASS divulgou a nota que dizia que em 8 de janeiro, ocorreu “uma
pequena explosão no metro/ô de Moscovo, todas as vítimas foram socorridas”. A
informação ocultava o número de vítimas e que a explosão foi um ato terrorista.
Os
materiais completos deste caso ainda estão classificados pela justiça russa.
O
que aconteceu na realidade?
As
buscas pelos responsáveis foram infrutíferas – mas por sorte, cerca de 10 meses
depois – também em Moscovo, foi achada uma outra bomba que levou KGB aos terroristas.
Eram três arménios étnicos – Hakob Stepanyan, Zaven Baghdasaryan e Stepan
Zatikyan – este último foi tido como líder do grupo. Após um julgamento secreto
e fechado ao público, em 24 de janeiro de 1979 os réus foram considerados
culpados pelo tribunal e sentenciados à pena capital – execução. Em 30 de
janeiro, o Presidium do Soviete Supremo da URSS rejeitou a sua petição de
clemência, e no mesmo dia eles foram executados. A única informação oficial sobre
o julgamento e sobre o veredicto foi uma breve nota no jornal soviético “Izvestia”
em 31 de janeiro de 1979, onde apenas se mencionava o apelido/sobrenome e as
iniciais do Stepan Zatikyan.
Stepanyan (1947-1977) e Baghdasaryan (1954-1977) após a detenção |
Segundo
a versão oficial da acusação – os três pertenciam ao clandestino “Partido da Unidade Nacional
da Arménia”
(NOP) e tinham como objetivo criar Arménia independente, separada da URSS. Essa
versão possui uma série de inconsistências, apontados pelo académico e
dissidente soviético Andrey Sakharov – NOP não tinha terror nos seus princípios,
os terroristas não divulgaram nenhumas reivindicações após as explosões, as ações
semelhantes não aconteceram antes e não se repetiram depois.
O líder Stepan Zatikyan (1946-1979) após a detenção |
Na
versão não oficial – as ações foram iniciadas pelos serviços secretos
soviéticos (KGB), para iniciar a onda de terror contra os dissidentes – e apenas
a divulgação pública do caso (incluindo através do Andrey Sakharov) impediu de
fazê-lo. A versão de provocação do KGB é apoiada pelo facto do que o jornalista
soviético Victor
Louis (informador e conhecido agente-provocador
do KGB), imediatamente após o ataque, lançou na imprensa britânica a acusação genérica
contra os “dissidentes”, pelo seu alegado envolvimento nos atentados – como se
preparando a opinião pública ocidental ao ataque contra o movimento dissidente
na URSS.
[O fundador e um dos líderes do Partido
Neocomunista da União Soviética, Alexander Tarasov relata nas suas memórias que
quatro meses após as explosões ele foi detido [pelo KGB] por suspeita da sua
organização e libertado somente depois de provar “por trezentos por cento” o seu
álibi (ele estava no hospital durante o ataque terrorista).
O coronel da 1ª
Direcção/Diretoria do KGB Oleg
Gordievsky, que fugiu para o Ocidente, é da opinião de que os três arménios
foram escolhidos, neste caso, como bodes expiatórios. O dissidente soviético Sergei Grigoryants afirma
que as explosões foram realizadas pelo grupo Alfa do KGB sob as instruções de
Yuri Andropov e Filip Bobkov (o chefe da 5ª Direção/Diretoria “ideológica” do
KGB)].
Em
jeito de epílogo
Qualquer
ataque terrorista é terrível, mas pior ainda quando o Estado esconde de seus
cidadãos a verdade sobre o que realmente está acontecendo – não informa sobre o
desastre de Chornobyl ou sobre os ataques terroristas ocorridos em Moscovo em
1977. Os cidadãos possuem uma imagem bastante distorcida do que realmente está
acontecendo – é assim que nascem os mitos sobre “a vida soviética calma e
pacífica na companhia do melhor sorvete do mundo – o soviético”.
Após
o fim da URSS, as pessoas perceberam que esse era um beco sem saída – e nas
Constituições da maioria dos países pós-soviéticos foram colocadas as normas do
que ninguém tem o direito de esconder dos cidadãos a verdade sobre desastres
ambientais ou naturais, ataques terroristas ou outros incidentes semelhantes –
todos e cada um tem o direito de receber e divulgar livremente essas informações.
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