Igor Gouzenko na TV canadense em 1966 |
Ucraniano de origem, Igor Gouzenko (1919 – 1982),
era um criptógrafo na embaixada soviética no Canadá, quando desertou no fim de
1945, pedindo asilo político e levando consigo mais de 100 documentos que provavam a
existência de uma vasta rede de espionagem soviética para roubar os segredos
atómicos nos Estados Unidos da América.
A deserção de Gouzenko
revelou um dos maiores casos de espionagem da história mundial e os factos consequentes
à sua deserção marcaram o início da Guerra Fria.
Igor Gouzenko em 1946 |
Igor Gouzenko expôs os
esforços soviéticos para roubar os segredos nucleares e as técnicas de implantação
dos “agentes adormecidos”. Muitos historiadores acreditam que o “caso Gouzenko”
desencadeou o início da Guerra Fria. Assim considera o historiador Jack
Granatstein que afirma que “caso Gouzenko foi o início da Guerra Fria na
opinião pública” ou o jornalista Robert Fulford que escreveu: “estou
absolutamente certo de que a Guerra Fria começou em Ottawa”. O jornal The New
York Times descreveu as ações de Igor Gouzenko como tendo “despertando o povo
da América do Norte para a magnitude e o perigo de espionagem soviética”.
Igor Gouzenko, 1949 |
A queda do Titã, romance publicado em 1954 |
Recebendo a informação do
que em breve será chamado de volta para a União Soviética, Igor Gouzenko toma a
decisão dramática de não voltar ao “paraíso socialista”, tornando-se um dos
primeiros “não retornados” soviéticos após o fim da II G.M. No dia 5 de
setembro de 1945, ele leva toda a informação que tem, são pelo menos 109 (ou
105) documentos pormenorizados e deserta para Ocidente, na companhia da sua
esposa.
Na polícia, para onde
ele se dirigiu, se recusam à acreditar nas suas palavras e o colocam na rua. O
mesmo acontece num dos jornais da Ottawa, onde jovem ucraniano apresentou uma
pasta inteira dos documentos secretos. Ao mesmo tempo, o desaparecimento do
criptógrafo foi notado pelo MGB que enviou quatro operativos à sua residência para
raptarem ou neutralizarem o casal Gouzenko.
O apartamento dos Gouzenko, 2ª piso direito, à olhar para a estrada, foto de 2007 |
Mas os vizinhos alertaram a
polícia sobre a chegada dos suspeitos estranhos na casa dos Gouzenko. A imunidade
diplomática não permitiu a sua detenção, mas obrigou os à abandonar a residência.
E o Ministério da Justiça do Canadá finalmente recebe Igor e leva à sério os
documentos apresentados por ele.
Os documentos chocaram
a elite política canadense e depois a americana. Igor Gouzenko denunciou a
inteira rede de espionagem soviética, implementada no continente americano, que
continha os nomes dos 38 agentes, 22 dos quais foram condenados às diversas
penas da prisão, além, do possivelmente, levar posteriormente, o casal Rosenberg, à pena capital. O relatório da Comissão de Inquérito, baseado nos
documentos apresentados pelo Igor Gouzenko continha 733 páginas.
Acredita-se que a sua ação paralisou o funcionamento da rede de espionagem
soviética no Canadá por cerca de 15 anos.
Muitos historiadores
consideram que a Guerra Fria começou não com o famoso discurso do Winston
Chuchill em 5 de março de 1946 no Westminster College na cidade de Fulton, mas
com a simples escolha do criptógrafo Igor Gouzenko, escolha essa que mais tarde
lhe serviu do título do livro biográfico “This Was My Choice” (Aquela foi a
minha escolha).
O bebé que permitiu a
fuga
A fuga do Igor Gouzenko
foi possibilitada pela coincidência fatal (para os soviéticos) de dois fatores
independentes. Uma das características habituais dos criptógrafos soviéticos
colocados no estrangeiro era o seu desconhecimento quase obrigatório das línguas estrangeiras.
Igor falava inglês. Depois, eles nunca saíam (e continuam à não sair) das
paredes da sua embaixada. Mas o seu filho recém-nascido, Andrey, chorava muito e a
esposa do adido militar, o tal Zabotin, deu ultimato ao marido: ou eu, ou os
Gouzenko. Assim a família recebeu a permissão de viver fora da embaixada
soviética.
Evelyn Wilson, a filha do Igor e Svetlana Gouzenko |
Após o sucedido, Igor
Gouzenko viveu durante 37 anos no Canadá, até a sua morte de ataque cardíaco em
1982. Ele, eventualmente morou, com a família em Toronto sob o nome assumido de
George Brown, os seus 8 filhos e 16 netos durante muito tempo acreditavam que os seus pais eram emigrantes checos. Nos anos que se seguiram, Igor Gouzenko por
diversas vezes apareceu em público, por exemplo, para promover os seus livros,
embora sempre no anonimato, usando o capuz para esconder o rosto que lhe rendeu
a alcunha de “Homem-capuz” (escreve Oleksandr
Kharchenko).
A sua esposa, Anna (Svetlana),
morreu em 2001 e só em 2002, a família, hoje espalhada entre Canadá e pelos EUA,
colocou uma pedra lapidar, para marcar a sepultura do casal. Nos últimos anos da sua vida Igor Gouzenko se dedicava à pintura, a sua esposa trabalhou no ramo imobiliário.
O seu segundo livro,
desta vez de ficção, “The Fall of a Titan” (A queda do Titã), lhe rendeu o Prémio
do Governador-geral (1954) e a nomeação para o Nobel de Literatura em
1955. Em 2 de março de 1956 o Colégio Supremo do Tribunal Militar da URSS condenou Igor Gouzenko à morte, através do fuzilamento, mesmo na ausência do acusado.
Placa em memória do Igor Gouzenko |
Em junho de 2003, a
cidade de Ottawa e em abril de 2004, o governo federal canadense colocaram as placas
memoriais no Parque Dundonald para honrar a memória do Igor Gouzenko. Foi à
partir deste parque que os agentes da Polícia Real do Canadá vigiavam o
apartamento dos Gouzenko do outro lado da rua, o alvo permanente do pessoal da
embaixada soviética.
“Caso Gouzenko” no
cinema
A história do “caso Gouzenko”
rendeu em 1948 um excelente filme de espionagem, chamado “The Iron Curtain” (A
Cortina de Ferro). A película foi estrelada por Dana Andrews e Gene Tierney (nos
papeis de Igor e Anna Gouzenko), e foi filmada nas localidades reais
canadenses, além de ter sido baseada nos documentos originais, que Igor conseguiu
retirar da embaixada soviética.
Ler mais sobre o caso
(em inglês):
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