sexta-feira, março 16, 2018

Os nomes politicamente aprovados de vacas soviéticas

Numa sociedade comunista o Estado controla todos os aspectos da vida social do cidadão. Nenhuma vaca e nenhum boi na União Soviética deveriam possuir os nomes à contradizer a doutrina do “socialismo científico”.

Para ajudar aos camaradas cidadãos, a editora moscovita Rosselhozizdat publicou em 1970 o livro “Colectânea de nomes do gado de grande porte”, citamos as partes mais interessantes dessa obra:

Infelizmente, não é tão raro que os nomes sejam administrados sem qualquer sistema e muitas vezes não por zootécnicos, mas por cuidadoras de bezerros, leiteiras e vaqueiras. Assim aparecem nos rebanhos 3-4, e às vezes mais Nochkas (Noitinhas), Tsygankas (Ciganas), Ryzhukhas (Ruivas) e Pestrukhas (Malhadas). Há também todos os tipos de gomes cacofónicos, como Especuladora, Durekha (Boba), Griaznulya (Sujinha) ou boi Bandit (Bandido), e simplesmente inaceitáveis, como Pioner e Pionerka (Pioneiro e Pioneira), Delegat e Delegatka (Delegado e Delegada).

Quais são os requisitos para os nomes de animais?

1. Os nomes devem ser curtos e claros. Recomenda-se que cada nome dado, seja verificado “em voz alta”, até que ponto soa bem, até que ponto é sonoro. Pelo nome a vaca é chamada no pasto e no celeiro, pronunciando o seu nome, a leiteira mantêm com a vaca, uma conversa íntima.

2. Um nome deve ter um significado semântico, ser vinculado à uma forma, à um conceito e o mais simples possível. Muitas vezes, os zootécnicos, especialmente os jovens, apresentam nomes muito complexos, que, em regra, não se encaixam. Uma vaca, chamada pelo técnico de Estilística, os criadores de gado chamavam simplesmente de Stelka (Palmilha).

3. O nome deve ser cultural, não desonroso aos animais (assim como aos criadores de gado – seus padrinhos). Por conseguinte, é inadmissível chamar a vaca de Bacilo ou Bactéria, Psicopata, Beliberda (Absurdo inteligente) ou Nahalka (Metida). Parecem igualmente maus, nomes simples, como Badya (Tambor) ou boi Cherdak (Sótão). Mas também há piores.

4. É inadmissível usar os nomes [de animais] formados por nomes humanos, como Mashka [diminutivo menos respeitoso da Maria], Sashka [do Alexandre], Borka [do Boris].

5. É proibido dar nomes com uma tonalidade política (por exemplo, Komsomolista) e os associar à uma nacionalidade. Você não pode, por exemplo, chamar uma vaca de Mongol, Inglesa, Americana ou um touro de Espanhol ou Francês.

6. Não se deve dar nomes aos animais no dialeto local, mesmo que também sejam sonoros. Por exemplo, no norte [da Rússia], existe a palavra Nyasha, curta, clara e, aparentemente, adequada para um nome. Mas esta palavra significa “pântano”.

Não é necessário inventar novas palavras, ou usar o vocabulário infantil, ou, o que é bastante pior, o jargão/calão. O idioma dos nomes deve ser literário.

São aceitáveis os nomes duplos, ​​se forem bonitos e sonoros. Assim, na história do rebanho do kolkhoze “Nikonovskoe” existia uma vaca com o nome Zoy-Zarya (com produção de cerca de 7 mil litros); e é claro que era impossível não amar uma vaca com um nome tão poético.

Fonte: “Colectânea de nomes do gado de grande porte”. Compilada por Z.G. Guseva, E.A. Dolzhikova, T.S. Evstigneeva e Z.A. Nefedova. Redação e prefácio – N.P. Smirnov Moscovo, “Rosselkhozizdat”, 1970 – pp. 5-7.

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