O
livro “Ritualidade socialista” foi publicado em 1986 na Ucrânia soviética e explicava,
detalhadamente, como realizar todos os tipos de rituais soviéticos “ideologicamente
corretamente”, como adorar os ídolos e heróis soviéticos, como realizar ações
ritualísticas para honrar vários cultos soviéticos, como o culto de pão.
O livro é uma prova real do que a ideologia e sistema
comunista é uma fé e uma seita religiosa — com os seus rituais, profetas (Marx
e Engels), Messias (Lenine), cultos, paraíso (comunismo) e inferno
(capitalismo).
Parcialmente
é por isso se torna quase impossível convencer à realidade os amantes da URSS,
anti-americanos ou anti-capitalistas – os seus pontos de vista não fazem parte do
domínio de conhecimento, são a fé religiosa, que não necessita de provas e não
segue a lógica linear.
02.
A capa do livro “Ritualidade socialista” é feita de chita vermelha com as letras
douradas, debaixo do título aparece o emblema do “ritualista socialista” – foice
e martelo, embutidos numa base da estrela pentagonal. A estrela é um repto da cruz
no Cristianismo, e o próprio livro deveria ser uma espécie de Auto da Fé – a
publicação solene que explica como adorar apropriadamente as forças comunistas superiores.
03.
Dividimos a análise do livro “Ritualidade socialista” em duas partes — textual
e visual. A parte textual explica como devem ser feitos, corretamente, determinados
rituais socialistas, a parte visual mostra a performance dos mesmos.
04.
Praticamente todo o livro está escrito numa espécie de novilíngua bolchevique,
que usa a sintaxe da língua russa, mas as frases criadas ficam sem nenhum nexo,
descrevendo uma realidade paralela, inventada pelo autores da obra:
É excepcionalmente
grande o papel dos feriados e rituais soviéticos na formação da consciência
comunista dos trabalhadores, a mais alta qualidade característica do povo
soviético.
05.
O livro informa que calendário soviético possui 67 datas festivas (mais de uma
por cada semana do ano), que, de acordo com os seus autores devem substituir os
feriados cristãos. Os autores não escondem que querem substituir a “má religião
cristã” pela “boa fé comunista”:
As tradições, feriados
e cerimónias soviéticas, contribuem para a formação da cosmovisão científica e
materialista dos soviéticos e são um meio eficaz de superar feriados e cerimónias religiosas.
Os
autores, sem hesitar, proclamam que desde o seu nascimento, as mentes dos
jovens estarão bombardeadas pela ideologia comunista, dizendo aos cidadãos que devem
“avaliar os eventos” não do ponto de vista da realidade racional, mas do ponto
de vista da propaganda soviética:
PCUS educará os soviéticos
com um alto grau de consciência política e a capacidade de avaliar fenómenos
sociais com posições de classe claras e defender os ideais e valores
espirituais da sociedade socialista.
06.
Um dos capítulos é chamado de “Formação e desenvolvimento de ritualidade soviética”
e tem a subseção “Pré-requisitos para o surgimento e estágio inicial da
formação de ritualidade soviética”. Na URSS neste tipo de pseudo-ciência eram
engajados os institutos inteiros, foram defendidas milhares de “teses
científicas” – tudo isso também se assemelha aos tratados teológicos, onde a “verdade”
ou a “falsidade” é verificada apenas pela sua conformidade com os cânones
religiosos.
07.
Capítulos inteiros são dedicados à técnica do discurso ou a maneira correta de
caminhar durante a execução dos ritos soviéticos:
Os ritualistas se movem
não apenas no plano geral, mas também podem subir as escadas. Ao subir, é
necessário colocar apenas os dedos e a base do pé no degrau, enquanto o peso do
corpo se move no pé colocado no degrau superior.
08.
Os cenários dos rituais soviéticos são desenhados em detalhes e são compostos
de tal forma que levam as pessoas a ter sentimentos puramente religiosos – uma
sensação de santidade do poder soviético e de blasfémia perante quaisquer tentativas
de resistir ao sistema soviético.
