sexta-feira, julho 26, 2019

Ucrânia apreende navio russo usado no bloqueio do Mar Azov em 2018

A secreta ucraniana SBU e Procuradoria/Promotoria Militar apreenderam o petroleiro russo “Nika Spirit” que sob o nome de “Neyma” participou do bloqueio dos barcos ucranianos “Nikopol”, “Berdyansk” e “Yani Kapu” no estreito de Kerch que resultou na prisão dos 24 marinheiros ucranianos em 25 de novembro de 2018.
“Nika Spirit” apreendido no porto de Izmail, 25/07/2019
Na altura, “Neyma” executou a ordem para fechar o estreito de Kerch para a passagem dos navios ucranianos. O navio, de jure, pertence à agência de navegação FOS Shipping Management/Altomar Shipping, mas de facto, desde de janeiro de 2018 é uma propriedade da empresa “Yuvas Trans”, da cidade de Kerch, detida pelos Yaroslav Naroditsky e Roman Teplukhin, ambos residentes da Crimeia ocupada, escreve Yuriy Butusov.

Por iniciativa da Procuradoria/Promotoria Militar, de acordo com a decisão do Conselho Nacional da Defesa e Segurança (RNBO) da Ucrânia e o decreto do Presidente da Ucrânia de 19 de março de 2019, contra empresa “Yuvas Trans” foi imposta uma sanção com duração de 3 anos, que previa a detenção de todos os bens da empresa.
Oficiais ucranianos da Procuradoria/Promotoria Militar ao bordo de “Nika Spirit”,
apreendido no porto de Izmail, 25/07/2019
Na noite de 24 a 25 de julho, o petroleiro “Nika Spirit” navegou sob a bandeira da federação russa até o porto ucraniano de Izmail. Era “Neyma” com um novo nome – mas o código de identificação da embarcação é o mesmo – IMO – 8895528, de acordo com dados do sistema internacional EQUASIS (o Ministério do Negócios Estrangeiros/Relações Exteriores da Rússia já confirmou que “Nika Spirit” anteriormente se chamava “Neyma”).
Tripulação de “Nika Spirit” deixa Ucrânia rumo à Moldova | SBU
O navio foi apreendido e 10 membros da sua tripulação foram detidos, mas dado que armador fez a questão de mudar toda a tripulação anterior, antes da sua saída de Kerch e que não há evidências de seu envolvimento no ataque aos marinheiros ucranianos no Estreito de Kerch, todos os marinheiros russos foram libertados pelas autoridades ucranianas.
A navegação entre Kerch e Izmail decorreu durante três dias, durante bastante tempo o petroleiro ficou parado perto das águas territoriais da Ucrânia. É provável que os serviços especiais russos esperassem uma captura forçada do navio nas águas internacionais, querendo verificar a reação ucraniana. Nada aconteceu e navio entrou em Izmail sob duas bandeiras – ucraniana na proa e russa na popa. Ou seja, o armador da “Nika Spirit”/“Neyma” sabia dos possíveis problemas e tentou camuflar o barco.

Além disso, em 24 de julho, as autoridades russas do porto de Eysk detiveram o navio ucraniano “Lizori” com 14 marinheiros ao bordo, sob acusação de “condições técnicas insatisfatórias” e “atrasos no pagamento de salários” (Sic!) Não é de excluir que as autoridades russas, tentaram mostrar que estão prontos para deter qualquer navio ucraniano sob qualquer pretexto se “Nika Spirit”/“Neyma” for detido em Izmail.

“Nika Spirit” entrou em Izmail para os trabalhos de reparação nas instalações que são a propriedade do Anatoly Urbansky – o chefe do Conselho Regional de Odessa, que no domingo passado (21/07/2019) venceu as eleições ao Parlamento da Ucrânia.

O petroleiro veio sem carga, o navio provavelmente poderia ser reparado em Kerch. Muito possivelmente as autoridades russos e o armador verificavam, dessa maneira, a possibilidade de uso dos portos ucranianos, para as ações de contrabando entre Crimeia ocupada e Ucrânia, face as recentes mudanças políticas no país, testando a reação do SBU.

Mas enquanto o navio-tanque navegava ao Izmail, a Procuradoria/Promotoria militar, o departamento de contra-inteligência do SBU e a sua sede regional de Odessa receberam informações operacionais e prepararam a detenção de “Nika Spirit”/“Neyma”. Pelo menos 20 pessoas tinham informações sobre a operação – não houve nenhum “vazamento”.
“Nika Spirit” ainda “Neyma”
Após a detenção do petroleiro, SBU e Procuradoria/Promotoria militar apreenderam os diários de bordo e as gravações de comunicações de rádio, interrogaram os membros da tripulação. SBU pretende submeter ao tribunal um pedido formal de detenção do petroleiro como prova no âmbito da investigação do bloqueio de navios ucranianos no Estreito de Kerch.

Apenas 20 minutos após a detenção do navio, surgiu a primeira reação da imprensa/mídia russa, a agência de notícias RIAN publicou um comentário do senador russo Vladimir Dzhabarov, que disse: “Se Kiev quer melhorar um pouco as nossas relações, eles devem liberar imediatamente o petroleiro”.

Em 2018 por violações das leis ucranianas, Ucrânia deteve dois navios russos “Mechanic Pogodin” e “Nord”, até hoje sob a custódia. Agora “Nika Spirit” lhes fará a companhia.

A decisão da detenção foi aprovada pelo presidente Zelensky no dia anterior, em 24 de julho, a decisão não foi fácil, já que era óbvio que a detenção do navio poderá levar às ações de retaliação por parte da federação russa.

A detenção de Neyma é a resposta lógica à recusa da federação russa em cumprir a decisão do Tribunal Marítimo Internacional, que acusou a federação russa de deter ilegalmente 24 marinheiros e 3 barcos ucranianos, aprisionados no Mar Azov em 25 de novembro de 2018, e exigiu a sua libertação imediata.
“Neyma” à bloquear o estreito de Kerch em 25 de novembro de 2018
Por sua vez, as autoridades russas efetuaram as buscas no escritório da empresa armador de “Nika Spirit” em Gelendzhik. Como informa agência russa TASS, as autoridades russas querem perceber “razões para o envio do petroleiro para Ucrânia”.

Blogueiro: o sucedido se pode explicar por 3 teorias principais. 1) “O efeito Trump”, quando após se eleger e ganhar a maioria simples no parlamento, o presidente Zelensky já não precisa da cartada de “melhoramento das relações com Rússia”. 2) “Birra do menino Ze”: aparentemente houve a promessa russa de bastidores (verbal e simplesmente esquecida no dia seguinte) do que os 24 marinheiros ucranianos capturados no Estreito de Kerch serão libertados à troco da posição permissiva do presidente da Ucrânia na questão da reentrada da Rússia na OSCE; 3) “Teatro para os crédulos”: quando as duas administrações, russa e ucraniana, fazem o teatro para preparar a opinião pública à ideia da troca necessária dos POW (mas a libertação dos marinheiros russos pelo SBU enfraquece bastante essa teoria).

As vossas teorias, queridos leitores, são bem-vindas! ;-)

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