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Imagem ilustrativa by AI Art & Universo Ucraniano |
No início de 1954, já após a morte de Estaline, no âmbito da expansão da sua influência na América Latina, KGB estabeleceu uma série de
residenturas ilegais, dedicadas ao trabalho ativo de busca e recrutamento, gestão das atividades de uma rede de agentes ilegais, envio regular as informações ao Moscovo.
Residenturas ilegais do KGB eram compostas por funcionários de carreira da secreta soviética que operavam no estrangeiro com documentos e identidades falsas, sem ligações
a instituições soviéticas e sem imunidade diplomática. Preparação prévia de um agente ilegal para ser colocado no estrangeiro poderia levar vários anos. A colocação
era realizada com a aprovação pessoal do chefe do KGB. Em muitos casos, os residentes ilegais eram casais formais; há um caso conhecido (do casal Filonenko) quando os filhos também eram colocados
no estrangeiro, juntamente com os seus pais.
A residentura do KGB no Brasil entre janeiro de 1955 a julho de 1960 era composta por residente “Firin” / “Zhango”, nome real Mikhail Filonenko, secundado pela sua
esposa, Anna Kamaeva-Filonenko, “Marta” ou “Elena”.
Mykhail Filonenko nasceu a 10 de outubro de 1917 na aldeia de Belovodska, na região ucraniana de Kharkiv, foi mineiro, durante 4 anos estudou na escola de aviação, mas
alguma coisa deu errado e em 1941 ele foi recrutado para NKVD de Moscovo e da região de Moscovo. Em 1941-1942, Filonenko foi comandante do grupo de sabotagem «Moskva», que atuou nas zonas ocupadas pelos
alemães na região de Moscovo.
Anna Kamaeva, nasceu a 28 de novembro de 1918, na região de Moscovo. O seu pai tinha origem checa, fato propositadamente ocultado pelos seus biógrafos russos. Foi operária na fábrica
de tecelagem, até que em 1938 foi recrutada pelo NKVD, onde começou a trabalhar no Departamento de Operações Exteriores.
Anna e Mikhail oficialmente se casaram em 1946, recebendo, de seguida, uma tarefa de continuar o seu serviço na área de inteligência ilegal. Em mais que diversos casos os
casamentos entre os agentes secretos soviéticos não se baseavam no amor, eram vistos como uma parte de sua identidade falsa, garantindo, por uma mão, a intimidade da vida amorosa segura dos agentes, por
outro lado, assegurando, ao Moscovo, que os agentes viveriam sob a vigilância permanente dos seus cônjuges.
Durante o treino especial Anna Kamaeva estudou rádio, espanhol e português. O conhecimento do português era-lhe necessário, uma vez que KGB preparava o casal para
a colocacao ilegal no Canadá, através de um assentamento preliminar no Brasil. Considerando as fracas capacidades linguísticas do casal dos agentes, Moscovo decidiu que estes fossem apresentados às
autoridades brasileiras como emigrantes checos que tinham vivido recentemente na China. O primeiro local de residência dos agentes no estrangeiro, seria a Checoslováquia, onde eles permaneceriam por alguns anos
para aprender a língua checa e o todo o meio sócio-cultural checo (não está calro se casal realmente viveu na Checoslováquia ou se todos os seus documentos «nativos» foram simplesmente
preparados pela secreta checoslovaca StB). Depois disso, eles realmente foram transferidos para a China, onde consolidariam as suas biografias recriadas. A partir daí, deveriam solicitar o visto de imigração
ao Brasil. De acordo com este plano, no final de 1951, Anna, o seu marido e o seu filho de quatro anos, Pavel, chegaram à China, onde se estabeleceram na cidade de Harbin, onde nas décadas 1920-40, vivia uma
grande comunidade emigrante, vinda do império russo. Em Harbin nasceu a sua segunda filha, Maria.