Para
isso às cerimónias são introduzidas os personagens puramente religiosas – o Mentor
Estatal (uma espécie do Padre), Veterano (uma espécie de Ancião de cabelos
grisalhos) e a Colectividade dos Trabalhadores (Povo) – perante qual é
realizado este ou aquele rito e que promete punir severamente os camaradas desobedientes
(hereges). É a mais pura religião
medieval arcaica.
09.
No final da parte textual aparecem uma espécie de orações soviéticas – dirigidas
ao Comunismo e ao Culto do Pão:
Toda
a terra nativa
É
aquecida pelo sol do Kremlin.
Trator
combinado – nos campos
Colheita
– nos armazéns.
Onde
os kolkhozianos se ajudarão –
Os
rendimentos aparecerão.
Pão
é a cabeça de tudo.
Pão
é pai, água é a mãe.
Pelo
curso de Lenine os povos foram –
Felicidade
e liberdade acharam.
Parte
visual do livro
10.
O rico material ilustrativo mostra exatamente como adorar corretamente os
símbolos soviéticos e como se comportar adequadamente em vários feriados
comunistas. O culto dos mortos está constantemente presente, são retratadas vários
casos de caminhadas, em massa, rumo às sepulturas militares da época da II G.M.:
O ritualista, apontando
para a tocha de casamento, diz: “Queridos recém-casados! Aceitem este fogo
sagrado e carreguem-no através de seus corações ao longo de sua vida,
multiplicando a glória de nossa Grande Pátria Soviética! Agora todos os
participantes na cerimónia do casamento irão para a sepultura comum
[militar].
11.
Todos os feriados soviéticos também são descritos em detalhes. Onde deve ficar a
mesa, a bandeira, o brasão de armas e os antepassados mortos encabeçados pelo vovô
Lenine, onde devem ficar as pessoas, o que devem pensar e o que devem dizer.
Dia do conhecimento. Festa popular comunista do Conhecimento Comunista:
12.
Festa da Colheita – a celebração do arcaico culto de Pão, que foi celebrado na
URSS.
13.
O registo solene do casamento soviético.
14.
Festa, detalhadamente descrita e chamada “Acompanhamento às fileiras das Forças
Armadas da URSS”, se transforma num ritual completo. Citação: “O rito de passagem para as fileiras das
Forças Armadas da URSS mobiliza jovens para adquirir os conhecimentos do equipamento
militar moderno”.
15.
Esboço gráfico da festa: “Iniciação ao operário”:
16.
Esboço gráfico da “Festa do Primeiro Sino” [início do ano letivo escolar do 1º
e 2º ciclo]:
17.
Esboço gráfico da jubileu da “Grande Guerra Patriótica” [a guerra
nazi-soviética de 1941-45. O início de uso da “fita da guarda”, que na década
de 2010 se transforma em “fita de São George”]:
18.
Design do carro de transporte para os recém-casados [reles Gaz-21/24] e “estrelinhas nominais para os recém-nascidos”, uma espécie de crucifixos cristãs para a cerimónia
do “estrelismo soviético”. Você recebeu uma
estrela no seu nascimento, como você pode se rebelar contra o Comunismo?
19.
Uma espécie de sacerdotes e sacerdotisas soviéticas – ritualistas em trajes solenes com medalhão da
religião soviética:
20.
[As colunas comunistas festivas no centro de Kyiv – na avenida Khreschatyk, no
dia 1 de maio de 1986 vários presentes nesta coluna foram coagidos – “ou
estarás presente, ou serás expulso do PCUS...”]
21.
O livro era publicado “para uso oficial” dos diversos comités executivos do nível
provincial, distrital e local. Para a leitura e assimilação dos diversos
parasitas soviéticos. A sua tiragem inicial foi de 115.000 exemplares, a 2ª edição chegou aos 150.000 exemplares.
1 comentário:
Muito interessante suas matérias e todo o conteúdo, estou gostando bastante. Pelo nome do site, imagino que deve ser referência a alguma imigração ucraniana para a África. Acho muito interessante o fato de talvez haver uma história de imigração ucraniana à África. É disso que trata o nome da página? E se for, poderia explicar a respeito da imigração ucraniana para a África e o status atual dessas colônias (se existirem).
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