Aproxima-se o Ano Novo e as pessoas costumam comemorar esta festa na melhor
maneira possível. Enquanto uns fazem pedidos ao Pai Natal, outros capricham na
árvore de Natal, tentando agradar os miúdos e graúdos.
Espingarda de precisão Baret M82A3 (prenda recente às FAU)
Os ciborgues ucranianos que defendem o aeroporto de Donetsk (novo terminal)
não conseguiram obter a árvore de Natal, mas resolveram a situação, decorando
com as grinaldas uma árvore normal. Ao lado, no terminal velho, de momento em
poder dos terroristas, estes também capricharam com a sua árvore, colocando nela
as granadas e cartuchos de metralhadora. Mostrando inequivocamente quem quer a
paz e quem deseja a guerra, informa a TV ucraniana ICTV.
Árvore de Natal dos terroristas
Os defensores da Ucrânia que participam na OAT também gravaram um vídeo de
felicitações do Ano Novo. Os ciborgues, condutores dos blindados,
para-quedistas, engenheiros, funcionários dos serviços militares, os homens que
estão na frente da batalha e nos postos de controlo mandam as felicitações à
Ucrânia, aos seus conterrâneos, familiares, amados e companheiros. As gravações foram efetuados em Debaltseve, Pisky, das posições perto de
Lisichansk, Horlivka, diversos outros lugares, onde servem aqueles que defendem
Ucrânia contra a ameaça terrorista.
https://www.youtube.com/watch?v=673RfunkXbA
Os militares prometeram que irão defender a paz e a tranquilidade dos
ucranianos com os esforços redobrados para que os cidadãos pudessem celebrar o
Ano Novo de maneira calma e tranquila. Eles também desejaram aos
ucranianos “nunca presenciar aquilo por o que nós próprios passamos”,
prometendo que o inimigo não passará, quando eles estiverem de serviço.
Ajudar aos quem mais precisa!
A comunidade Angry iDar,
anuncia uma ação e um leilão de beneficência em apoio ao batalhão de assalto “Aydar”.
As regras são simples, oferecendo um determinado valor, o cidadão obtêm a
mina pessoal e nominativa de 120 mm, que o batalhão usará para cumprimentar os terroristas.
O cidadão fica feliz e os terroristas serão bem servidos! O valor inicial é de 100 UAH (6,33 USD), aceitam-se e agradecem-se as
ofertas maiores (Fonte).
Um ótimo Ano Novo à todos os ucranianos e amigos da Ucrânia!
“No One But Us”, grupo TARTAK, dedicado aos ciborgues de Donetsk:
No dia 30 de dezembro, o influente blogueiro e advogado russo, opositor ao regime
do Putin,Alexei Navalny,
foi condenado à três anos e meio de prisão, com pena suspensa, pela alegada prática
de crimes económicos.
Os irmãos Navalny: despedida...
Navalny, político populista, que combina a retórica anti-corrupção com a do
nacionalismo russo, viu a leitura da sentença antecipada, inicialmente essa foi
agendada para meados de janeiro de 2015. Tudo, para impedir que os seus
apoiantes protestem contra o julgamento com as motivações claramente políticas. No entanto, o atual poder político russo usou contra Navalny um clássico
esquema soviético: tomada de reféns (eram fuzilados na época de Lenine;
fuzilados e presos no Gulag com Estaline e apenas presos com Brejnev). O seu
irmão Oleg, co-réu no mesmo processo, foi condenado à três anos e meio de
prisão efetiva.
Cartazes do comício na praça Manezhnaia, agendado à 15 de janeiro de 2015
Os movimentos cívicos russos começaram preparar-se para uma grande
manifestação em Moscovo, agendada ao dia 15 de janeiro de 2015. Manifestação
que inquietou as autoridades russas, ao ponto, destes imporem o lockout (embora
desmentido e parcial) sobre o evento na imprensa e nas redes sociais russas e
até estrangeiras (tentativa do bloqueio das contas no Facebook e Twitter).
