Diário de Lisboa de 21 de Agosto de 1980 (@ Fundação Mário Soares) |
Em
20 de Agosto de 1980, invocando a Convenção de Viena, o governo centrista
português do Primeiro-ministro Sá Carneiro expulsa, por «intromissão nos assuntos internos
portugueses» quatro agentes soviéticos, afetos à embaixada soviética em Lisboa:
um do GRU e três do KGB. Era o culminar do processo de «Watergate
vermelho».
Os detalhes deste episódio estão contados no 13.º capítulo da biografia Sá Carneiro (ed. Esfera dos Livros). Leia os excertos mais relevantes |
Eram
o capitão-de-fragata Vladimir V. Koniaev (nos arquivos americanos é referido
como Vladimir Konyayev), formalmente adjunto do adido naval da embaixada mas na
verdade espião do GRU; e Albert A. Matveev (Albert Matveyev),
ministro-conselheiro e número dois da embaixada, em Portugal desde 1974; Alexandre S. Koulaguine (Aleksandr Kulagin), terceiro-secretário e Youri A.
Semenitchev (Yuriy Semenychev), conselheiro
da embaixada, todos pertencentes à residentura do KGB em Lisboa,
sendo este último o seu principal responsável.
A lista parcial dos espiões soviéticos expulsos dos diversos países entre 1970-1984 |
O
primeiro-ministro português Sá Carneiro agiu assim, após, através do seu amigo
e assessor militar, Carlos Azeredo, receber
uma
cassete gravada, de forma clandestina, durante uma sessão organizada no Teatro
São Luiz em Lisboa pela Associação de Amizade entre Portugal e a URSS – na
fita, ouvia-se o embaixador soviético Arnold Kalinin (1929-2011) a discursar e
a criticar duramente a política externa da Aliança
Democrática. Sá Carneiro também recebeu uma lista com cerca de dez nomes de
espiões soviéticos a actuar em Portugal a partir da missão diplomática
soviética – um era do GRU, o serviço de informações militares, e os restantes
do KGB.
As denúncias de espionagem económica do PCP ao favor da URSS |
Entre
as actividades ilícitas graves daqueles espiões contavam-se: o envolvimento em
acções de agitação e propaganda nos distritos de Évora e de Beja, tentativas de
boicotar a Reforma Agrária; intermediação no financiamento clandestino soviético
ao Partido Comunista Português (PCP) e aos sindicatos da CGTP, da linha
comunista; e gestão de um sistema de escutas telefónicas a embaixadas
ocidentais.
Os oficiais russos expulsos em todo o mundo até o dia 29/03/2018 (sem contar com Eslovénia). Portugal decide que não apoiará os seus aliados da NATO e da EU... |
Os diplomatas tinham
cinco dias úteis para fazerem as malas e abandonarem Lisboa. A 26 de agosto de
1980, antes do fim do prazo, foram levados pelo embaixador soviético ao
aeroporto da Portela e embarcaram num voo da Aeroflot. Era o fim do processo a
que Sá Carneiro chamou «Watergate vermelho».
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