Nas
vésperas da I G.M., o império russo já se ressentia do processo de
desintegração, em que as suas regiões nacionais pretendiam se emancipar,
formando os estados independentes, à semelhança de nações europeias no âmbito da “Primavera dos Povos de 1848”.
Um
dos típicos perseguidores da cultura e identidade ucraniana foi Alexander fon Baggovut
(von Baggehufwudt), estadista russo de origem alemã, em 1913—1915 o governador
da região ucraniana de Poltava.
Consultar o documento original |
Em
fevereiro de 1914, na sua qualidade de governador, ele submeteu uma “denúncia”
(memorando secreto) ao Ministro do Interior do império russo, Nikolay Maklakov (fuzilado publicamente no decorrer do terror vermelho em
setembro
de 1918). No documento, governador alerta sobre o perigo da “autonomia da
Ucrânia” e proponha várias medidas para combater “o movimento ucraniano”,
nomeadamente (seguem os pontos mais clarificadores):
1.
Usar, para as posições de professores,
sempre que possível, apenas os russos.
2.
Aos postos de inspetores e diretores de escolas públicas nomear apenas russos.
3.
Todos os professores que são propensos às ideias ucranianas, eliminar
imediatamente [estávamos em pleno “czarismo sangrento”, por isso a palavra “eliminar”
significava “despedir”, se livrar dele profissionalmente, não fisicamente].
4.
Compor uma verdadeira história do povo pequeno
russo [assim os xenófobos e nacionalistas russos chamavam os ucranianos],
em que se explica que “Ucrânia” é a “margem” do estado no antigamente.
[...]
14. É preciso tomar controlo dos seminários [escolas eclesiásticas] e erradicar
o espírito ucraniano lá nidificado.
[...]
17. Explicar que “Ucrânia” significa a margem da Polónia e da Rússia e que
nunca houve o povo ucraniano.
[...]
18. Provar a necessidade da grande língua
russa como língua estatal e literária, e que o pequeno russo, como [a língua] do povo comum, não tem literatura,
nem futuro.
[...]
19. De todas as maneiras erradicar o uso dos nomes “Ucrânia”, “ucraniano”.
Consultar
original do documento (Museu literário de Kharkiv):
Em
1917, já após a revolução russa democrática de fevereiro, o sistema cooperativo
da cidade ucraniana de Poltava, publicou o documento, ora secreto, em forma de brochura,
explicando, no prefácio, que “é um testemunho vivo do sistema governamental,
cujo objetivo era suprimir o pensamento e o espírito do povo ucraniano e, em
particular, manter a hostilidade em relação aos judeus. Os detalhes da denúncia
falam por si mesmos e, portanto, não precisam de uma cobertura mais detalhada”.
Blogueiro:
é sintomático que além do Ministro (após ser fuzilado em 1918, a sua campa foi destruída
posteriormente), o destino do próprio fon Baggovut é desconhecido após 1917.
Muito possivelmente, também fuzilado pela CheKa e atirado numa vala comum
algures na sua Rússia natal.
Infelizmente,
as ideias foram aprofundadas e reaproveitadas pelo ideólogo do fascismo russo Ivan
Ilyin, que atualmente é tido como a inspiração e a base ideológica do “mundo
russo”, a doutrina política e cultural, promovida pelo presidente russo V. Putin.
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