Revolução vs salada russa
Obrigados à reagirem, devido a antecipação do regime, os opositores ao
Putin reuniram-se em Moscovo, na segunda metade do dia 30, na praça Manezhnaia
e na rua Tverskaia, nos comícios, passeatas e manifestações, sem nenhuma
possibilidade de obterem as autorizações necessárias para estes eventos.
“Glória à Ucrânia!” e “Putin é um cadáver!”, foram as principais palavras
de ordem, gritadas pelos manifestantes em Moscovo (Manejka live). A música popular “La-la-la-la-la-la-la!”
também foi ouvida na área.
A polícia de choque OMON carregou sobre a multidão (de um modo soft),
empurrando as pessoas fora da praça Manezhnaia e detendo diversos cidadãos,
incluindo os jornalistas e até mirones na rua Tverskaia (foram detidos pelo menos
245 pessoas, colocados nos autocarros da polícia). Os manifestantes pacíficos
respondiam com os diversos novos slogans: “Heróis de prisão, os fascistas no
Kremlin”, “Glória à Ucrânia!”, “Putin é
um cadáver”, “Os russos e ucranianos são irmãos!”, “Putin, esqui, Magadão”, “Liberdade
à Ucrânia”, “Ano Novo sem Putin”, “Rússia sem Putin” “Liberdade aos presos
políticos”, “Crimeia não é nossa!”, “Fora o Primeiro Canal” (a TV de propaganda
estatal russa), informa TSN.ua
É de recordar que em 2008 Alexei Navalny apoiou a invasão russa na Geórgia,
recentemente mostrou-se favorável a anexação russa da Crimeia, dizendo que
“Crimeia não voltará ser ucraniana”.
As ações em apoio de Navalny decorreram em São Petersburgo, Saratov (sem
detenções) e Ekaterinburgo.
Em geral, a “revolução de salada russa”, o nome dado às atuais
manifestações anti-Putin pode ser resumido nestas duas frases:
Manejka
live: Com os gritos “Vergonha” não se consegue nada, rapaziada. Segurem as
mãos. Não se rendem.
#Манежка
Dmitry Ramzaev: openrussia.org,
rapazes, enquanto vocês (nós) não aprenderem virar os carros da polícia, vocês
(nós) serão sovados. Desculpem.
Maydan ucraniano: as diferenças são óbvias...
Um dos ativistas detidos, o jornalista Evgeny
Levkovich, escreveu no seu Facebook:
Mas sabem qual agora a primeira pergunta que (fazem) aos detidos na
polícia? “Há cidadãos da Ucrânia?” Os próximos, provavelmente, serão os judeus.
Então. Dado que eu não sou cidadão da Ucrânia (embora até é uma pena), e judeu
sou apenas em ¼, até agora aqui não me batem. Eu ate, tentarei, daqui à meia
hora, estar em direto na Espreso.tv.
Diretamente da polícia. Assim é anossavida.
Navalny, no metro, à caminho ao centro de Moscovo
Além dos diversos jornalistas temporariamente detidos, por exemplo, Ayder Muzhdabaev, foi detido o próprio Navalny, que nas vésperas escreveu no seu
Twitter: “A prisão domiciliária – isso sim, mas hoje eu quero muito de estar
com vocês. Por isso, eu também vou”.
As redes sociais russas manifestaram a sua visão artística da detenção do Navalny...
A rua Tverskaia, arredores da praça Manezhnaia, cerca de 3h de gravação (pode-se ver o momento da detenção do Navalny, os autocarros com os ativistas detidos, detenções em massa, etc.):
Na tarde do dia 18.12.2014, nos arredores da cidade de Schastia, na região
de Luhansk, em combate entre batalhãoAydare um grupo de terroristas, morreram dois voluntários ucranianos: Serhiy
Ovrashko (1976) – “Dinamite” e Aleksandre Grigolashvili (1982) – “Chuzhiy” (Estranho).
