«Controlador
aéreo Carlos», que acusou Ucrânia no caso de derrube do Boeing-777 do voo MH-17,
escrevendo no twitter sob a conta @spainbuca se chama Jose Carlos Barrios
Sanchez, é um pequeno burlão espanhol, condenado na Espanha e detido na Roménia
devido à fraude financeira. Os seus passos foram seguidos numa investigação
conjunta de Rádio
Liberdade e dos jornalistas romenos da RISE Project.
Os restos do Boeing-777 do voo MH17. Foto Zurab Dzhmakadze | TASS | Scanpix | LETA (18/06/2014) |
Em
17 de julho de 2014, o voo MH17 da Malaysia Airlines foi derrubado sobre o
território ocupado pelos separatistas apoiados pela Rússia no leste da Ucrânia,
matando todas as 298 pessoas a bordo. Imediatamente após a tragédia, a conta
@spainbuca no twitter começou dizer que assistiu os eventos à partir de uma
torre de controlo de tráfego aéreo no aeroporto de Boryspil de Kyiv. Era uma
série de afirmações dramáticas sugerindo que Ucrânia tinha abatido avião e
estava tentando encobrir o sucedido.
Uma
reivindicação em particular foi divulgada em meios de comunicação estatais
russos e no Twitter: que dois aviões de combate ucranianos haviam voado perto
do Boeing 777 pouco antes deste desaparecer do radar.
Os tweets do @spainbuca |
Naturalmente,
as pessoas razoavelmente sérias começaram questionar essas afirmações que
abalaram a credibilidade do @spainbuca. Como e por que razão um controlador de
tráfego aéreo de nacionalidade espanhola trabalharia em Kyiv? Será que existe
algum país do mundo que emprega os controladores de tráfego aéreo de nacionalidade estrangeira?
Existem alguns relatórios sérios e independentes (dados de radar, por exemplo) corroborando
as suas reivindicações?
A
investigação conjunta da Rádio
Liberdade e do RISE Project revelam quem é o
ex-condenado espanhol, um pequeno burlão madrilenho, detido pela polícia romena por fraude em agosto de 2013.
Em
agosto de 2013, o cidadão espanhol Carlos Sanchez foi detido no aeroporto de Bucareste.
Sob promessa de ajudar na obtenção de trabalho na companhia aérea espanhola Iberia,
ele pediu dinheiro aos, pelo menos, 8 cidadãos romenos (entre 70 à 130 Euros
por pessoa). A justiça romena abriu, contra o espanhol, o caso criminal de fraude.
Uma das vítimas romenas acusa Jose Carlos Barrios de ser um ladrão |
No
decurso da investigação romena ficou claro que Espanha já tinha colocado este
homem na lista dos procurados em toda a Europa. Na Espanha, Sanchez estava sob
suspeita de falsificação e desvio de propriedade. Os jornalistas compararam a foto
do “controlador aéreo espanhol Carlos”, que deu uma entrevista à edição
espanhola do canal propagandista russa RT en Español e perceberam que era a mesma
pessoa. A fotografia de Jose Carlos Barrios Sanchez foi anexada aos documentos
do seu processo-crime na Roménia. Sanchez também foi identificado por uma
mulher que lhe deu dinheiro no aeroporto de Bucareste e por uma uma fonte judicial
romena que participou do interrogatório do espanhol.
Carlos na entrevista ao RT en Español @screanpics da RT |
Em
março de 2015, já após o abate do MH17 pelos terroristas russos, Sanchez novamente
foi visto em Bucareste e em Madrid. Os jornalistas contataram Sanchez em setembro
de 2017, através da página Expat.com. Ele contou que a sua conta no Twitter foi
bloqueada “por razões de segurança”, alegadamente, conforme indicado na carta
que lhe foi enviada pela administração do site. Depois disso, ele decidiu
excluir a conta.
