terça-feira, julho 23, 2019

O livro “sagrado” dos rituais da ideologia comunista soviética

O livro “Ritualidade socialista” foi publicado em 1986 na Ucrânia soviética e explicava, detalhadamente, como realizar todos os tipos de rituais soviéticos “ideologicamente corretamente”, como adorar os ídolos e heróis soviéticos, como realizar ações ritualísticas para honrar vários cultos soviéticos, como o culto de pão.

O  livro é uma prova real do que a ideologia e sistema comunista é uma fé e uma seita religiosa — com os seus rituais, profetas (Marx e Engels), Messias (Lenine), cultos, paraíso (comunismo) e inferno (capitalismo).

Parcialmente é por isso se torna quase impossível convencer à realidade os amantes da URSS, anti-americanos ou anti-capitalistas – os seus pontos de vista não fazem parte do domínio de conhecimento, são a fé religiosa, que não necessita de provas e não segue a lógica linear.

02. A capa do livro “Ritualidade socialista” é feita de chita vermelha com as letras douradas, debaixo do título aparece o emblema do “ritualista socialista” – foice e martelo, embutidos numa base da estrela pentagonal. A estrela é um repto da cruz no Cristianismo, e o próprio livro deveria ser uma espécie de Auto da Fé – a publicação solene que explica como adorar apropriadamente as forças comunistas superiores.

03. Dividimos a análise do livro “Ritualidade socialista” em duas partes — textual e visual. A parte textual explica como devem ser feitos, corretamente, determinados rituais socialistas, a parte visual mostra a performance dos mesmos.

04. Praticamente todo o livro está escrito numa espécie de novilíngua bolchevique, que usa a sintaxe da língua russa, mas as frases criadas ficam sem nenhum nexo, descrevendo uma realidade paralela, inventada pelo autores da obra:
É excepcionalmente grande o papel dos feriados e rituais soviéticos na formação da consciência comunista dos trabalhadores, a mais alta qualidade característica do povo soviético.

05. O livro informa que calendário soviético possui 67 datas festivas (mais de uma por cada semana do ano), que, de acordo com os seus autores devem substituir os feriados cristãos. Os autores não escondem que querem substituir a “má religião cristã” pela “boa fé comunista”:
As tradições, feriados e cerimónias soviéticas, contribuem para a formação da cosmovisão científica e materialista dos soviéticos e são um meio eficaz de superar feriados e cerimónias religiosas.

Os autores, sem hesitar, proclamam que desde o seu nascimento, as mentes dos jovens estarão bombardeadas pela ideologia comunista, dizendo aos cidadãos que devem “avaliar os eventos” não do ponto de vista da realidade racional, mas do ponto de vista da propaganda soviética:
PCUS educará os soviéticos com um alto grau de consciência política e a capacidade de avaliar fenómenos sociais com posições de classe claras e defender os ideais e valores espirituais da sociedade socialista.

06. Um dos capítulos é chamado de “Formação e desenvolvimento de ritualidade soviética” e tem a subseção “Pré-requisitos para o surgimento e estágio inicial da formação de ritualidade soviética”. Na URSS neste tipo de pseudo-ciência eram engajados os institutos inteiros, foram defendidas milhares de “teses científicas” – tudo isso também se assemelha aos tratados teológicos, onde a “verdade” ou a “falsidade” é verificada apenas pela sua conformidade com os cânones religiosos.

07. Capítulos inteiros são dedicados à técnica do discurso ou a maneira correta de caminhar durante a execução dos ritos soviéticos:
Os ritualistas se movem não apenas no plano geral, mas também podem subir as escadas. Ao subir, é necessário colocar apenas os dedos e a base do pé no degrau, enquanto o peso do corpo se move no pé colocado no degrau superior.

08. Os cenários dos rituais soviéticos são desenhados em detalhes e são compostos de tal forma que levam as pessoas a ter sentimentos puramente religiosos – uma sensação de santidade do poder soviético e de blasfémia perante quaisquer tentativas de resistir ao sistema soviético.
Para isso às cerimónias são introduzidas os personagens puramente religiosas – o Mentor Estatal (uma espécie do Padre), Veterano (uma espécie de Ancião de cabelos grisalhos) e a Colectividade dos Trabalhadores (Povo) – perante qual é realizado este ou aquele rito e que promete punir severamente os camaradas desobedientes (hereges). É a mais pura religião medieval arcaica.

