Os
preservativos na URSS eram um produto de baixa qualidade e mesmo assim muito escasso. Praticamente tabu na sociedade soviética, a situação que levou aos níveis
realmente assustadores da propagação de epidemia de HIV SIDA/AIDS na Rússia
atual (a 3ª taxa mais alta do mundo).
De
onde veio o “produto número dois”?
Os
preservativos na URSS começaram a ser produzidos em massa na década de 1930 – a
propaganda comunista de “liberdade sexual” da década de 1920 levou ao aumento brutal
das doenças de transmissão sexual / sexualmente transmissíveis (DTS/DST), e as
autoridades soviéticas tinham que agir para evitar a sua disseminação. Na
década de 1930, os preservativos soviéticos eram fabricados na fábrica “Chervoniy Rezinshik” (literalmente Borracheiro
Vermelho), hoje localizada em Kyiv na Ucrânia, com o nome de “Kiyvrezyna”
(Borracha de Kyiv), Lda, mais tarde começou a produção de preservativos na fábrica de
borracha Bakovsky, inaugurada na região de Moscovo em 1936.
O
surgimento dos preservativos soviéticos praticamente não melhorou os níveis da
prevalência das DTS/DST – a absoluta maioria da população soviética, de baixa
escolaridade, olhava o preservativo como uma curiosidade incompreensível e
desnecessária, o preservativo era usado em casos bastante raros. Além disso – os
preservativos soviéticos eram um produto muito escasso, e as suas características
“táticas e técnicas” deixavam muito a desejar.
O
seu nome popular “produto número dois” provêm de lenda urbana soviética de que a
máscara de gás era o produto número um, o produto número dois era preservativo,
o produto número três era a borracha escolar e o produto número quatro eram as
galochas. Na realidade, os primeiros preservativos soviéticos eram produzidos
em três tamanhos. Número um – era muito pequeno e ninguém o comprava por
vergonha. Número dois – era médio e, portanto, o mais popular. O número três
era gigantesco – e por esse motivo também ficava nas prateleiras das farmácias.
Como
resultado, apenas o 2º tamanho médio permaneceu à venda e a inscrição “Produto
de borracha. Número dois” começou a ser lida e percebida como uma única sentença,
razão pela qual nasceu a lenda urbana sobre um certo “classificador” oficial.
«Produto
número dois» de 1973
O
“produto número dois” da foto, bastante conhecido aos cidadãos nascidos na
URSS, foi produzido na fábrica de Bakovsky em agosto de 1973, é um pacote duplo
de preservativos, custando dois copeques por preservativo (ou seja, o pacote
custava cerca de 7 cêntimos do dólar americano, segundo o câmbio oficial da
época). Os preservativos soviéticos sempre eram vendidos num pacote duplo, brincava-se
que o homem soviético tinha direito às duas tentativas.
45
anos depois, o preservativo naturalmente secou – a sua embalagem de papel foi a co-responsável. Mas mesmo dentro do prazo de validade o “produto número
dois” soviético muitas vezes perdia as suas propriedades protetoras – devido ao
facto de que a embalagem do papel facilmente se rasgava, permitindo a entrada
do ar.
Num
dos fóruns russos, certa vez apareceu a história sentimental sobre como,
durante um escândalo familiar, um pai confessou ao filho que este – era apenas o fruto
indesejado de um preservativo que se rasgou no momento errado. Um verdadeiro
Drama se desencadeou nos comentários )
Em
comparação com os preservativos modernos – a borracha do preservativo soviético
era muito espessa. De acordo com o GOST (padrão estatal de qualidade) soviético,
tão apreciado pelos fãs do comunismo e da União Soviética, a espessura do
preservativo soviético não deveria ser menor que 0,09 milímetros, enquanto os
preservativos modernos têm a espessura não superior aos 0,05 milímetros.
Isto
é, os preservativos soviéticos eram duas vezes mais grossos que os modernos. Ao
olho nu é perceptível que a borracha é muito grossa, quase “blindada”.
Os
preservativos soviéticos – nas suas propriedades se assemelham às luvas medicinais – a espessura da sua borracha é quase igual. Os preservativos soviéticos eram polvilhados com o pó de talco. O que possivelmente
contribuiu para a baixa popularidade do produto – o seu uso certamente trazia muito
sofrimento, principalmente às mulheres.