Serhiy Ovrashko, batalhão "Aydar"
Apesar do seu nom de guerre, Aleksandre Grigolashvili, não era nada
estranho aos ucranianos, nas vésperas da sua morte, ele escreveu ao presidente
Petró Poroshenko, pedindo a naturalização e obtenção da cidadania da Ucrânia...
Na Geórgia, Aleksandre Grigolashvili, foi escolhido como Homem do Ano 2014, na
categoria “Pergaminho de Ouro”, pela agência noticiosa georgiana GHN.
A cidade de Schastia é um local estratégico, onde o batalhão “Aydar”,
reforçado pelos voluntários da Legião Georgiana defende a Estação de Geração
de Calor e Energia, sofrendo os constantes ataques do terroristas que pretendem
ocupar a estação.
Os georgianos dizem que a guerra na Ucrânia é muito parecida com a guerra
que decorreu na sua terra, o agressor e inimigo é mesmo – Rússia. Recentemente,
os georgianos receberam a visita do vice-chefe do parlamento da Geórgia, Giorgi
Baramidze. Ele visitou os voluntários georgianos e estive com eles na frente de
combate, onde os terroristas violam permanentemente todos os acordos de cessar-fogo,
disparando contra as forças ucranianas.
«A semelhança está no facto do que o inimigo é mesmo — Rússia. A Rússia putinista
quer tomar os nossos territórios, nem Geórgia, nem Ucrânia, atacaram Rússia», —
frisou Baramidze. Ele também notou que na Geórgia respeitam os ucranianos e por
isso os voluntários georgianos vieram com muito gosto para partilhar as suas
experiências.
E ucranianos precisam da ajuda – os ocupantes russos reforçam
permanentemente o seu potencial em pessoal e equipamentos da guerra, aliciando
para suas fileiras os novos mercenários. Combatentes ucranianos contam que o
31º posto de controlo (região de Luhansk) quase diariamente é alvo dos
bombardeamentos terroristas.
«Desde o dia 9 de dezembro, regularmente, todos os dias somos alvos de
bombardeamentos. Porissoocessar-fogo é
unilateral. Ucranianos não respondem, pois não nós deixam responder»,
— conta o militar ucraniano «Yavir», citado pela página georgiana szona.org.
Os corpos dos voluntários Aleksandre Grigolashvili e Serhiy Ovrashko
tiveram as honras da despedida solene na Maydan (Praça de Independência) em
Kyiv:
Aleksandre Grigolashvili foi sepultado na sua terra natal, cidade de
Kutaisi, onde milhares de georgianos vieram se despedir do herói que tombou na
Ucrânia defendendo a liberdade de ambos os países (Vídeo). No enterro estavam presentes os seus companheiros do batalhão «Aydar».
https://www.youtube.com/watch?v=y-O84w3ph3U
Alguns dias antes da sua partida, Aleksandre Grigolashvili, foi entrevistado
pela TV ucraniana, onde explicava que está lutar na Ucrânia como voluntário
contra o inimigo comum:
Entre 24 de dezembro de
1979 à 15 de fevereiro de 1989 durou a ocupação soviética do Afeganistão.A
URSS perdeu cerca de 15.000 homens, as perdas afegãs são estimados entre 850,000–1,500,000
civis mortos, 5 milhões de refugiados fora do país, 2 milhões de refugiados
internos e cerca de 3 milhões de feridos.
E como qualquer conflito
bélico dá origem à guerra de propaganda, a guerra no Afeganistão inspirou os
artistas afegãos para criação dos diversos cartazes, usados na propaganda
patriótica e anti-soviética durante os nove longos anos de conflito.
O fotógrafo e repórter russo-americano, Sergei Loiko, publica as
fotografias da guerra russo-ucraniana e dos seus heróis, muitos deles anónimos,
graças à quem Ucrânia “ainda não morreu” em 2014 e não morrerá no futuro (as
legendas das fotos são do S. Loiko).