Jose Sanchez à participar num programa culinário da TV romena |
Anteriormente,
no final de 2014, a conta de Sanchez funcionava, mantida por uma certa Lyudmila
Lopatyshkina. Tal como o “controlador aéreo Carlos”, ela lutava contra a “junta
ucraniana” e divulgava as tweets das contras pró-Kremlin, misturada-s com
tweets sem sentido (“sem medo-olhando”, “pintarei o céu”, “em 37 recebeu ele”),
o que evidenciava de que a Sra. Lopatyshkina é um ro(bot) da Internet.
Nas
cartas e no seu perfil de Facebook, Sanchez mencionava que trabalhou para a
holding aéreo International Airlines Group, com sede em Londres. O representante
da empresa disse aos jornalistas que uma pessoa com esse nome nunca trabalhou
para eles. Também não o reconheceram numa outra empresa, onde ele supostamente trabalhou
– SkyTeam.
🚨🚨 Remember "Carlos The Spanish Air-Traffic Controller" of #MH17 infamy, who was even cited by Putin in blaming Ukraine for downing the plane? Welp, turns out Jose Carlos Barrios Sanchez is an ex-con accused of fraud. @CarlSchreck & @RFERL track him down https://t.co/FoxkbV6d4N pic.twitter.com/QxsBjW3zko— Christopher Miller (@ChristopherJM) March 14, 2018
Na
conversa com jornalistas, o “controlador” disse que “alguns grupos e
organizações querem prejudicá-lo”, ele tem confirmações de áudio e vídeo sobre
isso. No entanto, aos jornalistas não conseguiu apresentar nenhuma prova do que
disse. Sanchez também tentou extorquir dinheiro aos jornalistas, depois disso,
marcou uma reunião em um dos centros comerciais de Bucareste e simplesmente desapareceu.
Na
conversa telefónica com os jornalistas, Carlos Sanchez confirmou que estava preso
na Espanha, mas disse que foi devido ao não-pagamento da pensão alimentícia.
Ele também admitiu que nunca tinha trabalhado como controlador aéreo e não
estava na Ucrânia durante o abate do MH17 sobre a região de Donbas.
Carlos
afirmou que recebeu “enormes somas de dinheiro”, que foram lhe transferidas da
Rússia. Em troca, ele teve que escrever, o que lhe diziam na sua conta no
Twitter. Segundo Sanchez, ele recebia as remessas do dinheiro da RT muito antes
de sua entrevista televisiva em maio de 2015 – alegadamente como a compensação
pelo que escrevia no Twitter. No total, o espanhol afirmou, receber da Rússia o
montante de 48.000 dólares.
A
representante da RT nega que o canal pagava ao Sanchez.
Local da queda do voo MH14 em 25/06/2014. Foto @Bulent Kilic AFP PHOTO | MEDIAFAX |
Em
17 de julho de 2014, no dia do derrube do Boeing MH17, usuário @spainbuca publicou
um tweet: «As aeronaves militares voaram perto de 777 três minutos antes de
desaparecer do radar, apenas três minutos». Mas o “controlador espanhol Carlos”
se tornou famoso mais de um mês antes, em 9 de maio de 2014, quando o canal propagandista
russo RT dedicou-lhe um texto inteiro na sua página. Uma fotografia com uma
face superior oculta foi anexada ao texto. O homem que foi chamado de
controlador aéreo Carlos do aeroporto de Boryspil, contou que tive que fugir para
Espanha, após trabalhar na Ucrânia por 5 anos, ameaçado pela sua posição “anti-ucraniana”.
Carlos contava que após a vitória do movimento Maydan: “meus colegas não só
pretendem denunciar às autoridades de que eu estava expressando o meu ponto de
vista, eles pediam que um batalhão inteiro (Sic!) fosse enviado ter comigo, para
que me deportassem fora do país, para que eu seja morto”.
Jose Carlos visto em público em Bucareste em abril de 2015 |
Blogueiro: sem entrar no
campo incerto das teorias de conspiração, mas a entrevista com um grande
destaque no canal RT, mais de um mês antes do abate do voo MH17 só pode indicar
uma coisa: o abate, de uma aeronave sob os céus da Ucrânia foi programado, pela
alta liderança russa, com uma certa antecedência...
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