«Após a Primeira Guerra Mundial, a Alemanha foi declarada como a sua perpetuadora culpada, Áustria foi desmembrada. Os novos países jovens da Europa de Leste, com a aprovação dos vencedores, mergulharam no nazismo local.»
«O nazismo na Europa não começou na Alemanha. Começou com estes pequenos Estados. O nazismo alemão foi uma contra-reacção.»
«Tomáš Masaryk jurou ao Wilson em Versalhes que iria construir uma nova Suíça, mas em vez disso construiu Ruanda. Não é de estranhar que os alemães dos Sudetas quisessem fazer parte da Alemanha e apoiassem Hitler.»
Estas são algumas citações de um novo artigo da jornalista russa Yulia Latynina, considerada uma oposicionista do atual regime russo, que vive na UE (aparentemente no Chipre) e que costuma ser publicada em todos os meios de comunicação social russos, livres e liberais (neste caso o texto foi de tão forma tóxico, que aparentemente, as publicações liberais russas o rejeitaram).
A ideia principal do artigo é estabelecer o paralelo entre as ações da Alemanha de Hitler e da rússia de putin, justificando ambas.
Diz o texto que os malditos países da Europa de Leste simplesmente obrigaram Hitler a atacá-los, que eram tão nazis como os hitleristas, só que piores, e que tiveram o que mereciam. Ucrânia, consequentemente, também forçou putin à atacá-la. O próprio putin fala sobre isso o tempo inteiro, repetindo como um mantra: «fomos forçados». No texto Latynina simplesmente amplifica este tipo do discurso de uma forma mais detalhada.
A mais descabida, de todas, foi a comparação da Checoslováquia com Ruanda – um país onde até 1 milhão de pessoas foi massacrado em cerca de 4 meses. A estrela do jornalismo liberal russo afirma, com toda a seriedade, que o mesmo aconteceu com os alemães dos Sudetas na Checoslováquia nas décadas de 1930-40.
Como convém à uma boa propagandista, Latynina usa alguma base fatual, embora constantemente troca o horisonte temporal, passando consequências pelas origens. Por exemplo,em 1945, e já após o fim da II Guerra Mundial, Checoslováquia adoptou o chamado «decreto Beneš», que ordenou a expulsão de 2,5 milhões de alemães étnicos do país. O decreto despojava os alemães das suas propriedades e expulsaram-nos pelo seu apoio à anexação da área dos Sudetas por Hitler no período que antecedeu a II G.M. Estima-se que cerca de 25.000 a 30.000 pessoas, na sua maioria alemães étnicos, morreram durante as expulsões. Ao mesmo tempo, estima-se que 75.000 checos tenham morrido em campos de concentração e de trabalho forçado sob o domínio nazi. Além disso, cerca de 300.000 judeus checos foram levados para os campos de extermínio nazi.
Mas sete anos antes, nas vésperas da anexação dos Sudetas pela Alemanha nazi, em setembro de 1938, aconteceu a revolta alemã dos Sudetas, uma rebelião armada dos alemães étnicos dos Sudetas contra as autoridades checoslovacas na Sudetenlândia, apoiada por uma acção organizada orquestrada pelo Partido Alemão dos Sudetas (SdP), presidido por Konrad Henlein. A rebelião resultou em cerca de 200 KIA, WIA e MIA do lado alemão e 110 mortos e 2.029 capturados do lado das forças checoeslovacas.
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Os alemães étnicos à atacar e capturar as forças checoeslovacas no decorrer da revolta dos Sudetas, setembro de 1938 |
A conclusão à que Latynina chega é que a rússia não deve se arrepender, nem ser responsabilizada pela invasão da Ucrânia. A jornalista russa argumenta, que à título de comparação, enquanto os veteranos da Wehrmacht estiveram vivos, eles não se arrependeram dos seus atos do passado e foram capazes de fazer renascer uma Alemanha forte. Em contrapartida, a actual geração de alemães foi ensinada à arrepender-se – e agora a Alemanha vive os graves problemas económicos.
Por essa, e por muitas outras, que os ucranianos rejeitam constantemente algumas tentativas ocidentais de impor a «pacificação obrigatória» nas relações da Diáspora ucraniana com as comunidades emigrantes russas. No entanto, os ucranianos simplesmente não percebem a pertinência de quaisquer coolaboração com os «outros putin». Pois, como mais de 100 anos atrás dizia o escritor, político e estadista ucraniano, de tendências socialistas, Volodymyr Vinnychenko: «O democrata russo termina onde começa a questão ucraniana».
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