Foto@ "Antes da batalha. Campo da OAT"
Foto@ "Rapazes, tentem voltar..."
Foto@ "Momento de fumar após a limpeza. Sloviansk"
Foto de exibição@ "Limpeza em Sloviansk"
Foto@ "Alongamento". Para quem entende...
Foto de exibição@ "Guerra"
Foto de exibição@ "... E como dormiam lado-ao-lado os vivos, sem ter os sonhos..." Os militares ucranianos dormem após a batalha em Mariupol.
Hoje publicamos a 3ª e última parte da reportagem do jornalista português João
de Almeida Dias sobre a Belarus, a última ditadura da Europa. Desta vez, o
jornalista analisa diversos aspetos da resistência pacífica que os belarusos escolhem
para contrariar a ditadura. Pois como diz um dos heróis da reportagem: “E o
Salazar? Quanto tempo é que ele esteve no poder?” (* o título do artigo é da
responsabilidade deste blogue).
20 anos volvidos desde o seu início, combater o regime de Lukashenka parece
um esforço vão. Que força é essa que trazem nos braços, quando nunca vêem
mudança? Porque lutam, se não esperam surpresas?
Em 21 de junho de 2014, Ales Bialiatski (na foto em cima), foi libertado da prisão de alta
segurança de Babruisk, no sudeste da Belarus. À data, contava 1052 dias atrás
das grades. Bialiatski foi o último preso político a ser libertado na Belarus.
Ainda há sete homens atrás de grades por afrontarem o regime de Alexander
Lukashenka. É fundador e líder da clandestina Viasna
(Primavera), a maior ONG de defesa dos Direitos Humanos do país. É uma das
organizações mais ativas na denúncia dos podres do regime de Lukashenka — desde
constantes violações dos Direitos Humanos à manipulação de resultados
eleitorais. Bialiatski, que não falha a shortlist ao Prémio Nobel da Paz desde
2011, era a cara de tudo isto. Por isso, quando foi interpelado por dois
polícias à paisana junto à Praça da Vitória em Minsk em agosto de 2011, sabia
bem o que tinha pela frente. A acusação culpou Bialiatski de ter duas contas em
seu nome no estrangeiro — uma na Polónia, outra na Lituânia. Bialiatski, que
nunca confessou o crime, foi condenado a quatro anos e seis meses de prisão. O
seu apartamento pessoal e o escritório da Viasna foram confiscados pelas
autoridades.
Pior do que um homicida
Entre os seus 14 colegas de cela havia cinco homicidas, dois violadores e
dois toxicodependentes. É uma prática comum a todos os presos políticos na Belarus.
Ao metê-los lado a lado com criminosos deste grau, as autoridades querem
fazer-lhes crer que não há diferenças entre um ativista anti-regime e um
assassino. No caso de Bialiatski, quiseram que ele acreditasse que era até pior
do que os restantes prisioneiros — todos os meses, sem como nem porquê, era
alvo de participações por mau comportamento. De todos os reclusos daquela
prisão de alto risco, mais de dois mil, era Bialiatski quem encabeçava a lista
dos mais perigosos e problemáticos.
A TV e a língua
Michas Yanchuk é jornalista e chefe de redação em Minsk do primeiro canal de televisão
independente da Belarus, a Belsat.
Fundada a 10 de dezembro de 2007, esta estação conta desde o início com um
orçamento de 4,8 milhões de euros anuais financiados pelo governo da Polónia e
pela televisão pública polaca. Já o Governo belaruso recusa qualquer pedido de
licença da Belsat. Como resultado, além de independentes, também são
clandestinos.
Segundo Yantchuk, a Belsat serve para “dar cobertura a todos os assuntos
que não são falados na televisão do Estado”. Para ele, há uma distinção clara:
“Na Belarus não existe televisão pública. Aliás, na Belarus não existe nada
público, como se diz e pensa no resto da Europa. Aqui nada é público. É do
Estado.”
