Turcomenistão,
o território ex-soviético na Ásia Central, ocupa a 4ª posição mundial em reservas
de gás natural, mas está no limiar de uma fome generalizada. Os cidadãos fogem em
massa à procura de uma vida melhor no exterior.
Uma
ditadura próspera
Turcomenistão
é um dos países mais fechados do mundo. Devido à uma censura severa e
autoritarismo estatal, a república é comparada com a Coreia do Norte. Até 3-4 anos
atrás a falta da democracia era soberbamente compensada pelo regime com o
bem-estar social e económico: os cidadãos tinham salários baixos, mas Estado
lhes fornecia, em forma de subsídio 100% gratuito, os produtos como gasolina, electricidade,
gás, água e sal, escreve a publicação Izvestia.
Muséu dedicado ao culto da personalidade do atual ditador do país | foto: RIAN |
Até
que em 2018, a situação piorou drasticamente. Em setembro foi anulado o subsídio
dos serviços municipais (gás, electricidade, agua, etc.). O câmbio oficial da moeda
nacional está estável desde 2015, mas o dólar é rapidamente valorizado no
mercado paralelo. No início de 2018 um dólar valia 9,8−10 manat, no início de
setembro — 18−19 manat.
Nas
vésperas de uma fome generalizada
No
país existem as mercearias estatais com os preços de alimentos fixos, naturalmente
as suas prateleiras estão vazias. Na capital, os cidadãos formam as filas nas
madrugadas para comprar pão. No interior, para comprar o pão é preciso mostrar
o seu bilhete de identidade (cartão de cidadão), os não residentes numa
determinada localidade não são atendidos nas lojas locais. Nas filas para
comprar a farinha as pessoas se inscrevem com um mês (Sic!) de antecedência.
Compra e venda de legumes nos bazares | foto: RIAN |
Produção de apas ao céu aberto | foto: RIAN |
A
rádio «Azatbahar» (serviço turcomano da rádio “Liberdade”) divulgou o vídeo,
filmado da cidade turcomana de Daşoguz, onde uma
multidão de cerca de 600−700 estava disputar o farelo, anteriormente usado apenas para alimentação animal. Mas devido à falta da farinha, as pessoas já consomem este subproduto alimentar:
Nas
lojas privadas ainda há poucas limitações de compra, mas os preços subiram em
flecha. Um kg de farinha fabricada no vizinho Cazaquistão subiu de 4,8 manat em
março aos 8 manat (2,29 dólares) em outubro. Farinha russa subiu de 21−26 manat
(embalagem de 2 kg) em março aos 39 manat (11,14 dólares) em outubro.
Galinhas
de algodão para “embelezar” as montras
Um
kg de carne da 1ª custa nas lojas privadas cerca de 38 manat (10,86 USD); um kg de mortadela — 37 (10,57
USD), coxas de frango — 21 manat (6 USD). Um cidadão pode comprar não mais que
2 kg de coxas de frango de cada vez. As montras de lojas são “embelezadas” com
a imitação de frangos, feitos de algodão, tal como se fazia na União Soviética
e como ainda se faz na Coreia do Norte.
No supermercado do centro comercial "Berkarar" na capital do país | foto: e-news |
Os
cigarros desapareceram das lojas estatais nos últimos dois meses, nos privados
um maço custa cerca de 70 manat (20 dólares!)
Os
cidadãos, temendo o desaparecimento do subsídio estatal de gasolina, fazem o
seu stock. Durante o dia, as esperas para reabastecer a sua viatura chegam às duas-três
horas. Desde dia 1 de outubro de 2018 as tarifas de correios estatais subiram (em
média) até 60%. As ATM vivem falta do dinheiro, as reformas estatais estão
sendo transferidos aos reformados/pensionistas com atrasos consideráveis. As
filas junto às ATM chegam formar até 200 pessoas, alguns cidadãos trazem 4-5
cartões (dos familiares), as discussões chegam quase às pancadarias.