09. No final da parte textual aparecem uma espécie de orações soviéticas – dirigidas ao Comunismo e ao Culto do Pão:
Toda a terra nativa
É aquecida pelo sol do Kremlin.

Trator combinado – nos campos
Colheita – nos armazéns.

Onde os kolkhozianos se ajudarão –
Os rendimentos aparecerão.

Pão é a cabeça de tudo.
Pão é pai, água é a mãe.

Pelo curso de Lenine os povos foram –
Felicidade e liberdade  acharam.

Parte visual do livro

10. O rico material ilustrativo mostra exatamente como adorar corretamente os símbolos soviéticos e como se comportar adequadamente em vários feriados comunistas. O culto dos mortos está constantemente presente, são retratadas vários casos de caminhadas, em massa, rumo às sepulturas militares da época da II G.M.:
O ritualista, apontando para a tocha de casamento, diz: “Queridos recém-casados! Aceitem este fogo sagrado e carreguem-no através de seus corações ao longo de sua vida, multiplicando a glória de nossa Grande Pátria Soviética! Agora todos os participantes na cerimónia do casamento irão para a sepultura comum [militar].

11. Todos os feriados soviéticos também são descritos em detalhes. Onde deve ficar a mesa, a bandeira, o brasão de armas e os antepassados mortos encabeçados pelo vovô Lenine, onde devem ficar as pessoas, o que devem pensar e o que devem dizer. Dia do conhecimento. Festa popular comunista do Conhecimento Comunista:

12. Festa da Colheita – a celebração do arcaico culto de Pão, que foi celebrado na URSS.

13. O registo solene do casamento soviético.

14. Festa, detalhadamente descrita e chamada “Acompanhamento às fileiras das Forças Armadas da URSS”, se transforma num ritual completo. Citação: “O rito de passagem para as fileiras das Forças Armadas da URSS mobiliza jovens para adquirir os conhecimentos do equipamento militar moderno”.

15. Esboço gráfico da festa: “Iniciação ao operário”:

16. Esboço gráfico da “Festa do Primeiro Sino” [início do ano letivo escolar do 1º e 2º ciclo]:

17. Esboço gráfico da jubileu da “Grande Guerra Patriótica” [a guerra nazi-soviética de 1941-45. O início de uso da “fita da guarda”, que na década de 2010 se transforma em “fita de São George”]: 

18. Design do carro de transporte para os recém-casados [reles Gaz-21/24] e “estrelinhas nominais para os recém-nascidos”, uma espécie de crucifixos cristãs para a cerimónia do “estrelismo soviético”. Você recebeu uma estrela no seu nascimento, como você pode se rebelar contra o Comunismo?

19. Uma espécie de sacerdotes e sacerdotisas soviéticas – ritualistas em trajes solenes com medalhão da religião soviética:

20. [As colunas comunistas festivas no centro de Kyiv – na avenida Khreschatyk, no dia 1 de maio de 1986 vários presentes nesta coluna foram coagidos – “ou estarás presente, ou serás expulso do PCUS...”]

21. O livro era publicado “para uso oficial” dos diversos comités executivos do nível provincial, distrital e local. Para a leitura e assimilação dos diversos parasitas soviéticos. A sua tiragem inicial foi de 115.000 exemplares, a 2ª edição chegou aos 150.000 exemplares.

Imagens e texto: Maxim Mirovich e [Ucrânia em África]

1 comentário:

Unknown disse...

Muito interessante suas matérias e todo o conteúdo, estou gostando bastante. Pelo nome do site, imagino que deve ser referência a alguma imigração ucraniana para a África. Acho muito interessante o fato de talvez haver uma história de imigração ucraniana à África. É disso que trata o nome da página? E se for, poderia explicar a respeito da imigração ucraniana para a África e o status atual dessas colônias (se existirem).