terça-feira, março 06, 2018

O novo Litvinenko: o perfil do ex-coronel do GRU Sergey Skripal

No momento da sua detenção em dezembro de 2004
Em 4 de março de 2018, o ex-coronel de GRU Sergey Skripal (66) foi hospitalizado em estado crítico em Salisbury, Inglaterra. Em 2006 foi condenado a 13 anos de prisão, acusado de ser espião da MI-6 britânica e em 2010 foi trocado por um grupo de espiões russos descobertos nos Estados Unidos, escreve Meduza.io.  

Recrutamento

Tendo trabalhado para a Direção de Inteligência Militar da URSS/Rússia (GRU) desde a era soviética, Sergey Skripal foi recrutado em 1995 pelo alegado agente britânico Pablo Miller, que habitualmente se apresentava como Paul e usava o nome de Antonio Alvarez de Hidalgo, trabalhando na embaixada da Grã-Bretanha em Tallinn na Estónia (1997-2002). O FSB afirma que Miller era um agente secreto do MI6 com tarefa de recrutar os agentes russos.
Pablo Miller
Os primeiros relatórios sobre o trabalho de Miller na Rússia surgiram no início da década de 2000, depois de vários russos acusados pelo FSB de espionagem disseram que foram recrutados por Miller. Por exemplo, a ex-polícia fiscal russo, major Vyacheslav Zharko diz ser recrutado por Miller. Zharko afirmou que foi magnata russo Boris Berezovsky e ex-operativo do FSB, Alexander Litvinenko, o apresentaram aos agentes de inteligência britânicos. Próprio Zharko se entregou às autoridades russas quando soube das suspeitas das autoridades britânicas de que outro ex-oficial do FSB, Andrey Lugovoi, envenenou Litvinenko com polónio.
Alexander Litvinenko antes e depois do seu envenenamento
No seu livro Chertova duzhina kontrrazvedki (literalmente A dúzia do diabo de contr-inteligência, sem a tradução portuguesa) que o autor russo Nikolai Luzan (que se intitula de coronel e de veterano das agências de segurança russas), chama de “produção documental artística”, este descreve como os britânicos recrutaram Sergey Skripal.
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Resumindo, na versão do Luzan, tudo começou com um negócio de vinhos e acabou com um acordo: informação em troca de dinheiro. Skripal forneceu aos britânicos informações sobre pelo menos 300 oficiais da inteligência russa. Em 1999, ele se retirou do GRU por razões de saúde, mas continuou a trabalhar para os britânicos até 2003, assumindo uma posição no Departamento de Assuntos Gerais do Ministério dos Negócios Estrangeiros / das Relações Exteriores da Rússia, demitido em 2003. Em dezembro de 2004 ele foi preso.

O julgamento

Skripal nunca negou as acusações contra ele. O seu julgamento foi realizado em uma sessão fechada e os jornalistas só receberam as disposições substantivas de veredicto em agosto de 2006. Skripal foi condenado à uma pena de prisão de 13 anos, o seu caso chegou à ser comparado com o de Oleg Penkovsky, considerado um dos espiões mais eficientes do Ocidente. Penkovsky foi preso em outubro de 1962, rapidamente julgado (o veredito final transmitido pela rádio soviética em público) e alegadamente executado em 16 de maio de 1963.
Skripal em agosto de 2006
De acordo com o que os investigadores russos, em nove anos de serviço, Skripal ganhou apenas 100.000 dólares. No entanto, como argumenta no seu livro de Nikolai Luzan, estes pagamentos permitiam ao Skripal viver uma vida acima do que permitiria a reforma parca de um veterano típico de GRU (cerca de 500 dólares em 2006).

Skripal recorreu à sentença, mas não teve êxito.

A troca de espiões e a vida no Ocidente

Sergey Skripal foi um dos quatro russos trocados em 2010 por 10 agentes russos das células adormecidas, descobertas nos Estados Unidos. Skripal e cientista nuclear russo Igor Sutyagin, optaram por viver na Grã-Bretanha, enquanto os outros dois foram para os EUA. A imprensa britânica chamou Skripal de “espião com o saco de Louis Vuitton”, pois numa das fotos ele apareceu com bolsa dessa marca, à caminho de encontro com os seus curadores.

Ao contrário de Sutyagin, que trabalha para OTAN e ganhou a fama como especialista em assuntos militares, Skripal viveu uma vida tranquila em Salisbury, onde comprou uma casa média por 340 mil libras esterlinas (cerca de 472.000 dólares). Seus vizinhos o descrevem como um pensionista comum e razoavelmente amigável. Quando se mudou para a área, ele convidou os vizinhos da sua rua para uma festa de inauguração.

Não está claro por que o Skripal decidiu se reassentar especificamente em Salisbury, mas LinkedIn indica que Pablo Miller – o alegado agente de MI6 que o alegadamente recrutou – vive na mesma cidade. Em 2015, no ano em que se aposentou, Miller recebeu a Ordem do Império Britânico por serviços ao Governo de Sua Majestade.

A esposa de Skripal, Lyudmila, morava com ele em Salisbury até sua morte alguns anos atrás. Seu filho morreu por insuficiência hepática em 2017 em São Petersburgo.

Os passeios com a filha no dia do envenenamento:
Quando os paramédicos em Salisbury encontraram Skripal envenenado em 4 de março, ele estava com sua filha de 33 anos, Yulia, que também está em estado crítico. De acordo com a sua página do Facebook, ela mudou-se para a Grã-Bretanha em 2010 com o pai, mas retornou a Moscovo alguns anos depois. Falando anonimamente, um dos familiares de Skripal disse ao serviço russo da BBC que ex-coronel temia por sua vida e acreditava que as agências de inteligência da Rússia não o deixariam em paz.


Sergey Skripal e sua filha estão atualmente hospitalizados em estado crítico na unidade de terapia intensiva sob a supervisão de especialistas do Centro de Radiação, Controlo Químico e Ambiental. As circunstâncias, meios e substâncias, usados no seu envenenamento são desconhecidos (por hipótese pode ser um analgésico como fentanil – opióide, que é usado nas anestesias). UPD2: As evidências, médica e química, mais os efeitos nas vítimas apontam para uso de um agente nervoso. Fontes não revelam qual deles, mas os mais conhecidos são VX e sarin, escreve The Guardian.

UPD: Os funcionários dos serviços de emergência britânicos, que estiveram no local onde o ex-coronel do GRU Sergei Skripal e sua filha Yulia foram envenenados, também foram internados, informa o público a polícia do condado de Wiltshire.

Foi necessária assistência médica “ao um pequeno número de trabalhadores de emergência”, diz o comunicado. Todos, exceto uma pessoa, já foram dispensados do hospital.