Numa
sociedade comunista o Estado controla todos os aspectos da vida social do
cidadão. Nenhuma vaca e nenhum boi na União Soviética deveriam possuir os nomes
à contradizer a doutrina do “socialismo científico”.
Para
ajudar aos camaradas cidadãos, a editora moscovita Rosselhozizdat publicou em
1970 o livro “Colectânea de nomes do gado de grande porte”, citamos as partes
mais interessantes dessa obra:
Infelizmente,
não é tão raro que os nomes sejam administrados sem qualquer sistema e muitas
vezes não por zootécnicos, mas por cuidadoras de bezerros, leiteiras e
vaqueiras. Assim aparecem nos rebanhos 3-4, e às vezes mais Nochkas
(Noitinhas), Tsygankas (Ciganas), Ryzhukhas (Ruivas) e Pestrukhas (Malhadas).
Há também todos os tipos de gomes cacofónicos, como Especuladora, Durekha
(Boba), Griaznulya (Sujinha) ou boi Bandit (Bandido), e simplesmente inaceitáveis,
como Pioner e Pionerka (Pioneiro e Pioneira), Delegat e Delegatka (Delegado e
Delegada).
Quais
são os requisitos para os nomes de animais?
1.
Os nomes devem ser curtos e claros. Recomenda-se que cada nome dado, seja
verificado “em voz alta”, até que ponto soa bem, até que ponto é sonoro. Pelo nome
a vaca é chamada no pasto e no celeiro, pronunciando o seu nome, a leiteira
mantêm com a vaca, uma conversa íntima.
2.
Um nome deve ter um significado semântico, ser vinculado à uma forma, à um
conceito e o mais simples possível. Muitas vezes, os zootécnicos, especialmente
os jovens, apresentam nomes muito complexos, que, em regra, não se encaixam.
Uma vaca, chamada pelo técnico de Estilística, os criadores de gado chamavam simplesmente
de Stelka (Palmilha).
3.
O nome deve ser cultural, não desonroso aos animais (assim como aos criadores
de gado – seus padrinhos). Por conseguinte, é inadmissível chamar a vaca de Bacilo
ou Bactéria, Psicopata, Beliberda (Absurdo inteligente) ou Nahalka (Metida).
Parecem igualmente maus, nomes simples, como Badya (Tambor) ou boi Cherdak (Sótão).
Mas também há piores.
4.
É inadmissível usar os nomes [de animais] formados por nomes humanos, como
Mashka [diminutivo menos respeitoso da Maria], Sashka [do Alexandre], Borka [do
Boris].
5.
É proibido dar nomes com uma tonalidade política (por exemplo, Komsomolista) e os
associar à uma nacionalidade. Você não pode, por exemplo, chamar uma vaca de
Mongol, Inglesa, Americana ou um touro de Espanhol ou Francês.
6.
Não se deve dar nomes aos animais no dialeto local, mesmo que também sejam
sonoros. Por exemplo, no norte [da Rússia], existe a palavra Nyasha, curta,
clara e, aparentemente, adequada para um nome. Mas esta palavra significa “pântano”.
Não
é necessário inventar novas palavras, ou usar o vocabulário infantil, ou, o que
é bastante pior, o jargão/calão. O idioma dos nomes deve ser literário.
São
aceitáveis os nomes duplos, se forem bonitos e sonoros. Assim, na história do
rebanho do kolkhoze “Nikonovskoe” existia uma vaca com o nome Zoy-Zarya (com
produção de cerca de 7 mil litros); e é claro que era impossível não amar uma
vaca com um nome tão poético.
Fonte:
“Colectânea de nomes do gado de grande porte”. Compilada por Z.G. Guseva, E.A.
Dolzhikova, T.S. Evstigneeva e Z.A. Nefedova. Redação e prefácio – N.P. Smirnov
Moscovo, “Rosselkhozizdat”, 1970 – pp. 5-7.
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