A
situação nas regiões
A
situação alimentar nas regiões é pior. Os seus moradores viajam até a capital
para se abastecer de alimentos mais básicos. A polícia verifica as viaturas com
as matrículas / placas regionais e caso encontrar os alimentos, exige o
pagamento de taxas. Embora não existe nenhuma lei estatal, nem a postura municipal,
que regulasse o regime de compras dentro e fora da capital, Ashgabad.
Os
salários e empregos
O
vendedor/a numa loja recebe cerca de 500 manat (142,86 dólares), os dados sobre
desemprego não são divulgados, mas considera-se que cerca de 60% dos cidadãos
na idade de trabalhar são desempregados. A situação mais dramática se dá no
interior e nas zonas rurais.
As
obras faraónicas do regime
Nos
últimos anos o orçamento geral do Turcomenistão teve que suportar a construção de
algumas obras faraónicas do regime: um aeroporto em forma de falcão na capital
que custou 2,3 biliões de dólares em 2016; os Jogos Asiáticos que custaram 5 biliões
em 2017; o novo porto marítimo, que foi inaugurado na cidade de Turcomanbashi
(chamada assim em referência ao anterior ditador do país), que custou 1,5 biliões
de dólares, entre outras.
O aeroporto em forma do falcão em Ashgabad que custou 2,3 biliões de dólares | foto: RIAN |
Alguns
biliões custou a estância balnear Avaz no Mar Cáspio. Mas os seus serviços são
demasiadamente caros para os turistas nacionais e os turistas internacionais
não aparecem por falta do interesse e devido às dificuldades de obtenção de
vistos de entrada.
A venda do gás
Até
recentemente, o gás turcomano era comprado pela China, Irão e Rússia. Hoje, apenas
a China mantêm as relações comerciais com o regime. O mercado russo se fechou em
2016, em resultado de uma disputa de responsabilidades após uma avaria grossa
na parte turcomana do gasoduto Ásia Central — Centr(o)-4.
Em
2017, acusando Irão de não honrar as suas dívidas, Turcomenistão cortou o
fornecimento do seu gás às províncias nortenhas do Irão. Em 2017, cerca de 94% do
total do gás tucomano era comprado pela China. No entanto, a China paga o gás
recebido, descontando os seus próprios créditos, concedidos ao país
anteriormente.
Em
resultado, em 2017 Turcomenistão produziu 62 bilhões de m³ de gás natural; 10,8
bilhões de m³ à menos do que em 2015. Pelos dados não oficiais, a défice do
comércio externo do país chega aos 10 biliões de dólares. A revista The Economist,
citando o Banco suíço de Liquidações Internacionais, informa que só na Alemanha
estão depositados cerca de 23 biliões de dólares, provenientes do
Turcomenistão.
A
venezuelização do país
Para
conter a migração, o poder estatal proibiu a saída do país de todos os cidadãos
menores de 40 anos de idade. Muitos destes “dissidentes silenciosos” são
detidos nos aeroportos. O Banco Nacional impôs os limites de levantamento do
dinheiro através de cartões de crédito e de débito fora do país, fala-se em desejo
do regime de emitir os documentos de viagem (passaportes) com a validade de apenas
um ano.
As ruas vazias da capital e os cidadãos à caminhar, como na Coreia do Norte | foto: RIAN |
Qualquer
oposição laica e democrática foi destruída e aniquilada no país logo após a independência
do Turcomenistão em 1991. Em contrapartida, sabe-se que cerca de 300-400 turcomanos
passaram pelas fileiras do Daesh/EI na Síria. Os serviços secretos locais
anunciam periodicamente a descoberta [verídica ou não] das suas células no país.
Turcomenistão possui a fronteira bastante extensa com o Afeganistão. Caso a
resistência islâmica nacional pegar em armas, encabeçando a revolta popular
legítima, o poder local terá muitas dificuldades de conter a situação.
Principalmente no momento em que o próprio regime está quebrar o pacto social,
que existiu no país nos últimos 27 anos...
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