Na primavera de 1953, o casal Filonenko, agora com dois filhos pequenos, concluiu a sua legalização na China como imigrantes de origem checa, que viveram na China durante muito
tempo, vindos da Checoslováquia. Anna e Mikhail assumiram as suas identidades falsas: Mária Navotná (cidadã checa nascida a 10 de outubro de 1920 na Manchúria) e Joseph Kulda (nascido a 7
de julho de 1914 em Alliance, Ohio, nos EUA que terá emigrado para a Checoslováquia com a família em 1922). No consulado brasileiro em Hong Kong, obtiveram facilmente vistos de entrada, permitindo-lhes
residir permanentemente e trabalhar no Brasil.
O casal procurava as informacões (localização e equipamento das bases militares americanas, a condução das manobras estratégicas dos países
aliados dos EUA, relações entre NATO e América Latina, etc.), realizavam recrutamentos para operações clandestinas, supervisionavam as atividades de inteligência ilegal e enviavam regularmente
relatórios ao Moscovo. As fontes russas afirmam que os Filonenko conseguiram aproximar-se do círculo do presidente brasileiro Juscelino Kubitschek e, também, do ditador paraguaio Alfredo Stroessner.
No Canadá, e devido ao fuga do criptografo Igor Gouzenko (1919 – 1982), o KGB sovietico recebeu um duro golpe nas suas atividades de inteligência ilegal. Gouzenko desertou
no fim de 1945, levando consigo mais de 100 documentos que provavam a existência de uma vasta rede de espionagem soviética para roubar os segredos atômicos dos EUA.
Alem disso, entre 1954 e verão
de 1954, o membro da residentura ilegal sovietica, Yevgeni Vladimirovich Brik, agente do KGB “Hart”, passou a colaborar com os serviços secretos do Canadá (a RCMP), sob o nome de “Gideon” (Gideon-Hart
foi traido e entregue a embaixada sovietica, por dinheiro, por corporal James Morrison, oficial da RCMP). Dado que “Hart” sabia do plano do KGB de colocar no Canadá um casal dos agentes ilegais, vindos do
Brasil, conhecidos pelo nome do código “Hector”, Moscovo mudou imediatamente os planos. Os Filonenko ficaram no Brasil para gerir a residentura ilegal.
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Yevgeni Brik, 1953 (foto: Donald Mahar) |
Para re-orientar o casal Filonenko de alteração do plano aprovado para se mudar ao Canadá, Moscovo enviou uma mensagem pessoal, entregue por uma outra espiã ilegal,
“Pátria”, a comunista espanhóla e agente soviética África de las Heras Gavilán, a residente ilegal na vizinha Uruguai. Além disso, a tarefa de «Patria», que
era uma experiente operadora de rádio clandestino, incluía assistência no estabelecimento de comunicação rádio unidirecional fiável entre a residência dos Filonenko e Moscovo.
Aparentemente, para este efeito, Moscovo usou uma estação de rádio em forma de uma potente repetidora, dissimulada na frota baleeira soviética, que operava no Atlântico, na costa brasileira,
pelo que não houve problemas no envio de mensagens codificadas/cifradas.
Suspeita-se que “Patria” chegou a matar, envenenando, o seu marido, com quem se casou por ordem expressa de Moscovo, sem nunca o ver antes, o comunista italiano Giovanni Antonio Bertoni (1906-1964), quando este, agente secreto soviético e tenente-coronel do KGB, também conhecido com “Valentin Marchetti Santi” e “Marko”, se desiludiu com a realidade soviética e começou a criticar o regime comunista e o PCUS.
De acordo com os dados russos, um dos alvos do casal Filonenko era Henrique Batista Duffles Teixeira Lott (1894 – 1984), o militar e político brasileiro, que atingiu o posto de
marechal, foi Ministro da Guerra e chegou a concorrer à Presidência da República nas eleições de 1960.
Em 1957 Mikhail, que tinha o disfarce do corretor da bolsa de valores, sofreu um infarto, por este motivo, em Julho de 1960, a família Filonenko, retornou à URSS. Na União
Soviética, os filhos ficaram surpresos ao finalmente saberem que seus pais eram espiões soviéticos. Anna, nas suas próprias palavras, dedicou-se a eliminar a “influência da igreja católica
brasileira” sobre a educação dos filhos.
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Anna Kamaeva-Filonenko e os seus três filhos |
A sua casa e todos os bens móveis e imóveis no Brasil foram entregues ao contato apontado pelo KGB...