sábado, março 03, 2018

A guerra energética Naftogaz – Gazprom: a frente de 2018

No dia 28 de fevereiro o Tribunal Arbitral de Estocolmo acordou o valor de 2,56 biliões de dólares, que a russa Gazprom terá que pagar à Naftogas da Ucrânia. Gazprom respondeu anunciando a corte total de venda de gás à Ucrânia, baixando a pressão no sistema de gasodutos em 20%. Ucrânia assinou o contrato relâmpago com polacos de PGNiG e planeia aumentar as tarifas de transporte de gás russo pelo território ucraniano.

Em maio de 2017, o Tribunal Arbitral afeto ao Instituto de Arbitragem da Câmara de Comércio de Estocolmo (SCC) tomou a decisão favorável à Ucrânia na questão de arbitragem de vendas de gás entre “Naftogaz” e “Gazprom” sob Contrato de vendas de gás de 2009.

O tribunal rejeitou por completo a reivindicação take-or-pay (leve ou pague, que obrigava Naftogas comprar a quantidade máxima obrigatória do gás anualmente) da Gazprom (uma economia de 45 biliões de dólares) e satisfez o pedido da Naftogaz de colocar o preço do gás aos níveis praticados no mercado. Além disso, o tribunal levantou totalmente a proibição de reexportação de gás, que fazia parte do mesmo contrato.

Ao mesmo tempo, o tribunal decidiu que até o fim da vigência do contrato (até finais de 2019), assinado pelo governo da Yulia Tymoshenko em 2009, Naftogaz teria que comprar ao Gazprom a quantidade mínima obrigatória de 4-5 biliões de m³ anuais, embora ao preço unitário mais baixo do que Ucrânia pagava antes da decisão de arbitragem. É de notar que a dívida russa (decisão de 28/02/2018) é alvo de cobrança de juros – à razão de 526.000 dólares por cada dia em que Gazprom adiar o pagamento, a partir de 1 de março de 2018.

No dia 1 de março de 2018, Nagtogaz efetuou o pré-pagamento do gás, que teria que comprar sob o contrato de 2009 e que foi parcialmente validado pelo Estocolmo.

Apenas 15 minutos (!) antes do início de fornecimento do gás, Gazprom anunciou que irá rescindir o contrato com Ucrânia de forma unilateral, baixando a pressão no sistema de gasodutos em cerca de 20%.

Gazprom agiu assim, sabendo perfeitamente que na Ucrânia (e em toda a Europa) ocorrem os dias especialmente frios, a empresa russa pretende, mais uma vez, usar a sua dominante posição energética como uma arma de chantagem contra Ucrânia e contra a Europa.

Reação da Ucrânia

Ucrânia possui o gás suficiente (comprado na Polónia e Eslováquia), mas a sua capacidade de bombagem não é suficiente para garantir o trânsito do gás russo à Europa (devido aos frios, o consumo de gás cresceu no país e em todo o continente).

Para garantir o trânsito do gás russo, Ucrânia contava com o fornecimento do gás pela Gazprom, de acordo com o que foi contratado em 2009, aos preços e quantidades corrigidos pelo Tribunal Arbitral de Estocolmo em maio de 2017.

No decorrer de um único dia (!) a equipa da Naftogaz assinou o contrato de curta duração (até o fim do mês de março de 2018) com os polacos de PGNiG de fornecimento de mais de 60 milhões de m³ de gás. Os fornecimentos começaram às 6h00 do dia 2 de março de 2018, através da estação energética de Hermanowice, que une os sistemas de gasodutos entre Polónia e Ucrânia.

No fim de março, Ucrânia e toda a Europa entrarão no período da Primavera, quando os dias mais quentes garantirão a queda no consumo doméstico de gás e ajudarão ao país passar mais um momento complicado na atual guerra energética russo-ucraniana.

Na sua página de Facebook Naftogaz explica e pede ajuda aos ucranianos: “Precisamos de se aguentar apenas 3-4 dias até que os frios baixem. Quem têm caldeiras, reduzam a temperatura de aquecimento em apenas 1ºC de dia e até 2ºC à noite, o que reduzirá o consumo de gás no país em 8-9%, e isso será suficiente para que a chantagem russa não funcionaria”.

Por isso e por causa dos dias particularmente frios, Ucrânia fecha as escolas e jardins-de-infância, o Presidente Poroshenko lançou o pedido de #прикрути (#baixar ligeiramente o consumo de gás), dirigido à todos os ucranianos.
#прикрути
Com essa decisão unilateral e absolutamente não empresarial, Gazprom deu entender que o seu projeto “Nord Streem-2” não é nada mais do que um claro instumento de chantagem política.

Naftogaz, já classificou a recusa da Gazprom de fornecer gás de uma violação do contrato e do incumprimento da sentença arbitral. A quebra unilateral do contrato também poderá significar que Naftogaz não se sentirá mais vinculada à obrigação legal de comprar gás russo, mesmo a quantidade mínima obrigatória de 4-5 biliões de m³ anuais, decidia pela arbitragem sueca em maio de 2017.

A posição oficial da Naftogaz Ucrânia

Empresa informa que o trânsito do gás para Europa decorre de forma normal, Naftogaz não compra o gás [polaco] aos preços demasiadamente altos, no entanto faz lembrar: “Tudo o que pagaremos acima do preço estabelecido pela arbitragem [de Estocolmo], você sabem à onde iremos debitar”.

Além disso, o diretor comercial da Naftogaz, Yuriy Vitrenko, informou que a corporação ucraniana irá rever os preços de trânsito do gás russo pelo território ucraniano. Naftogaz também não comenta oficialmente as declarações do Gazprom e do seu PCA, Alexei Miler, dado que empresa não recebeu os documentos russos sobre a rescisão unilateral e não sabe o que neles está escrito.

No entanto, a corporação ucraniana cita algumas opiniões, publicadas na imprensa económica russa:

Uma fonte do jornal russo “Vedomosti” no Ministério da Energia alemão: “a situação atual e as intenções da Gazprom, infelizmente, são apenas prejudiciais ao projeto de construção do Nord Stream-2. A intenção da Gazprom de quebrar contratos com a Naftogaz pode novamente dar e, provavelmente, dará razão para falar sobre a falta de confiabilidade do fornecedor de gás russo, bem como das suas ambições de usar o gás como uma arma política”.

A Comissão [Europeia] exorta todas as partes interessadas, empresas e ministérios a encontrarem soluções imediatas de acordo com as decisões do Tribunal de Arbitragem de Estocolmo”, declarou ao “Vedomosti”, representante oficial da Comissão Europeia, comissária Anna-Kaisa Itkonen.

É de recordar que nos últimos 2 anos e 3 meses Ucrânia não compra nenhum gás russo.

Bónus
Donald Trump prorrogou por mais um ano a duração das sanções contra a federação russa, aplicadas pelo ex-presidente Barack Obama em 6 de março, 16 de março, 20 de março e 19 de dezembro de 2014, em resposta à agressão russa contra Ucrânia.

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