Na
Internet russa são publicadas as histórias de como nas décadas de 1960-70 no
interior da Rússia Soviética (RSFSR), os preservativos eram usados mais que
uma vez – lavados e secados juntamente com a roupa (como até hoje acontece em
certas partes da África), mas vamos colocar essas histórias na categoria de
lendas urbanas.
O
preservativo soviético do fim da década de 1980
A
embalagem não possui a data da produção, apenas é indicado que o preservativo é
válido até ano [19]90. Dado que o prazo de validade dos preservativos, geralmente,
se situa entre 3 à 5 anos – este modelo possivelmente foi produzido entre 1985 e 1988,
exatamente na época da Perestroika.
A
revolução sexual gradualmente penetrava na URSS – os preservativos já não se
vendiam em pacotes modestos de duas unidades, mas com esse tipo de
“cartucheiras”, uma dúzia em cada pacote. [Nos primeiros quiosques, que surgiram
em forma de cooperativas e que praticavam o comércio privado, já era possível
comprar quer apenas um preservativo, quer toda a “cartucheira”].
O
preservativo ficou muito melhor preservado. Por um lado, é 15 anos mais jovem
do que o “produto número dois” de 1973, mas também devido ao facto de que a
embalagem de papel é coberta, por dentro, com uma camada de celofane – o que
cria a estanqueidade e impede o acesso do ar. A embalagem diz ser “verificada
por meios eletrónicos”, e também informa que os preservativos foram processados
com látex – no sexagésimo aniversário do poder comunista, os fabricantes soviéticos
finalmente perceberam que o pó talco não era o melhor acompanhamento para o
sexo.
O
próprio preservativo da era Perestoika
é um pequeno anel alongado, que por sinal é visivelmente maior que o “produto
número dois” de 1973 – não se sabe se é por caso de que os preservativos mais antigos
encolheram devido à secagem ou porque o “tamanho número dois” soviético era bastante
reduzido.
Uma
outra lenda urbana soviética dizia que os preservativos produzidos na URSS
tinham o chamado “duplo propósito” – supostamente durante a guerra [quando a
pátria socialista for atacada pelos imperialistas e seus lacaios], os
preservativos poderiam ser usados como a pinça hemostática ou um recipiente para
transportar 2-5 litros de água.
O preservativo na foto explodiu após receber cerca
de 500 mililitros (0,5 l) de água.
Posfácio...
Na
URSS as camisinhas quase nunca eram compradas pelas mulheres, pois o bom povo
soviético considerava que só as “mulheres da vida” (as prostitutas) fariam uma “coisa
dessas”, e todo o tema do sexo e sexualidade era um grande tabu – como se dizia
publicamente “na URSS não existia sexo” e não havia nenhum programa de
esclarecimento aos jovens e adolescentes. Os filmes soviéticos eram muitíssimo
pudicos, censura comunista cortava toda e qualquer cena ligeiramente erótica ou
simplesmente sensual.
Naturalmente,
a realidade era muito diferente da propaganda, os níveis de DTS/DST na URSS eram
muito altos – as filas nas clínicas estatais que tratavam as DTS/DST eram
enormes. Não existia nenhuma educação sexual na escola secundária [naturalmente
não estamos falar de impingir o sexo às crianças da primária], tudo relacionado
com o sexo e sexualidade era considerado um “tópico proibido” e deixado ao
acaso.
Muito
possivelmente tudo isso contribuiu para que a Rússia atual possuísse uma das maiores
taxas mundiais de prevalência de HIV SIDA/AIDS (a terceira taxa mais alta do
mundo). Na Rússia atual (tal como em várias partes da África) são fortes os movimentos
populares de “HIV dissidentes” – pessoas que acreditam que HIV SIDA/AIDS simplesmente
não existe. Particularmente, os “dissidentes” russos acreditam que HIV SIDA/AIDS
é uma fabricação e difamação do Departamento de Estado americano. As crenças
que continuam à contribuir para a disseminação de uma terrível epidemia...
Fotos
e texto: Maxim Mirovich | [Ucrânia
em África]
Blogueiro:
além disso, os preservativos eram usados na URSS como uma espécie de tampas nos
frascos de compotas, doces ou sumos caseiros, devido à escassez de tampas
plásticas ou metálicas. Alguns donos de animais de estimação (os pets), usavam
o «produto número um» soviético (os preservativos pequenos) para colocar nas
patas dos seus cães/cachorros durante os passeios no inverno, quando as ruas soviéticas
eram polvilhadas com o sal (para cidadãos não escorregarem), o que naturalmente
era bastante prejudicial à saúde animal.
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