Outro ponto de honra da Belsat, além de ser o único canal de televisão
independente da Belarus é ser o único cuja transmissão é exclusivamente em… belaruso.
De resto, a televisão do Estado e a maior parte das rádios e jornais são em
russo. Não foi por acaso, mas antes por decreto. Em 1959, o então 1º Secretário
do PC da União Soviética, Nikita Krustchov, deixou bem claro a sua visão num
discurso em Minsk: “Quanto mais cedo falarmos todos russo, mais depressa
conseguiremos construir o comunismo.” Um ano depois, 87% dos livros publicados
na Belarus ainda eram escritos em belaruso. Em 1980, o número colapsou para
12%. Em 2011, vinte anos depois do fim da União Soviética, o número era 10%.
Alucinações no Império Russo-Chinês
Minsk é uma cidade entre tantas outras na região noroeste do Império
Russo-Chinês, uma enorme potência mundial que sempre existiu e sempre existirá.
A vida é um processo mecânico e maquinal, onde o trabalho é feito em prol do
bem comum, mesmo que aqueles que produzem em seu nome não se apercebam da sua
concretização. Em todo este território bi-continental a comunicação é feita numa
mistura de duas línguas antigas e arcaicas, o russo e o chinês. Não se sabe da
existência de outros idiomas neste planeta. Não há surpresas, nem imprevistos.
Segundo a IISEPS, a principal agência de estudos de opinião independente e
de referência em Belarus, menos de 5% de pessoas fala apenas belaruso no seu quotidiano.
Quanto ao russo, o número ultrapassa os 60%. No meio, estão pessoas que
alternam entre as duas línguas ou que então as misturam. Nesses casos, o russo
tem por hábito prevalecer.
No entanto no centro de exposições da Ў Gallery, a aula, conhecida como Mova na Nova (A Língua Novamente),
começa às 19h00 e prolonga-se durante três horas. Ao longo desse tempo, os
formadores tentam atingir um equilíbrio — todas as lições têm ensino de
gramática e vocabulário e discursos de figuras públicas que fazem questão de
falar naquela que consideram ser a verdadeira língua nacional. No final, há
sempre um concerto. As músicas são cantadas em belaruso.
Alesia Litvinouskaja,
linguista de 44 anos, é uma das fundadoras deste projeto que começou em janeiro
deste ano. “Quando começámos pensávamos que só os nossos amigos e familiares é
que vinham. Mas passado pouco tempo, posso dizer que não conheço 90% dos nossos
alunos.” A participação inesperada, explica, é a consequência de uma
necessidade de introspeção nacional. “Existe um grande problema de identidade
no nosso país. A maior parte das pessoas só sabe aquilo que não são: estão
certos de que não são russos. Mas, por outro lado, não sabem o que são ao
certo. Afinal de contas, o que é ser bielorrusso?” A pergunta é retórica, mas a
língua pode ser um bom início de resposta.
Slava, engenheiro de 65 anos, é um dos alunos mais assíduos do curso.
Nascido e criado numa aldeia, lembra-se de como chegou a ser humilhado quando
assentou malas em Minsk aos 18 anos, pronto a estudar na universidade. “Eu
cheguei cá e falava com toda a gente em belaruso. Mas não dava: falar belaruso
era uma grande vergonha. Na altura não tive outra opção e rendi-me ao russo.”
Falar a mesma língua do que Moscovo era uma chave para o sucesso. Como
resultado, Slava esqueceu-se da sua própria língua. Só a falava nas viagens
esporádicas à sua aldeia e, quando o fazia, trocava géneros, errava tempos
verbais e esquecia vocabulário. A vergonha agora era outra. Auto-imposta.
“Fiquei triste com isto, é como se tivesse perdido o meu passado.” Agora, com a
ajuda das aulas de belaruso, aonde vai sempre acompanhado da mulher, já domina
quase por completo o seu idioma de berço. “Agora até está na moda, veja bem!”,
exclama, sem esconder o espanto.
