terça-feira, julho 02, 2019

Os marinheiros russos que morreram num submarino secreto

O Ministério da Defesa russo anunciou que na noite de 1 de julho, um incêndio em um aparelho de águas profundas da frota do Norte matou 14 submarinistas. Eram sete capitães do primeiro escalão e dois heróis da federação russa.

Segundo o relatório oficial, o aparelho estava envolvido no estudo do relevo inferior do fundo do mar – a batimetria. O tipo de aparelho em que o incêndio ocorreu não foi especificado, mas, de acordo com fontes da página russa RBC, morreu a tripulação completa da estação nuclear de águas profundas “Kalitka” (AS-12, o nome informal “Losharik”). Mais tarde, a Open Media, citando duas fontes na Frota do Norte, relatou que o acidente havia ocorrido no submarino BK-64 “Podmoskovye”. A página lituana Meduza reuniu os dados de fontes OSINT sobre “Losharik” e sobre “Podmoskovye” e sobre o seu serviço conjunto.

Submarino «Losharik»

A estação nuclear АС-12 é o desenvolvimento de projetos anteriores de estações de águas profundas (“Kashalot” e “Paltus”) construídos pela União Soviética nas décadas de 1970-1990. Todos eles são projetados para pesquisa e manipulação de objetos no fundo do oceano: por exemplo, para recuperar os destroços de navios, aviões e satélites, etc. Os militares dos EUA acreditam que as unidades também podem ser usadas para fins de espionagem ou sabotagem – por exemplo, para se acoplar aos cabos submarinos de comunicação secreta ou cortar os cabos da Internet global. No total, a URSS construiu três submarinos “Kashalot”, três “Paltus” e um “Losharik”. Todos os aparelhos possuem o reator nuclear. Oficialmente, eles não carregam nenhuma arma. Em vez disso, têm braços manipuladores para fins diferentes para trabalhar com objetos submersos.
Fragmento de uma fotografia da revista Top Gear, feita em 2014 na região de Severodvinsk. Acredita-se que pode ser mostrado AC-12 “Losharik” | foto: forums.airbase.ru
«Losharik» foi lançado em 2003. Ele recebeu o seu nome não oficial em homenagem ao personagem de desenho animado de mesmo nome, consistindo de bolas; a estação também consiste em compartimentos esféricos dispostos em uma linha. A profundidade máxima de mergulho do «Losharik» é muito maior que a de seus antecessores (1.000 metros / outros dados apontam aos 3.000 metros do «Losharik» contra 700-1000 do «Kashalot» e mais de 1.000 metros do «Paltus»).
Em 2012, quando a Rússia mais uma vez decidiu provar que os cumes submarinos de Lomonosov e Mendeleev que passam pelo Pólo Norte (e com eles todo o setor oceânico juntamente com o pólo) pertencem à plataforma continental russa, «Losharik» foi enviado ao fundo do oceano. As amostras que ele recolheu como justificativa da reclamação russa foram enviadas à ONU em 2015. Uma aplicação semelhante em 2014 foi apresentada pela Dinamarca, que considera o cume do Lomonosovryggen como uma continuação da plataforma da Gronelândia. A Comissão das Nações Unidas sobre a propriedade da plataforma ainda não tomou nenhuma decisão.

Submarino «Podmoskovye»

As estações de águas profundas nucleares não podem, elas próprias, fazer longas marchas e, portanto, são transportadas para o local da sua atuação por um grande submarino nuclear especial. Na marcha, a estação é anexada ao fundo de um submarino maior. O submarino BS-136 “Orenburg” servia para este propósito desde 2002, mas em 2015 foi colocado para as reparações (não há informações OSINT sobre o fim da sua reparação).
Submarino nuclear “Podmoskovye” com um dispositivo de ancoragem para mini-submarinos
do projeto 18 270 «Bester». Foto: twitter / @covertshores
Por quase dois anos, o «Losharik» e outras estações não tinham uma transportadora até que, em 2016, o submarino BS-64 «Podmoskovye» (antigo submarino de mísseis nucleares K-64 construído em 1984) foi novamente lançado à água após uma modernização de 16 anos. Em 2020, outro grande submarino fará lhe a companhia, o K-329 «Belgorod», que pode transportar tanto estações nucleares de águas profundas como submarinos não tripulados (torpedos) «Poseidon» com ogiva nuclear. Neste momento no «Belgorod» decorrem os testes.
«Podmoskovye» (no vídeo acima), «Belgorod» e todas as estações nucleares de águas profundas estão consolidadas na 29ª brigada submarina, subordinada diretamente à Direção Geral de Pesquisas em Mar Profundo do Ministério da Defesa russo. O comando da unidade está na cidade de Peterhof, e os submarinos em Olenya Guba, perto da aldeia de Gadzhievo, na região russa de Murmansk.

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