A lista negra e a catarse fora de fronteiras
Em 2004, Liavon Volski, músico de 49 anos e pioneiro do rock bielorrusso e
a sua banda de então, os NRM (sigla que significa literalmente a Nova República dos Sonhos), foram convidados para tocar num pequeno festival em Minsk que foi
marcado para assinalar (pela negativa) o décimo aniversário da primeira eleição
de Lukashenka. Os concertos ocorreram de forma pacífica e ficaram marcados como
um dia de protesto contra um político que já nesses anos não parecia querer
ficar apenas uma década no poder. Mas, no dia seguinte, os proprietários e
gerentes de todos os bares, pavilhões e salas de espetáculos do país receberam
uma lista com bandas que estavam proibidas de actuar em público. Estavam lá
todas as bandas daquele festival.
Anna Volskaya, manager e mulher de Volski, conseguiu resolver o problema.
“Achei que a lista negra já estava a fazer demasiados estragos e sentei-me para
ver se arranjava alguma solução. Então pus-me a olhar para o mapa e vi que
Vilnius [na Lituânia] é a capital europeia mais próxima. São só 170
quilómetros. Liguei logo para o embaixador lituano em Minsk, porque somos
próximos. Perguntei-lhe: ‘E se nós passássemos a fazer concertos na Lituânia?’”
A receita ideal foi encontrada. A embaixada propôs ajudar os belarusos que
tivessem um bilhete para um concerto do Liavon Volski na Lituânia a título
grátis. Mais: os 60 euros que são por norma cobrados a cada bielorrusso que
queira entrar no espaço Schengen seriam perdoados.
Não são concertos, são autênticos momentos de catarse. Como se, por
momentos, a ditadura deixasse de existir. Um dos pontos altos de cada
espetáculo é quando soam os primeiros acordes da música “Tri tcharapaqui”
(“Três tartarugas”). A letra e a melodia são de Volski, que escreveu a música
em 2000, quando ainda era vocalista dos NRM. Esta canção é daquelas cuja letra
está na ponta da língua de vários gerações na Belarus, quase como se fosse
património nacional. Em Minsk, é difícil encontrar quem não a conheça.
***
Lukashenka é Presidente da Belarus há 20 anos. Poucos arriscam adivinhar
quantos anos ainda tem pela frente. Para aqueles que dedicam a vida a
combatê-lo da maneira que melhor podem e conseguem, o pessimismo é a regra. Não
haverá surpresas.
Quando por fim acaba de falar com o Observador na cozinha da Viasna,
Bialiatski levanta-se e dedica-se a lavar as chávenas para chá que foram usadas
durante a conversa. Debruçado sobre o lava-loiças, sem se virar para trás,
inverte os papéis e lança uma pergunta-nos: “E o Salazar? Quanto tempo é que
ele esteve no poder?”
“36 anos”, respondemos-lhe.
“Vamos ver como é por aqui”, responde, com a voz abafada pela água do
lava-loiças, como quem não espera surpresas.
Ler o texto integral, 3ª parte: “Enquanto resistem, não esperam surpresas”:
Hoje, 26 de dezembro de 2014, decorreu a troca de prisioneiros entre Ucrânia
e os grupos terroristas “lnr” e “dnr”. A troca decorreu no território neutro
sob a fórmula de “todos por todos”: 152 ucranianos pelos 223 terroristas (de facto, foram libertados 146 ucranianos, entre eles 79 voluntários do batalhão “Donbas”; o mais velho dos ucranianos nasceu em 1952, o mais novo em 1991; outros 4 poderão ser livres no dia 27 de dezembro).
Nas vésperas foi acordado que os jornalistas não estariam presentes nesta
troca para não atrapalhar o processo. No entanto, os jornalistas russos
violaram o acordo, aparecendo no local, informou o secretário de imprensa do
Centro Unido de Coordenação de troca de prisioneiros do Ministério da Defesa da
Ucrânia, Kostiantyn Zahorodko.
Em Kyiv os ucranianos liberados foram recebidos pelo presidente Petró Poroshenko
Markian Lubkivskyi,
o assessor do chefe do SBU, confirmou que Ucrânia, por receio de complicar o
processo não permitiu o acesso dos jornalistas ucranianos ao local de troca:
“Seremos capazes de falar sobre o números exatos apenas quando o
procedimento terminar. Peço compreensão de todos, o procedimento está decorrer
nas condições muito difíceis”, – disse Lubkivskyi na entrevista à Hromadske.tv
79 voluntários do "Donbas" libertados já se encontram na sua base nos arredores de Kyiv
Aos quem quiser criticar Ucrânia pela troca “desequilibrada”, queremos recordar
a troca de Gilad Shalit
por 1027 palestinianos, decorrida em 2011. Também é verdade que até
recentemente se falava em mais de 500 ucranianos em poder dos terroristas, mas
não possuindo a plenitude de informação classificada não devemos se apressar em
críticas fáceis às autoridades da Ucrânia.
Os livros aos ciborgues
A ativista ucraniana Vira
Savchenko (a irmã da piloto ucraniana Nadia Savchenko), pede apoio para os
ciborgues que defendem o aeroporto de Donetsk. Desta vez, os ciborgues pedem
livros, as obras da poetisa Lesya Ukrayinka, Mykhailo Kotsiubynsky,
outros clássicos da literatura ucraniana. Quem quiser ajudar contactem Vira, aceitam-se
os envios via Western Union (país: Ucrânia; cidade de Kiev; à quem: Vira
Savchenko; ajuda aos amigos ou familiares).
Não esquecem que a sua irmã, Nadiya Savchenko, piloto ucraniana
capturada pelos terroristas e entregue por estes às forças de ocupação russas, desde
o dia 13 de dezembro está em greve de fome na cadeia moscovita, a sua única
condição para parar a greve é a sua imediata libertação da cadeia!
Volodymyr Rybak, assassinado pelos terroristas e Ihor Slavhorodskiy, de boné, janeiro de 2013
Aos 52 anos morreu o líder da organização regional de Donetsk do
partido VO Svoboda, Ihor Slavhorodsky. Nascido
em 1963 na cidade de Horlivka, ele foi mineiro, desde 2013 trabalhou como
assessor do deputado do seu partido ao Parlamento ucraniano. Durante os
acontecimentos do Euromaydan, Ihor Slavhorodsky coordenava os protestos na
região de Donetsk, após o início da OAT participou na criação da rede dos
voluntários de ajuda ao exército ucraniano.
Nos últimos dias na Internet ucraniana diversas pessoas defendem duas
linhas opostas de avaliação do ano 2014.
Uns escrevem que o ano foi bom: conheceram muitos amigos na Internet e no
voluntariado, compraram e entregaram diverso equipamento aos militares e
voluntários ucranianos que são a única defesa contra os terroristas russos. Outros dizem que o ano foi péssimo, pessoas morreram, militares morrem,
Ucrânia perdeu os seus territórios e está, parcialmente, sob a ocupação
estrangeira.
Sem pretender agradar os gregos e troianos, devemos dizer que o ano,
efetivamente, foi bom, 2014 é o ano em que os ucranianos começaram a retomar o
controlo sobre Ucrânia. E isso só pode ser ótimo. É claro, que é um caminho
difícil, muitos heróis caíram, muitos cairão ainda. Mas não existe nenhuma
outra maneira de devolver aquilo que pertence aos ucranianos por decisão
divina, a sua terra natal, Ucrânia.
Por tudo isso, sejam felizes e Feliz Natal!
A TV ucraniana Hromadske tv
publica as fotos da apresentadoras, cantoras e atrizes ucranianas que se
transformaram nas modelos de um calendário especial, cujas vendas serão revertidas
na ajuda aos necessitados na zona da Operação anti-terrorista (OAT):